Surpreendeu-a a nomeação do antigo presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, para presidente do banco Goldman Sachs?
Infelizmente, não estou surpreendida. De há muito tempo para cá, estou convencida que Durão Barroso funciona como um elemento daquele tipo de indivíduos que presidem a bancos como esses, que são bancos gangsters. Portanto, não estou realmente surpreendida. É a assunção por parte de Durão Barroso de que pertence a esse tipo de elite, se assim se pode dizer. Como eurodeputada, já subscrevi várias iniciativas que pedem o acionamento do artigo 245.ª do tratado sobre o funcionamento da União Europeia, invocando uma ação legal por violação desse artigo. Ele, ao assumir essas funções, está a violar o que dispõe esse artigo.
Portanto, viu a nomeação como um ato normal, tendo em conta a pessoa de que se trata?
Durão Barroso é uma pessoa que teve responsabilidades políticas claras na invasão Iraque, como anfitrião da cimeira das Lajes. Sabia perfeitamente que estava atuar na base de informações que eram mentirosas. Sei bem o que foi dito em reuniões que mantive com ele enquanto responsável do PS pelas relações internacionais. Ele tinha a perfeita noção de que não só estava a violar o direito internacional, como a atuar na base de informações que eram mentirosas. Não teve escrúpulos em fazer o que fez, politicamente. Estamos a falar de uma pessoa que foi primeiro-ministro de Portugal, com intervenção direta também no contrato dos submarinos. Fui assistente neste processo e sei do que falo. Foi responsável por todo o processo de colaboração das autoridades portuguesas com os chamados voos de tortura da CIA. Por isso não me espanta que, com todos estes casos, tenha ido parar aos interesses que sempre serviu – ao grande capital financeiro, sem escrúpulos e desejoso da desregulação financeira.