Foi memorável a festa de domingo. Especialmente para a minha geração, que cresceu com fatídica tradição de perder. A primeira vez que me lembro deste horrível sentimento foi precisamente com a seleção no Europeu de 84. Seguiram-se outros baldes de água fria: com o meu Benfica e, mais tarde, novamente com a seleção. Pelo meio, as alegria do agigantamento do Porto – sim, vibrei com as suas vitórias europeias, sobretudo a de 87. Foi uma espécie de consolo pós-84 e a vergonha do México’86.
Precisávamos disto. Todos nós! Precisávamos de dar um valente pontapé no “fado” que nos acompanha desde sempre. Em catadupa, quase como empurradas pelas vitórias no futebol, surgiam as notícias das conquistas (também europeias) do atletismo! De um momento para o outro sentimo-nos invencíveis e a nossa alegria transbordou além-fronteiras. Foi arrepiante ver a festa por Portugal mundo fora! Sublinho: a festa por Portugal! Por todos os locais onde passámos havia um grito de solidariedade pela libertação dos traumas do passado. A que mais me impressionou foi a de Malaca, onde apenas estivemos 130 anos, e isto há 375.
Ficou demonstrada a enormidade da alma lusitana! Maior do que a história e que todos os argumentos que nos dividem, o afeto pelo fim do nosso fado saiu à rua por todo o mundo!
Acredito nesta grandeza e sobretudo acredito na geração que nos deu este título de campeões! São inconformados e desprezam o velho “fado”! São obstinados e abraçam os desafios destemidamente! E acima de tudo transpiram confiança e capacidade de união!
Aos poucos acordamos da festa e, ainda na sua ressaca, a velha geração tenta amarrar o passado! Começa o temeroso processo de desunião! São os dirigentes desportivos a chamar para si e seus clubes o sucesso da vitória! São os partidos políticos a colocarem as suas estratégias eleitorais muito próprias à frente do interesse nacional. E de um momento para o outro esquecemos o que verdadeiramente nos levou (e pode continuar a levar) à glória: o altruísmo!
Morre a união construída ao longo do último mês! Parecia bem encaminhada a solidificação do espírito de sacrifício, de união e de entreajuda deixado pela seleção nacional.
Sol de pouca dura! E ao primeiro embate já nos desunimos e aceleramos para a discórdia. Desportivamente, inicia-se a nova época e começam as farpas. Politicamente, o Ecofin decidiu (nem o cachecol de Centeno ajudou), a comissão vai avaliar as sanções e os partidos, mesmo antes de tentarem chegar a acordo, já declararam a desunião.
Foi bonita a festa, foi… mas não vai durar!