Treinar ao ar livre. Correr no parque, abdominais na relva, flexões no banco de jardim

Treinar ao ar livre. Correr no parque, abdominais na relva, flexões no banco de jardim


Não há parque em Lisboa que, num dia de sol, não se encha de piqueniques, cães e festas de crianças. Agora, os habitués dos espaços verdes dividem relva com os que aproveitam o ar livre para praticar desporto. O i contratou um personal trainer e passou uma manhã de sábado entre burpees, flexões, abdominais e…


Sábado, 9 da manhã de um dia que se prevê que só esteja agradável perto da brisa do mar e de cestos de bolas de Berlim.

Quando o despertador toca e ainda naqueles primeiros segundos de semi-inconsciência, é precisamente esse cenário que passa pela mente de quem quer aproveitar um fim de semana de verão. Mas não, desligado o apitar irritante que nos faz saltar da cama, já Ana deixou o aviso no chat do grupo: “encontramo-nos no café ao pé da receção ok? Até já”. Dizemos um ok interior, até porque há uma regra universal: ninguém verbaliza antes do pequeno-almoço, e de um café, se não for pedir muito.

Nove da manhã e lá está Ana “no café ao pé da receção” do Parque da Quinta das Conchas. “Tivemos muitas desistências e só estás tu e a Cátia”, lamenta Ana. Agora que já estamos de equipamento vestido e olhos abertos, não há volta a dar. “Vamos então, tens é que puxar por nós”. Mal sabia o i que nas mãos de Ana, esse tipo de pedidos estão implícitos num sobrenome de peso. Ana é Ana Ferro e, aproveitando o apelido, criou o “Movimento Mulheres de Ferro”.

As amigas mais próximas começaram por querer aproveitar-se da formação que Ana tem em educação física e treino personalizado. “Pediram-me que as treinasse e acabaram por ir trazendo sempre pessoas novas”. Agora, são sempre à volta de seis que todos os fins de semana se juntam num dos jardins de Lisboa para um treino de uma hora, onde a relva, as árvores e até os bancos de jardim substituem as aborrecidas – dizemos nós – máquinas de ginásio.

O treino Nunca ultrapassa os sessenta minutos e, por isso, o treino é de alta intensidade. “Como estão só duas, vamos fazer um circuito em que uma está ao comando”, orienta Ana, enquanto escolhe a melhor sombra para montar um mini ginásio. Dos sacos tira colchões, pesos, escadas, cordas de saltar e a chamada escada de agilidade. “A escada do demo”, exclama Cátia, a não esconder pela expressão aquilo que aí vem. Com a missão de comandar o circuito, começa a fazer agachamentos na escada. “Cinco voltas, enquanto a outra faz jumping jacks”. A “outra” vai saltando e rezando para que a Cátia seja rápida no saltitar entre os degraus da escada montada na relva.

Seguem-se flexões com mountain climber, jumping lunges, russian twists, burpees e shoulders press, numa lista que quase obriga a que o dicionário faça parte do equipamento. “Calma, eu traduzo”. Ana passa o inglês para um prático português e nós, traduzimos em movimento. Mountain climbers não é mais do que estar na posição de prancha de braços e trazer os joelhos ao peito, um jumping lunge obriga a salto entre os agachamentos feitos com uma perna à frente e outra atrás e um burpee, bom, sobre um burpee é melhor ficar na ignorância.

O sol já começa a ser demasiado forte para as folhas das árvores que dão teto ao ginásio improvisado na relva. Ana parece ler os nossos pensamentos e, de olhos postos no relógio, dita o fim da aula. Muda a frequência da rádio – de notar que a “Nostalgia” era a única possível de ser sintonizada, o que dá pontos extra por termos conseguido finalizar um treino de alta intensidade ao som de baladas dos “The Corrs” – e agora é ao som da “Smooth  FM” que começam os alongamentos.

Esticamos tudo o que ficou contraído com tanto salto e agachamento e, no final, a tão esperada massagem. “É aqui que dói, não é?”. De cara espalmada na relva, só conseguimos expressar um sim impercetível, enquanto Ana pressiona em cheio naquele nó muscular que andava a chatear há dias.

PT fora de portas Ana Ferro garante que os treinos aqui nunca são iguais. Cátia confirma e lembra que é isso que a faz levantar-se cedo todos os fins de semana. “Ia ao ginásio e já quase que sabia as coreografias das aulas de cor, aqui nunca sei o que me espera”.

Se para as alunas só há vantagens, para a professora não há nada como treinar ao ar livre. “Nunca gostei de ginásios, mas quis a vida profissional que lá fosse parar”, conta Ana, cujo sonho sempre foi dar aulas de educação física em escolas. Mas acabou por ganhar o gosto pelo treino, principalmente o personalizado. “Sou completamente contra aqueles treinos chapa 5 passados como se fossemos todos iguais”, refere, o contacto individual com a pessoa é muito importante”.

Com todo o material de volta aos sacos, está na hora de fechar a porta ao ginásio imaginário. “Agora não façam como uma que ouvi esta semana que depois de correr uma hora na passadeira me diz ‘agora já posso ir comer uma pizza’”. Com o bom senso a falar mais alto do que a lei da compensação, Ana aconselha que, para não estragar o que foi conseguido com os exercícios, em vez de fast-food, o pós-treino seja frango, ovos ou uma sandes de queijo fresco. Anuímos com a cabeça, até porque os burpees – sim, esses de quem ninguém quer falar – ainda estão na memória. E nos braços, nos gémeos, nos abdominais, nos glúteos…