Um governo que não resolve problemas


É certo que o ambiente e a guerrilha partidária se aproximam das claques de futebol, mas o PS está a aproveitá-lo ao máximo.


A 13 de maio, Carlos César (CC), em entrevista ao “Expresso” e a propósito do fim do mandato de juízes do Tribunal Constitucional, do provedor de Justiça e do presidente do CES, afirmou que “há questões mais baseadas no costume do que na lei” e que, “se a tradição for o que era, não haverá certamente nenhum impasse”. O líder parlamentar do PS expressava, então, a profunda convicção de que o PSD iria cumprir com a “tradição”, pelo que proclamou, sentindo–se quase traído, ser “uma vergonha” o sucedido na eleição do presidente do CES. A combinação, o costume, em vigor há várias décadas, não terá sido cumprido pelo PSD. Já os deputados do PS, bem–comportados, em detrimento da sua autonomia, optaram por cumprir a imposição do diretório partidário.

De todo o modo, é de estranhar esta reação do líder parlamentar do partido que, em finais do ano passado, rasgou uma das principais convenções constitucionais formando governo, apesar de não ter sido a força política mais votada que, nessa mesma ocasião, também não elegeu o presidente da Assembleia da República.

Numa primeira impressão, este episódio aparenta ser mais um caso de desonestidade intelectual no discurso socialista, de instrumentalização do cumprimento de regras e costumes para tomar de assalto o poder, de recriação artificial de um acordo feito segundo a lógica do bloco central, ou até uma consequência da rutura das regras de confiança política com raízes em finais do ano passado. É tudo isto e não só. Este caso ilustra um problema estrutural da retórica socialista desde que assumiu o poder: a dependência do PSD-CDS para justificar qualquer situação política. É certo que o ambiente e a guerrilha partidária se aproximam das claques de futebol, mas o PS está a aproveitá-lo ao máximo. Todos os assuntos servem de arremesso partidário e Passos, tão ausente mas ao mesmo tempo tão presente no debate político, é culpado de tudo: da presença da troika em Portugal, dos problemas do sistema bancário, da aplicação de sanções a Portugal, do hospital que não tem papel higiénico para dar aos doentes, das escolas sem dinheiro para as contas e pelos pagamentos em atraso da Segurança Social e do reembolso. Face a isto, impõe-se a pergunta: caros membros do governo, que tal fazerem alguma coisa para resolver tudo isto?

 

Um governo que não resolve problemas


É certo que o ambiente e a guerrilha partidária se aproximam das claques de futebol, mas o PS está a aproveitá-lo ao máximo.


A 13 de maio, Carlos César (CC), em entrevista ao “Expresso” e a propósito do fim do mandato de juízes do Tribunal Constitucional, do provedor de Justiça e do presidente do CES, afirmou que “há questões mais baseadas no costume do que na lei” e que, “se a tradição for o que era, não haverá certamente nenhum impasse”. O líder parlamentar do PS expressava, então, a profunda convicção de que o PSD iria cumprir com a “tradição”, pelo que proclamou, sentindo–se quase traído, ser “uma vergonha” o sucedido na eleição do presidente do CES. A combinação, o costume, em vigor há várias décadas, não terá sido cumprido pelo PSD. Já os deputados do PS, bem–comportados, em detrimento da sua autonomia, optaram por cumprir a imposição do diretório partidário.

De todo o modo, é de estranhar esta reação do líder parlamentar do partido que, em finais do ano passado, rasgou uma das principais convenções constitucionais formando governo, apesar de não ter sido a força política mais votada que, nessa mesma ocasião, também não elegeu o presidente da Assembleia da República.

Numa primeira impressão, este episódio aparenta ser mais um caso de desonestidade intelectual no discurso socialista, de instrumentalização do cumprimento de regras e costumes para tomar de assalto o poder, de recriação artificial de um acordo feito segundo a lógica do bloco central, ou até uma consequência da rutura das regras de confiança política com raízes em finais do ano passado. É tudo isto e não só. Este caso ilustra um problema estrutural da retórica socialista desde que assumiu o poder: a dependência do PSD-CDS para justificar qualquer situação política. É certo que o ambiente e a guerrilha partidária se aproximam das claques de futebol, mas o PS está a aproveitá-lo ao máximo. Todos os assuntos servem de arremesso partidário e Passos, tão ausente mas ao mesmo tempo tão presente no debate político, é culpado de tudo: da presença da troika em Portugal, dos problemas do sistema bancário, da aplicação de sanções a Portugal, do hospital que não tem papel higiénico para dar aos doentes, das escolas sem dinheiro para as contas e pelos pagamentos em atraso da Segurança Social e do reembolso. Face a isto, impõe-se a pergunta: caros membros do governo, que tal fazerem alguma coisa para resolver tudo isto?