Os cartéis de droga, a criminalidade e a corrupção tornam o México um país problemático para fazer negócios. E mesmo a maior empresa do país, a petrolífera estatal Pemex, que recrutou Paulo Portas para consultor, não está imune a dificuldades. O grupo lida diariamente com roubos de energia de gangues organizados e estas perdas afetam os já fracos resultados da empresa, que dá prejuízos vai para quatro anos consecutivos. Endividada e com infraestruturas envelhecidas, os acidentes em plataformas ou fábricas da empresa sucedem-se. Só desde 2012 contabilizam-se mais de 100 mortos, numa média de um acidente por ano.
O último foi no início de 2016. Uma explosão num complexo petroquímico da empresa fez 28 mortos no estado de Veracruz, no leste do país. A vaga de acidentes em plataformas ou fábricas do grupo deteriorou a imagem de uma das maiores petrolíferas mundiais.
Corrupção e excesso de peso “A empresa é amplamente vista como tendo excesso de pessoal, estando crivada de corrupção e tendo falta do know-how tecnológico necessário para encontrar e explorar novas jazidas de petróleo nas águas profundas do golfo do México”, escreveu o “Wall Street Journal”, no rescaldo de um outro acidente, em 2013, que matou várias dezenas de pessoas.
“A explosão é um reflexo do envelhecimento da infraestrutura e da falta de protocolos de segurança da Pemex”, afirmou ao jornal Alejandro Schtulmann, analista da consultora Empra.
Apesar de ser uma das maiores petrolíferas mundiais, a Pemex tem uma estrutura pesada e um desempenho inferior ao das empresas congéneres a nível mundial.
Com seis refinarias, oito polos petroquímicos e nove complexos de processamento de gás, é a maior empresa do México e está presente em todo o país. Tem 83 terminais terrestres e marítimos, oleodutos, gasodutos, embarcações marítimas e 10 mil estações de serviço no território.
Representa um terço das receitas fiscais do Estado, mas tem revelado uma fraca capacidade financeira que deixa os investidores estrangeiros preocupados. Os limites impostos pela tutela nos preços a que são vendidos os combustíveis no país são outra fonte de prejuízos do grupo. Depois do acidente em abril, o Estado mexicano injetou 1,4 mil milhões de dólares na empresa, mas com os preços subsidiados, como escreveu a Bloomberg, “a injeção de dinheiro na Pemex desapareceu nos bolsos dos automobilistas mexicanos”.
Sem refletir nos preços finais o custo das operações, a margem da empresa esvai-se, mas a vontade política de liberalizar os preços é reduzida. “O custo político de maiores aumentos de preços da gasolina teria reflexos nas eleições estaduais do próximo ano e nas eleições presidenciais de 2018. Seria catastrófico para o partido PRI [que está no poder]”, disse à Bloomberg Carlos Bravo, analista político de um centro de investigação mexicano.
Qualquer subida de preços seria deitar gasolina na fogueira. A escassez de combustível em algumas estações de gás no estado de Chihuahua provocou, no mês passado, confrontos entre manifestantes e polícia. Noutro protesto, professores sindicalizados bloquearam a entrada da refinaria da Pemex em Salina Cruz – a maior do México – contra a política de educação. Nas regiões mais problemáticas do país, os roubos de energia por gangues organizados são uma constante fonte de prejuízos.
Reforma do setor O presidente Enrique Peña Nieto, no poder desde 2012, não esconde que há problemas na maior empresa energética do país. Deu início a uma liberalização do setor – não nos preços – e permitiu que outras empresas, além da estatal, pudessem importar energia do exterior, mas os constrangimentos estruturais do mercado mexicano desincentivam os investidores estrangeiros de apostar no país. Sob pressão das agências de rating e da dívida galopante, os planos da Pemex são, além de reduzir custos, encontrar novas parcerias internacionais e vender ativos para obter algum tipo de encaixe financeiro – tarefas em que o novo consultor Paulo Portas poderá ajudar.