1. Como ainda não fez um ano e estamos em plena feitura do Orçamento, António Costa não tem hipótese de remodelar e tem a obrigação de segurar todos os seus membros, incluindo os secretários de Estado envolvidos na polémica dos convites da Galp, a qual – diga-se – foi empolada por, na altura, não haver outra matéria tão combustível. Bastou chegarem os incêndios para o tema desaparecer, mas voltará sempre que se discutirem questões relacionadas com a energia.
É verdade, porém, que no caso em apreço Costa teve um comportamento diferente do que mostrou com João Soares, quando lhe indicou subtilmente a porta de saída depois de ameaçar dois cronistas com uns tabefes. Todavia, João Soares não pertencia ao núcleo duro do primeiro-ministro. Estava lá para cobrir uma área política e torná--lo mais fácil de controlar. Com Rocha Andrade, o homem do fisco, a coisa é diferente. Costa precisa muito dele. Até porque é pelo lado do aumento da receita dos impostos que as contas se têm equilibrado, esperando-se novas habilidades no ramo no próximo Orçamento.
E esse mérito não é certamente do ministro Mário Centeno, que não acertou uma até agora. Em rigor, Centeno apenas mostrou que é boa pessoa e mau ministro, pelo que o melhor era António Costa remetê-lo para a vidinha no Banco de Portugal, onde certamente Carlos Costa não o receberia de braços abertos, depois das polémicas à volta do Novo Banco e do Banif. Centeno é uma espécie de Vítor Gaspar ao contrário. Tem o mesmo ar de marciano perante algumas questões, e qualquer dia também chega à conclusão de que fez tudo às avessas e que mais vale retirar-se antes que o barco vá ao fundo, seguindo Gaspar, que deixou o país de rastos como o próprio reconheceu numa carta de fuga. Mas para já, nem Costa dispensa Centeno, nem este pensa em desertar.
A via de saída não caía mal a outros três ministros, pelo menos. O da Educação em primeiro lugar, pois é expectável que, com o recomeço das aulas, volte a confusão, apesar de o PCP travar Mário Nogueira para não destruir o equilíbrio político. Há depois a ministra da Administração Interna. Para a remover bastaria a atuação desastrada que teve nos fogos de agosto. Mostrou não ter o calo e a experiência política requeridos para uma função que não permite estagiários. Haveria depois o ministro da Economia. Aqui, de duas uma: ou a criatura é genial e está discretamente a preparar uma coisa nunca vista, ou é uma verdadeira inexistência, apesar de ser pessoa de bom trato. Seja lá o que for, a verdade é que Costa está sem margem para mexer nesta figura que tem tudo de erro de casting.
No mínimo, estes seriam os ministros de uma remodelação que é obviamente necessária, mas que não acontecerá. À passagem, poderia haver mais uma ou outra mexida. Sobretudo seria útil a entrada de um número dois verdadeiramente forte, porque é óbvio que o governo tem essa lacuna. Santos Silva não faz as vezes. Eduardo Cabrita seria melhor. Por agora, a oposição sabe perfeitamente que não é tempo de exigir mexidas no governo. É que elas nunca se fazem a pedido do adversário e, depois de feitas, o comentário deste é sempre o mesmo: pior a emenda que o soneto.
2. Passos Coelho reentrou como saiu. No Pontal fez o mesmo tipo de críticas e traçou um cenário pessimista e realista da situação portuguesa. Inteligente, apelidou a coligação de nova troika, chavão que pode pegar. O problema, porém, é que hoje poucos acreditam que com ele as coisas estariam melhor. As sondagens dão mais margem de confiança a Costa, o que significa que a coligação anterior é tida por responsável pela situação negativa que vivemos, em boa parte resultante de se ter varrido muito lixo para debaixo do tapete em nome de uma ficção chamada saída limpa, apregoada como um novo 1640. O mais impressionante desta rentrée social-democrata foi o relato dos repórteres sobre a falta de entusiasmo militante. Para encher o recinto promoveram-se excursões de centenas de quilómetros, mais ou menos de borla. Estamos longe do povo laranja que se mobilizou tantas vezes, constituindo uma máquina impressionante. Depois da campanha de Marcelo, dificilmente as coisas voltarão ao que foram nesse aspeto. É melhor os partidos, nomeadamente o PSD, terem em atenção as novas circunstâncias.
3. Na sequência do texto da semana passada, foi esclarecido através do BPI que todos os quadros que de lá saírem para ir para a CGD o farão de forma definitiva, sem manter qualquer vínculo com a instituição. Era o mínimo que se exigia. Pena que não tenha sido o governo a esclarecer a situação. Entretanto, há nota de que o BCE levantou sérios obstáculos à nova e gigantesca composição da administração da CGD, coisa que se admitia no texto de há oito dias. Estamos perante mais uma atuação desastrada do titular das Finanças, a quem falta tato político e financeiro.
Jornalista