Num mundo eurocêntrico, o “projeto europeu” tinha o seu sentido, a despeito das divergências ideológicas que podemos ou não ter em relação ao modelo do Estado de Bem-Estar que lhe subjazia. Em 1960, o planeta atingiu a mítica marca dos 3 mil milhões de habitantes. Hoje, estamos próximos dos 7 mil milhões – feito da pujança de zonas geográficas que nos são alheias. O mundo deixou há muito de ser eurocêntrico, para ser global, e a marca de cosmopolitismo da Europa, naquilo que ainda possuímos, cada vez menos inspira outros povos. Fechada sobre si própria, a Europa Unida tem vindo a perder relevância, e capacidade de se projetar no mundo. A sua moldura institucional e legal é mais burocrática do que democrática, e os seus valores formais e politicamente corretos, e cada vez menos, substantivamente éticos. Não surpreende por isso que o Reino Unido tenha optado por seguir o seu caminho, e que o ceticismo domine os cidadãos europeus, mesmo aqueles que gostariam de prosseguir um caminho de maior integração. Virada sobre si própria, sem diálogo com o mundo, a Europa é palco de ódio e de incompreensão, vítima de terrorismo, crescentemente capturada pelas suas periferias onde domina a barbárie e a pré-modernidade. Tão preocupados que estávamos em evitar os conflitos europeus, esquecemos que perto de nós havia povos e espaços culturais e económicos para enriquecer, que no vazio, hoje, nos asfixiam.
Sejamos sinceros, todos sabemos que esta União Europeia não é saudável, nem responde aos desafios que os povos europeus hoje enfrentam. O sonho dos pais da Europa é hoje o nosso pesadelo. A Europa, ou se reforma, ou continuará a perder relevância, refém do imobilismo, do pessimismo, e de um devir mundial que não irá parar à espera que encontremos os nossos rumos.