Hotéis. Onde o luxo já dominou e agora estão ruínas

Hotéis. Onde o luxo já dominou e agora estão ruínas


Para muitas unidades hoteleiras, o glamour de tempos passados passou e acabaram por ficar abandonados à sua sorte. Para trás fica uma história de luxo e de investimentos, muitas vezes, elevados. Falta de clientes e, acima de tudo, de dinheiro, acabaram por ditar o fim destes projetos.


Projetos mais ou menos luxuosos, inaugurações mais ou menos estridentes, o que é certo é que muitos acabam por ter o mesmo fim: o abandono. O maior exemplo disso é o hotel Monte Palace, em São Miguel nos Açores, que ainda esta semana ganhou uma nova vida em forma de arte urbana pelas mãos do artista catalão Javier de Riba.
Situado à beira de uma estrada de acesso à Lagoa das Setes Cidades, abriu portas em 1989 e, menos de dois anos depois, estava a fechar, por falta de clientes e de dinheiro. As causas apontadas para este insucesso são muitas: desde o nevoeiro que, muitas vezes, tapa a vista para as lagoas até ao investimento de luxo que foi realizado naquele espaço de cinco estrelas.

A unidade hoteleira contava com 88 quartos – dos quais uma suíte presidencial, 4 grandes suítes de luxo, 4 quartos duplos com saleta, 27 quartos duplos e 52 suítes Juniores – dois restaurantes, três salas de conferência, um cabeleireiro, uma tabacaria, um banco. O hotel também tinha uma discoteca, um café, um bar e empregava 130 pessoas. Ou seja, um verdadeiro luxo para a época.

Mas quando, em 2011, o segurança que guardava o hotel deixou de ir, por falta de pagamento, o Monte Palace acabaria por ser totalmente pilhado. O espaço acabou por ficar ao abandono: escombros, escassos restos de alcatifa no chão, pedaços de papel de parede corroído ou uns quantos azulejos, já que a maioria do material foi pilhado.

O espaço está agora a ser vendido no OLX e no Imovirtual por quase 1,5 milhões de euros e a descrição do anúncio não mente em relação às atuais condições do hotel: “edifício para recuperação e a necessitar de obras de recuperação na sua totalidade”.

Castelos “assombrados” A verdade é que este não é um caso isolado, apesar das dimensões dos outros projetos não serem tão relevantes como o deste hotel nos Açores. O complexo termal dos Cucos, em Torres Vedras é mais um desses exemplos. Inaugurado a 15 de maio de 1893 destinava-se a curar doenças como reumatismo, problemas de pele e nutrição. Ao folhear o registo dos doentes desde 1893 é possível encontrar nomes como o do antigo Presidente da República, António José de Almeida e de Egas Moniz, antigo Prémio Nobel da Medicina. 

Atualmente, todas as dependências do complexo termal encontram-se encerradas: balneário, capela, mina de lamas, restaurante e pensão.

O mesmo exemplo é seguido pelas termas Radium, um sítio em Sortelha, na Guarda, que no início do século XX era um hotel e uma referência para médicos e doentes. As Águas Radium, da Serra da Pena, teriam efeitos no tratamento da hipertensão arterial, em doenças do coração e rins e também no reumatismo. 

No entanto, deste espaço resta apenas a sua aparência de castelo abandonado apesar de manter a sua imponente construção em granito, que terá tido nos seus tempos áureos 90 quartos. O seu último proprietário teria em mãos um projeto para construção de um hotel de luxo com campo de golfe e piscinas e mais tarde voltaria à atividade termal. Mas nunca passou de intenção. 

Valorizar património A pensar na reabilitação dos edifícios, o governo lançou, esta semana, o programa “Valorização do Património”. Ao todo serão 30 os edifícios públicos, classificados como Património Nacional, que o executivo irá abrir ao investimento hoteleiro em regime de concessão. A ideia é simples: o programa, que está a ser desenvolvido pelo ministério da Economia, ministério da Cultura e ministério das Finanças, visa concessionar a privados imóveis históricos que se encontrem degradados, para que sejam recuperados e desenvolvidos projetos que sejam “diferenciadores”.

 De acordo com as contas do ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, está previsto que sejam investidos 150 milhões de euros por entidades privadas. 

Para já, o convento de São Paulo em Elvas, propriedade do Ministério da Defesa e cedido ao município, é o primeiro espaço que vai ser lançado a concurso no âmbito deste projeto, estando previsto para o local a criação de uma unidade hoteleira.

O caderno de encargos já se encontra definido e a concessão (entre o município e o investidor) será por um período de 40 anos, prevendo o Estado que sejam investidos na recuperação do convento mais de cinco milhões de euros.

Através desta iniciativa, o governo pretende, ao mesmo tempo, valorizar o património, através da reabilitação e da sustentabilidade, assim como através do turismo histórico/cultural.

O Turismo de Portugal possui linhas de apoio para este tipo de projetos (apoio à qualificação da oferta) que privilegia as iniciativas que têm como objetivo a reabilitação urbana. “Os concursos são claros, são transparentes, em que os privados sabem quais são as obrigações de preservação do património que têm, sabem também o que podem fazer, apresentando projetos que possam ser rentáveis”, disse o governante.

Manuel Caldeira Cabral acrescentou ainda que “até ao final do ano” vão ser “revelados” os restantes edifícios que estão envolvidos no programa “Valorização do Património”.