Fosun. Grupo chinês que quer BCP está endividado e tem o rating no ‘lixo’

Fosun. Grupo chinês que quer BCP está endividado e tem o rating no ‘lixo’


Depois de uma tentativa fracassada para comprar o Novo Banco, o grupo chinês vira-se agora para o BCP, em plena mudança de estratégia internacional. Empresa quer entrar em novos mercados mas terá também de vender ativos para fazer face aos encargos da dívida


O grupo chinês Fosun – dona da seguradora Fidelidade e da Luz Saúde – e agora interessada em comprar, numa primeira fase 16,7% do capital do BCP por 236 milhões de euros, prepara-se para vender ativos na ordem dos 40 mil milhões de yuans (cerca de 5,38 mil milhões de euros) até final de 2017 para reduzir a dívida e melhorar o seu nível de rating.

As agências de notação financeira Moody’s e Standardd & Poor’s colocaram o seu rating na categoria de lixo. “Vamos vender mais ativos para pagar as dívida”, revelou o presidente-executivo da empresa, Liang Xiujun, acrescentando ainda que a  Fosun tem revelado “uma grande capacidade” para obter bons ratings.

Em 2015, a dívida da Fosun Internacional totalizava os 15 mil milhões de euros em 2015, ou seja, um valor superior em 20 vezes o seu lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização (EBITDA).

A empresa anunciou que quer expandir a sua atividade em outros mercados e entrar em países como, a Polónia, Moçambique, Angola e Suíça. E é aí que entra o interesse no BCP, já que a instituição financeira liderada por Nuno Amado pode vir a ajudar a que essa experiência se concretize mais rapidamente. 

A compra da participação do capital do BCP será consolidada através de um aumento de capital, que a companhia admite reforçar mais tarde para entre 20% a 30%. “A Fosun propõe-se subscrever um aumento de capital reservado”, passando a deter “uma participação de aproximadamente 16,7% do total de ações representativas do capital social do BCP”, indicou a empresa chinesa. 

Para a Fosun, o banco de Nuno Amado será “uma importante plataforma de serviços financeiros para ajudar o grupo a alargar os seus negócios para a Europa e África”, revela. O grupo acredita ainda “que a vertente internacional do BCP pode combinar o crescimento da China com recursos globais”.

O valor máximo considerado para o aumento de capital de 236 milhões de euros foi determinado baseado no preço máximo de subscrição” de 0,02 euros por ação (com o ajustamento do ‘reverse stock split’ que ainda tem de ser implementado e que junta 75 ações do banco numa só).

No entanto, a concretização do negócio está sujeita a várias condições, nomeadamente a aprovação dos supervisores, o aumento dos limites de voto do BCP de 20% para 30% do capital, a implementação do processo de ‘reverse stock split’, a não contribuição para o Fundo de Resolução além das já previstas e dois administradores no ‘board’, incluindo-os também na comissão executiva. 

A proposta do grupo chinês prevê ainda “a possibilidade do conselho de administração do BCP cooptar até um total de pelo menos 5 novos membros nomeados pela Fosun Industrial (ou suas afiliadas) para o conselho de administração do BCP em contexto e na proporção do aumento da participação da Fosun”. 

Este interesse surge depois de o grupo ter entrada na corrida pelo Novo Banco. A empresa foi uma das três finalistas mas o Banco de Portugal não aceitou a sua proposta, nem a dos concorrentes – outra chinesa, a Anbang, e a americana Apollo e acabou por cancelar o concurso em setembro passado.

Sem efeito nas ações O interesse da Fosun veio animar a negociações dos títulos durante a manhã de ontem, mas não foi suficiente e as ações do BCP acabaram por fechar a sessão no vermelho. No arranque chegaram a disparar mais de 12%, mas foram perdendo fôlego e acabaram por fechar o dia a cair 5,39%.

O valor das ações variou desde o máximo de 0,0227 euros até ao mínimo da sessão registado no fecho que foi de 0,0191 euros. A negociação foi também marcada por uma elevada liquidez, tendo trocado de mãos mais de 780 milhões de ações do banco, quando a média diária dos últimos seis meses tem sido de 398,1 milhões.

Negócios  Este anúncio de venda de alguns ativos surge depois de a Fosun ter investido, nos últimos anos, cerca de 15 mil milhões de dólares (13,4 mil milhões de euros) nas mais variadas aquisições. A compra da seguradora Fidelidade por mil milhões de euros e o grupo Luz Saúde por 478 milhões de euros são alguns desses exemplos, assim como a aquisição de 5% do capital da REN. 

Entre os ativos que poderão ser vendidos, Xinjun falou em imóveis, dívidas e ações detidas pelo grupo, num montante entre quatro mil milhões a cinco mil milhões de euros. Também os negócios em minas e no ferro poderão vir a ser alienados. A ideia do grupo é focar-se em determinadas atividades, como a área financeira, lazer e saúde.

O que é certo é a Fosun tem sido um dos grupos financeiros chineses mais ativos em compras no mercado internacional e essas aquisições têm sido sustentadas com recurso a endividamento. 

Exemplo disso, é a aquisição recente do clube da segunda divisão do futebol inglês Wolverhampton Wanderesrs e do grupo francês farmacêutico indiano Gland Pharma. Uma operação que representa a maior compra de uma empresa chinesa em terrenos indianos. 

Mas os negócios não ficam por aqui. O grupo conta ainda com participações em vários projetos, como o Club Med, Cirque du Soleil e Studio 8.