Quem não recorda a imagem de Vivian (Julia Roberts), botas acima do joelho e vestido coleante, palavreado desbragado e modos pouco delicados, a entrar por um dos mais luxuosos hotéis de Los Angeles e aí se transformar numa elegante mulher, digna de qualquer passadeira vermelha? Tudo porque se apaixona por um cliente – interpretado por Richard Gere – que, na verdade, se revela o amor da sua vida. Para muitos, “Pretty Woman – Um Sonho de Mulher” era uma espécie de versão moderna do conto de fadas clássico. Para a atriz Julia Roberts foi o filme que a transformou na namoradinha da América. Para Richard Gere foi a película que o confirmou como galã irresistível. E para Garry Marshall, realizador da obra de 1990, este foi claramente o seu mais marcante êxito no universo do cinema.
O argumentista, realizador e produtor morreu ontem em Burbank, Califórnia, devido a uma complicação causada por uma pneumonia que enfrentou após ter sofrido um enfarte, segundo confirmou Michelle Bega, agente de Marshall. Tinha 81 anos.
Natural do Bronx e licenciado em Jornalismo, o ex jornalista do “New York Daily News” Garry Marshall deu os primeiros passos da sua carreira na ficção ainda na década de 1960, quando começou a escrever piadas para comediantes, mas em pouco tempo já estava a escrever para o “Tonight Show”, com Jack Parr, e para o “Dick Van Dyke Show”, logo depois desenvolvendo os primeiros guiões para séries como “Mork and Mindy” e “Laverne and Shirley”.
“No bairro onde cresci, no Bronx, tínhamos poucas opções: ou éramos atletas ou éramos gangsters ou tínhamos piada”, disse numa entrevista em 1980.
Foi em 1971 que assinou o seu primeiro sucesso: o episódio-piloto de “Happy Days”, uma série protagonizada por Fonzie, considerada a personagem, interpretada por Henry Winkler, que levou o cool à televisão americana.
A série estreou em 1974 e dois anos mais tarde era a mais popular dos Estados Unidos, tendo durado até 1984. Foi aqui que nasceu a expressão norte-americana “jumping the shark”, depois de o protagonista Fonzie ter saltado sobre um tubarão enquanto fazia esqui aquático.
Depois do sucesso a escrever para televisão, Marshall aventurou-se no cinema e na realização. O seu grande sucesso mundial aconteceu com “Pretty Woman – Um Sonho de Mulher”. Em 1999 voltou a trabalhar com Julia Roberts em “Noiva em Fuga”. E dois anos mais tarde voltava a assinar um sucesso comercial na sétima arte com “O Diário da Princesa”.
No total, durante uma carreira de mais de 50 anos, Garry Marshall realizou mais de 18 filmes. Mas na sua autobiografia, publicada em 1995, já depois do sucesso de “Pretty Woman – Um Sonho de Mulher”, confessou o amor à televisão: “Acredito que a televisão foi, e ainda é, o melhor meio para atingir a parte mais desfavorecida da sociedade e entreter aqueles que não conseguem pagar um filme ou uma peça de teatro. Por isso, porque não tentar chegar a eles também?”
Aos 81 anos, Garry Marshall deixou a mulher, Barbara, e os três filhos do casal.