Não é que antes desta decisão as hipóteses de um futuro político para o antigo primeiro-ministro fossem pujantes: a eventual candidatura à Presidência da República, desejada tanto por Cavaco Silva como por Passos Coelho, ficou pelo caminho por razões óbvias. As sondagens indicavam que os portugueses não tinham ainda perdoado a Durão Barroso o facto de ter abandonado o cargo de primeiro-ministro de um país que, segundo as suas próprias palavras, “estava de tanga”, para cumprir o sonho de serviçal das altas instâncias europeias. Os portugueses, quando avaliaram o carácter de Durão na sua fuga para Bruxelas, não se enganaram. Aliás, a forma como aprisionou o Presidente da República da época – Jorge Sampaio – afirmando que desistiria do cargo se o chefe de Estado ousasse convocar eleições antecipadas, foi extraordinária. O patrioteirismo bacoco de ver um português “num alto cargo” venceu. Seguiu-se Santana Lopes e o resto. Aliás, a vitória de Sócrates deve-se exclusivamente a Durão Barroso, para quem ainda não tinha percebido. O suposto era ter sido Ferro Rodrigues, vencedor das eleições europeias desse ano, a ser o primeiro-ministro seguinte.
Mas tudo isto são insignificâncias em comparação com o total e absoluto desprezo pela ética que revela o antigo presidente da Comissão Europeia ao aceitar o cargo na Goldman Sachs. A Goldman Sachs não é uma empresa qualquer – teve sérias responsabilidades no desencadear da crise financeira de 2008 da qual ainda não nos livrámos. E, por decisão de Durão Barroso e restantes dirigentes europeus, foram os pobres que pagaram e continuam a pagar a crise provocada pela loucura instalada em empresas como a Goldman Sachs. Como prémio de produtividade pelos favores aos financeiros, é merecido. É vergonhoso, mas é merecido. Os portugueses não vão esquecer.