Num primeiro contacto entre o i e Bruno Aleixo através do Facebook, a personagem fictícia canina – criada em 2008, que já foi um ewok da Guerra das Estrelas mas que teve de mudar de corpo, para não suscitar qualquer tipo de problemas com a Lucasfilm – há uma dúvida que persiste.
“É para falar comigo ou com os garotos que trabalham para mim?”, afirmou Aleixo, natural de Coimbra, mas com raízes no Brasil, algo que continua sem explicar – ainda que o seu email acabe em “br”. Esclarecidas as dúvidas, este cão de 58 anos, com voz fina, que tem sempre razão – tem-na desde o “Programa do Aleixo”, que estreou há oito anos na SIC Radical e virou fenómeno um pouco por todo o país e até na terra do samba – falou sobre o seu novo programa, o “Aleixo Olímpico”, que começou no passado dia 29 de junho na Antena 3.
Sítio ideal para Bruno fazer uma reflexão, ao lado de Busto, Renato Alexandre e Bussaco, sobre os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, com dois episódios novos de segunda a sexta-feira. Desta entrevista ficámos a saber que Aleixo apoia a equipa de refugiados, que dava leitão e cavala cozida aos atletas olímpicos e que não está nada preocupado com o estado em que se encontra o Rio de Janeiro. Sobre modalidades que o marcaram na vida?
O jogo do pau, que, no entanto, não é para já desporto para ser jogado nestes Jogos. O Gana (Guionistas e Argumentistas Não-Alinhados, que não se confunda com o país), criado por João Moreira, João Pombeiro e Pedro Santo, são os obreiros desta personagem, e provavelmente os “garotos” a que Bruno se referia. Talvez o próximo grande evento desportivo sirva para uma outra conversa com eles. Para já, fiquemos com Aleixo.
Porque decidiu começar um novo programa, o “Aleixo Olímpico”, que estreou no passado dia 29 de junho?
Como o programa é sobre os Jogos Olímpicos do Rio, pareceu-me que talvez fizesse sentido começar na altura dos Jogos Olímpicos do Rio. Foi assim que decidi.
No seu programa, tem um painel com alguns dos seus amigos – o Busto ou Renato Alexandre. Para si, quem é que percebe mais de Jogos Olímpicos (parece ser o Busto pelo que se ouve nas emissões, mesmo não podendo competir)?
Entre os dois? É ela por ela, copiam tudo da internet. O Busto disfarça melhor, sempre se dá ao trabalho de mudar o texto. O Renato, às vezes, até repete textos em brasileiro. Diz “esporte” e assim.
O Homem do Bussaco é outra das presenças assíduas nos seus programas. Ele disse uma vez na sua apresentação que a sua principal qualidade é “a força”? Porque é que ele não tentou os mínimos para competir no halterofilismo por Portugal?
Tentou uma vez, em 1976. Mas foi fazer os testes todo nu e não o deixaram participar. Ele tem sempre muito calor, não gosta de vestir aqueles maiôs.
Vamos falar agora da sua ligação ao Brasil. O Bruno é um verdadeiro sucesso na terra do samba, tal como outras figuras como os humoristas Ricardo Araújo Pereira ou o César Mourão. Porque não tentar uma carreira lá ? Fez inclusivamente alguns programas lá numa viagem que fez, para tratar de umas heranças, procurar o primo do Bussaco e visitar a avó.
A principal razão é o facto da minha cama ser em Coimbra e eu preferir dormir na minha cama. E fazer cocó na minha sanita. Para mim, isso é o verdadeiro sentido da vida. Quanto ao César e ao Araújo, são comediantes e atores. Eu sou comentador/apresentador. Não percebo porque continuam a meter-nos no mesmo saco.
O Seu Jaca é outras das personagens que surgem nos seus programas. Ele não o convidou para passar lá estas próximas duas semanas em que decorrem as Olimpíadas?
Não precisa de convidar. Estou convidado por defeito. Por acaso, neste ano, subarrendei o quarto que tenho na pensão do Jaca. Pedi para meterem uns beliches e, neste momento, estão lá 8 holandeses.
E afinal é emigrante brasileiro ou não? Fale-me sobre essa ligação familiar com o Brasil.
Não sou, nasci em Coimbra. A ligação familiar ao Brasil é: tenho lá família.
Muito bem, está esclarecido. Conhece algum “mito urbano rural”, que muito gostava de falar no “Programa do Aleixo”, sobre o Brasil?
Lá é diferente, não há urbano rural. Há os mitos urbanos, que envolvem palhaços a roubarem rins, pipocas com droga, etc. E os rurais, com cetáceos que tomam forma de gente para engravidarem mulheres virgens. São estilos bem diferentes.
Falemos de um detalhe que suscita muita curiosidade nos seus fãs. Tem um grande ódio pelo Palmeiras. Explique-me.
É preciso explicar? Torço para a Lusa, homem. O Palmeiras é rival. É dos italianos. Palmeiras e Lusa jogam o Clássico das Colónias. Era o Portugal x Itália de São Paulo. Era e é. Até parece que é a primeira vez no mundo que um adepto odeia o clube rival… Palavra de honra, homem, não seja como aquelas mulheres que andam no yoga. Ódio é saudável, desde que haja justificação e moderação.
Viremos agora a conversa para o “Aleixo Olímpico”. Fizeram um programa sobre remo, râguebi seven, esgrima, tiro ao alvo, judo e tiro com arco. Vai haver um programa sobre todas as 28 modalidades?
À hora em que esta entrevista sair, já foram emitidos uns quantos mais. O senhor jornalista vai passar por burro.
Da comitiva portuguesa, a Ana Rente, dos trampolins, é de Coimbra. O Bruno também é de lá. Coimbra afinal não é só uma cidade só de “doutores”…
Não é, não. Há cá outras profissões. Polícias, padeiros, bombeiros… Acho que até há um bispo.
Este ano Portugal leva uma comitiva de 92 atletas. Telma Monteiro, Nélson Évora, Patrícia Mamona e tantos outros. Qual é que acha que pode ganhar uma medalha?
Poder, acho que podem todos, se ficarem num dos três primeiros lugares. Costumava ser assim, pelo menos.
Desses atletas portugueses quem é que gostava de entrevistar? E qual seria uma das perguntas?
Ana Rente do Trampolim. E “onde é que se pode comprar um trampolim em Coimbra e quanto custa, mais ou menos?”. Respetivamente.
E dos outros países, quem é que quer mais ver?
Aquela equipa de refugiados. Vou torcer por eles. Mas não devem ter grandes hipóteses… se fossem bons, os países de acolhimento tinham naturalizado logo, para ganharem medalhas. Assim, empurram logo a batata quente para o comité olímpico internacional. Pagar viagens e assim.
Já teve um programa sobre futebol, o “Copa Aleixo”, um desporto que gosta desde infância. Qual é o outro desporto que o marcou na sua vida? Conte-me uma história relacionada com ele.
Jogo do pau. Uma vez, era pequenito, levei com um pau nas fuças. Marcou-me para sempre. Nunca mais me esqueci. Desde então, prefiro ser eu a dar.
O Rio de Janeiro tem sido notícia pelos vários problemas, na aldeia olímpica, nas ruas pela falta de insegurança, o vírus Zika. O que pensa sobre isto tudo?
O Rio de Janeiro é sempre notícia por causa de bagunça e mosquitos. Não percebo a admiração.
Não o admira, portanto. Agora mudemos para alguns dos seus gostos pessoais. O Gregorio Duvivier elogiou-o recentemente quando esteve em Portugal. Disse que “amava” ver os seus episódios no Youtube. É admirador da Porta dos Fundos? Se sim explique, se não, diga-me outro grupo de comédia que goste no Brasil, mesmo que não se classifique como um.
Há muito brasileiro que diz que ama tudo. Isso, normalmente, é mais a cachaça a falar do que outra coisa. O carioca, por exemplo, convida sempre para jantar em casa dele no dia a seguir, mas depois não atende o telefone. Eu gosto da Porta dos Fundos, mas aquilo é comédia e comédia não é muito a minha praia profissional. Já disse que sou comentador. E a nível de comentadores, gosto de Cerginho & Daniel, do Falha de Cobertura.
E grupos musicais brasileiros, algum que goste especialmente?
Henrique e Juliano e João Neto e Frederico.
E afinal o jogo dos 50 pratos sempre vai dar um livro de culinária?
Mas que internet é que consultou para fazer esta entrevista, homem de Deus? O livro já foi lançado e foi um grande sucesso. Já só se encontra no mercado negro. Ou comprado diretamente a mim, mas por uma nota preta.
Que pratos punha nessa lista para dar aos atletas olímpicos?
Leitão ou cavala cozida – conforme o seu desempenho. Se for medalha de ouro, até pode repetir o leitão.
Se estes jogos fossem em versão “Street Fighter”, o Bruno ganhava a medalha de ouro?
Versão “Street Fighter”, como assim? Tipo um boneco do “Street Fighter” a saltar para a água? E a andar a cavalo? Que porcaria de jogo. Nem sequer jogava.