O cherne man do Goldman Sachs


O cherne é um peixe peculiar. Quando é novo anda em cardume, mas quando atinge a idade adulta passa a ser uma espécie solitária. É comum vê-lo sozinho em destroços no fundo do mar, a alimentar-se de peixes mais pequenos.


Durão Barroso, o cherne mais bem sucedido da fauna portuguesa, teve na contratação pelo Goldman Sachs uma rápida passagem às profundidades. A saída de primeiro-ministro português para presidente da Comissão Europeia já indiciava que olhava mais por ele do que pelo cardume. A ida para o Goldman Sachs prova que não olha para trás. No meio do caos da saída do Reino Unido e da crescente descrença do projeto europeu, poucas decisões poderiam afetar tanto a credibilidade da comissão como a de Barroso.

O Goldman Sachs não é um banco qualquer. É o que ajudou a Grécia a ocultar dívida pública às autoridades europeias durante anos, com um papel decisivo na detonação da crise da Zona Euro que ainda hoje afeta a vida dos cidadãos europeus.

O cargo de chairman no banco de investimento vai dar-lhe dinheiro e estatuto. Não lhe trará respeito, pelo menos daqueles cujas vidas foram afetadas nos últimos anos por uma recessão sem precedentes que lhes tirou empregos, salários e pensões.

Durão não é o único a passar a fronteira. Tony Blair está a trabalhar para o JP Morgan e Mario Draghi já esteve no Goldman Sachs, por onde já passaram inúmeros políticos europeus e norte-americanos.

Barroso foi apenas um pouco mais além, mostrando de forma exemplar como o projeto europeu se distanciou da sua fundação e caminhou a passos largos para um liberalismo extremo, em que o serviço público é apenas uma expressão vaga. À livre circulação de bens e de pessoas soma-se a livre circulação de influência política.

Com todos os defeitos e até pecados, o percurso dos fundadores da UE mostra o quão mercantil é hoje o projeto europeu. Quando deixou a presidência da Comissão Europeia, o francês Jacques Delors criou um instituto sem fins lucrativos para estudar formas de aprofundar a integração europeia. O antigo chanceler alemão Helmut Kohl deixou a vida política ativa e associou-se a iniciativas para aprofundar o projeto europeu. Ainda hoje é membro do Clube de Madrid, uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é promover a democracia a nível internacional. Barroso está mais interessado em promover a entrada de dólares na sua conta bancária. Não é ilegal. É só triste.

Jornalista 


O cherne man do Goldman Sachs


O cherne é um peixe peculiar. Quando é novo anda em cardume, mas quando atinge a idade adulta passa a ser uma espécie solitária. É comum vê-lo sozinho em destroços no fundo do mar, a alimentar-se de peixes mais pequenos.


Durão Barroso, o cherne mais bem sucedido da fauna portuguesa, teve na contratação pelo Goldman Sachs uma rápida passagem às profundidades. A saída de primeiro-ministro português para presidente da Comissão Europeia já indiciava que olhava mais por ele do que pelo cardume. A ida para o Goldman Sachs prova que não olha para trás. No meio do caos da saída do Reino Unido e da crescente descrença do projeto europeu, poucas decisões poderiam afetar tanto a credibilidade da comissão como a de Barroso.

O Goldman Sachs não é um banco qualquer. É o que ajudou a Grécia a ocultar dívida pública às autoridades europeias durante anos, com um papel decisivo na detonação da crise da Zona Euro que ainda hoje afeta a vida dos cidadãos europeus.

O cargo de chairman no banco de investimento vai dar-lhe dinheiro e estatuto. Não lhe trará respeito, pelo menos daqueles cujas vidas foram afetadas nos últimos anos por uma recessão sem precedentes que lhes tirou empregos, salários e pensões.

Durão não é o único a passar a fronteira. Tony Blair está a trabalhar para o JP Morgan e Mario Draghi já esteve no Goldman Sachs, por onde já passaram inúmeros políticos europeus e norte-americanos.

Barroso foi apenas um pouco mais além, mostrando de forma exemplar como o projeto europeu se distanciou da sua fundação e caminhou a passos largos para um liberalismo extremo, em que o serviço público é apenas uma expressão vaga. À livre circulação de bens e de pessoas soma-se a livre circulação de influência política.

Com todos os defeitos e até pecados, o percurso dos fundadores da UE mostra o quão mercantil é hoje o projeto europeu. Quando deixou a presidência da Comissão Europeia, o francês Jacques Delors criou um instituto sem fins lucrativos para estudar formas de aprofundar a integração europeia. O antigo chanceler alemão Helmut Kohl deixou a vida política ativa e associou-se a iniciativas para aprofundar o projeto europeu. Ainda hoje é membro do Clube de Madrid, uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é promover a democracia a nível internacional. Barroso está mais interessado em promover a entrada de dólares na sua conta bancária. Não é ilegal. É só triste.

Jornalista