Iggy Pop. O rei veio tudo menos nu

Iggy Pop. O rei veio tudo menos nu


No segundo dia de Super Bock Super Rock, Iggy Pop, cabeça de cartaz mesmo quando não é, entrou em força numa atuação perfeita. Não se esperava outra coisa, os reis não o são à toa.


MEO Arena tímida esta que aguarda meia-cheia-meia-vazia por um Iggy Pop que nunca mais vem, ou um início que demora como quem não quer a coisa à espera de quem continua a chegar ao recinto que serve de palco principal deste Super Bock Super Rock regressado a Lisboa. Há nomes que não deviam estar em festivais, mas nada que Iggy Pop não resolva em dois tempos com uma boa de uma entrada triunfal, tronco nu direto, para quê complicar o que pode ser simples. 

Primeira corrida para "No Fun", a revisitar os Stooges, de onde não nos deixa sair tão cedo, não antes que termine "I Wanna Be Your Dog", e já não sabemos para onde ir, não há como nos defendermos de milhares de pessoas em êxtase. Iggy Pop está vivo, está tão vivo que já não nos lembrávamos desde a última vez que nos tínhamos encontrado. 

Logo depois "The Passenger" – nós avisámos que seria triunfal este começo – e é aqui que a casa quase vai abaixo, Iggy Pop podia nem cantar, esta gente dava conta do recado, a ele bastava-lhe existir aqui diante de nós, tudo saltos e gente em braços. É quando agradecemos os esguichos de pistolas de água que tentam chegar-lhe de trás dos nossos ombros que vem "Lust for Life", viagem até 1977 mas só nossa, 69 anos e Iggy Pop está no mesmo sítio.

Sessenta e nove anos que tanto dão para subir ao palco em tronco nu como para continuar a tocar covers como se faz aos 19, de qualquer modo há muito que esta "Real Wild Child" de Johnny O'Keefe se tornou sua. "You know what, I can't fucking slow down", diz-nos, e nós acreditamos, que a carne e as rugas que não esconde não são constrangimento, está a acontecer, é a segunda vez que Iggy Pop desce do palco a correr, não sabemos onde terminará isto.

E se o arranque tinha sido para agradar a massas nesta digressão em que vem apresentar-nos "Post Pop Depression", brilhante disco de homenagem a David Bowie lançado este ano em colaboração com Josh Homme (Queens of the Stone Age), do qual ainda não ouvimos nada durante uma hora. 

Até que eis que aparece "Sunday", quinta faixa e primeira amostra a que temos direito deste décimo sétimo álbum de estúdio que Iggy Pop já disse que pode vir a ser o último. Esperemos que não, que apesar do tronco nu este rei vai tudo menos nu.