Enquanto paira no ar a suspeita de que a Rússia se intrometeu na campanha presidencial dos Estados Unidos da América (EUA), o presidente Vladimir Putin resolveu vir a público para falar de outro assunto: a exclusão dos seus atletas – especialmente os do atletismo, estando as outras modalidades sujeitas à decisão das federações, como divulgou o Comité Olímpico Internacional (COI) – dos Jogos Olímpicos (JO) do Rio de Janeiro.
“É óbvio que a ausência de atletas russos baixa a fasquia e reduz a intensidade da competição”, afirmou ontem no Kremlin, numa cerimónia onde recebeu atletas russos, tais como Yelena Isinbayeva e Sergey Shubenkov, que estão suspensos.
A lista dos excluídos chega aos 108 atletas, 67 dos quais pertencem ao atletismo, segundo números divulgados pela “BBC”. Por outro lado, o tempo não para, e as notícias negativas sobre o Brasil também não. Mas o presidente russo preferiu destacar a ausência dos seus atletas, garantindo que os outros competidores “perceberão que a qualidade das suas medalhas será diferente”.
O escândalo de doping que irrompeu no país dos czares graças a um relatório independente a pedido da Agência Mundial de Antidopagem é, no entender de Putin, uma “campanha cujo alvo são os seus atletas” e que é caracterizada pelos “duplos critérios, em que se optou pela ideia de responsabilidade coletiva, algo que não é compatível com o desporto e a justiça em geral ou as normas básicas da lei”, concluiu. Há, no entanto, uma pequena luz ao fundo do túnel para o atletismo russo.
Porquê? Porque Darya Klishina, atleta de salto em comprimento radicada nos EUA, vai poder estar no RIo’16. Apesar de o ministro do desporto russo, Vitali Moutko, ter endereçado uma carta à Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF, em inglês) para rever a decisão da exclusão de todo o atletismo, esta organização só aceitou a ida de Klishina. “Os pedidos feitos por 68 atletas russos para o Rio de Janeiro foram analisados individualmente pela Comissão de Revisão de doping da IAAF e apenas uma atleta cumpre os critérios.
O tribunal Arbitral do Desporto rejeitou o recurso de 67 atletas. Não há outras bases jurídicas para rever o caso”, referiu a IAAF em comunicado enviado à agência AFP. Por outras palavras: só quem esteve submetido a um sistema de controlo fora da Rússia (e que não acusou) poderá competir.
A juntar-se a Darya no Rio’16 estarão atletas do arco, de equitação, de esgrima, judo, tiro, ténis, triatlo e voleibol – por outro lado, atletas da natação, da canoagem e caiaque, do pentatlo, da vela e do remo não poderão seguir viagem para solo brasileiro. As restantes modalidade aguardam a decisão das federações. Dando um salto até ao Brasil, tudo “parece” mais tranquilo.
O presidente do COI, Thomas Bach, visitou ontem a aldeia olímpica – que tem sido amplamente criticada por várias delegações – e acredita que tudo estará pronto amanhã (contrariando as informações anteriores, que apontavam para hoje). “Foi uma visita muito boa. A aldeia olímpica está fantástica. Ainda existem alguns desafios mas recebemos a garantia de que a aldeia vai superar os problemas até amanhã”, ressalvou, citado pelo jornal brasileiro “Globo”.
Já o presidente da câmara do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, assegurou, durante a inauguração do centro de imprensa para os Jogos, que a cidade “é uma das mais seguras do mundo”. Sabe-se no entanto que não é bem assim: segundo estatísticas oficiais registaram-se no ano passado 1.562 homicídios (uma média de quatro por dia). Paes pediu também desculpas à Austrália e entregou à comitiva “aussie” a chave do Rio. “A aldeia olímpica foi entregue há cerca de três meses. Foi, de facto, uma falha de gestão do Comité Organizador, que está a dar resposta a essa falha. Ainda enfrentaremos alguns atritos nos próximos dias mas a Austrália, que evitou entrar, terá uma experiência fantástica”, finalizou.