O “senhor Atletismo”, o professor Mário Moniz Pereira, morreu ao início da noite de domingo, aos 95 anos. Licenciado pelo Instituto Nacional de Educação Física (antigo ISEF), Moniz Pereira celebrizou-se por ser o “pai” de várias gerações de grandes atletas portugueses, enquanto treinador de atletismo do Sporting Clube de Portugal, designadamente Carlos Lopes, primeiro atleta português a conquistar uma medalha de ouro nuns jogos olímpicos, Fernando Mamede, ex-recordista do mundo dos 10 mil metros, e os gémeos Dionísio e Domingos Castro.
A descoberta e o treino de atletas para provas de meio fundo e fundo era a sua especialidade. Foi ainda selecionador nacional de atletismo, diretor técnico da respetiva federação, além de ter exercido ainda cargos ligados à federação de voleibol, outra das modalidades em que esteve envolvido.
Na qualidade de treinador de atletismo “passou” por 12 jogos olímpicos, 13 campeonatos da Europa e 21 mundiais de corta-mato, entre outras. A sua paixão pelo atletismo e os êxitos alcançados trouxeram a Mário Moniz Pereira várias condecorações do Estado português, designadamente a Medalha de Mérito Desportivo (por duas vezes), Medalha de Mérito em Ouro, Ordem Olímpica, além das comendas da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Instrução Pública. Recebeu ainda a medalha de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Deu aulas no ISEF durante 27 anos, dirigiu o Estádio Nacional durante quase uma década e presidiu à Comissão de Apoio à Alta Competição. No voleibol, a sua segunda paixão desportiva, chegou a selecionador nacional e participou no mundial da modalidade em Paris, em 1956, na qualidade de árbitro. Foi agraciado com o emblema de ouro da Associação Europeia de Atletismo e o seu protagonismo no atletismo sportinguista levou o clube a atribuir o seu nome à pista existente no antigo estádio de Alvalade. Foi ainda vice-presidente do Sporting.
Era igualmente um apaixonado pela música e letrista, com várias composições e músicas editadas. Como contou numa entrevista ao “Público” em 2012, Moniz Pereira foi chamado de “maluco” quando em 1945 disse que o seu objetivo era fazer um campeão olímpico português. “Consegui aquilo que toda a gente disse que era impossível. Claro que quando o Carlos Lopes ganhou nos Jogos Los Angeles, em 1984, chorei que nem uma Madalena”, contou nessa entrevista. Sócio número dois do Sporting e o principal dinamizador da aposta do clube de Alvalade no atletismo, Moniz Pereira era um crítico do que considerava ser a “ditadura futebolística” vigente em Portugal. Numa entrevista à Lusa, chegou a ameaçar desfiliar-se do Sporting se o clube privilegiasse o futebol em detrimento das restantes modalidades.
