1) Bem pode o Presidente chamar todos a Belém e não escutar sinais de crise política porque a realidade manda dizer que ela pode aparecer na mesma. E se chegar mesmo será consequência direta da situação económica que vivemos e que não segue no bom sentido, apesar de algumas leituras optimistas dos dados orçamentais. Se as contas falharem, se houver sanções ou se houver nova austeridade direta sobre cada português a juntar à que está a ser feita sub-repticiamente, adiando despesa e cortando no investimento, então a discórdia chegará aos partidos que sustentam o governo. E a partir daí tudo é possível. Apesar dos esforços de Costa e da cobertura que Marcelo lhe vai dando, os sinais profundos são preocupantes. Passos está agora mais certo disso e radicaliza o verbo e os atos As sondagens, porém, trazem mais margem de confiança a Costa do que a Passos. Este para se safar eleitoralmente precisa mesmo de algo como um segundo resgate. É a tal situação em que é preciso que corra mal ao país para que lhe corra bem a ele, coisa que não trás consideração popular. A rentrée vai ser dura e o primeiro sinal será dado no Pontal.
2) Correia de Campos foi rejeitado liminarmente no parlamento para presidente do CES. A generalidade dos comentadores proclama ter sido o PSD a roer a corda. E no PS não haverá quem se tenha lembrado do que o candidato fez como ministro? Ou é só o PCP que tem memória? Se tiver bom senso e dignidade política Correia de Campos não volta a apresentar-se. Mas há vaidades que a tudo se sobrepõem.
3) Afinal o Ronaldo das Finanças existe e jogava no BPI. Fantástica descoberta! Na Caixa Geral de Depósitos o impasse vai-se mantendo e agora o processo de nomeação da nona administração vai durar agosto todo. Nada melhor para estoirar com a CGD. Jorge Coelho o verdadeiro Buldózer e unificador do PS sentiu o perigo criado por Centeno e apelou na Quadratura do Circulo a uma trégua de silêncio de 10 dias que pelos vistos não chegaram para resolver este caso grave e caricato. Mas afinal que solução é esta que mete administrador estrangeiros e quem é António Domingues para fazer tantas exigências? Quando se ouve falar do BPI cita-se Santos Silva e Ulrich. Mas afinal parece que o grande mago de um banco que também não brilha muito é este cavalheiro. Pela extensa equipa que leva e o ordenado e mordomias que requer a que junta uma reforma do BPI e um balúrdio para aumento de capital, é bom que este patriota transforme a instituição no melhor banco da europa em quatro anos. Já agora era bom que se explicasse que grandes golos de gestão marcou. Sem ser na própria baliza do BPI, claro está.
4) Já se opinou neste espaço que o país que elegeu Obama dificilmente escolherá Trump para Presidente. Apesar de sondagens dizerem o contrário, subsistem razões para acreditar que a situação se mantém, embora a probabilidade já não seja tão óbvia. Agora Trump já é o candidato oficial dos republicanos e está a mobilizar a América branca e profunda que mantém os seus traços característicos: individualismo, segregacionismo e isolacionismo, apesar dos EUA serem um mosaico único de etnias, origens e nacionalidades. Trump entra em grande no núcleo reacionário que vota e decide, num país onde os eleitores são muito menos que os habitantes. A “Trumpestade” tem como slogan “Make America Great Again”, por contraponto ao “Yes We Can” de Obama que mudou qualquer coisa mas nada em substância. Apesar da sua personalidade controversa e extravagante, Trump não é apenas um “ pato bravo” nem um desinformado. Além disso tem a concorrência da democrata Hillary Clinton que não é propriamente a pessoa mais recomendável que há. Clinton tem, para além do passado da administração do seu marido recheada de casos mas globalmente positiva, um conjunto de atos praticados por ela própria enquanto senadora e sobretudo secretária de Estado que lhe causam danos permanentes e a envolvem directamente na situação criada na Síria e na Líbia. Face a um imprevisível Trump, Clinton pode considerar-se uma escolha mais prudente e racional, apesar de não entusiasmar. A convenção democrata deve relançá-la sobretudo depois do arrebatador e motivo discurso de Michele Obama na abertura dos trabalhos e do apelo de Sanders à unidade mesmo na sequência de um escândalo ter imposto a demissão da presidente do partido por falta de imparcialidade em favor Hillary. Numa América em mudança e onde o bipartidarismo já conheceu melhores dias, não serão Clinton e Trump os únicos concorrentes à Casa Branca. Certos votos podem ir para o candidato ecologista, por exemplo, e assim mudarem muita coisa e não necessariamente a favor da democrata. Uma coisa é certa, a corrida vai ser dura, muito dura mesmo.
Jornalista