Nove anos depois de ter deixado em definitivo o lar de acolhimento Girassol, em Alcarraques, Coimbra, Ederzito, de nome próprio, Éder no mundo do futebol, continua a ser uma “boa recordação” para muitos daqueles com quem conviveu durante quase metade da sua juventude.
O autor do golo que deu a Portugal o primeiro grande título internacional no futebol sénior entrou no Girassol com 11 anos e saiu de lá, já na fase de futebolista pré-profissional, com 20 anos.
Muitas horas passou-as a jogar futebol nas instalações e recantos do lar. As memórias que ali permanecem do Ederzito são, sem dúvida, “as melhores”, assegurou ao i Alexandra Lino, diretora técnica do Lar Girassol, instituição de acolhimento de crianças e jovens em situação de risco.
“O futebol sempre esteve em primeiro lugar para ele. O Éder sempre foi um bom exemplo, em termos desportivos. Um ótimo rapaz”, adiantou a responsável.
Para Alexandra Lino, Éder foi “sempre um jovem simpático, humilde e sobretudo discreto, que adorava desporto, em particular o futebol”.
Nas palavras de Alexandra Lino, Éder “manteve sempre” ao longo do seu percurso no lar, “a sua casa”, “uma “atitude e uma postura serena” que lhe permitiram assumir alguma liderança no grupo com quem mais lidava”.
“Era uma liderança discreta, mas natural. Com o tempo foi–se impondo e tornou-se um líder forte. Essa liderança reforçou--se à medida que ia crescendo e caminhava para aquilo que sempre quis ser. “Futebolista profissional”, adiantou.
Segundo Alexandra Lino, Ederzito António Macedo Lopes “é seguido por muitos” dos jovens que estão no lar ou que por ali passaram.
E deu como exemplo o padre Serra, fundador do Lar Girassol. “O Éder e o padre Serra, que tem estado adoentado, mantiveram sempre uma relação muito forte e próxima. Lembro-me, na parte final da presença do Éder aqui no lar, quando era já um profissional, das viagens do padre Serra ao fim de semana para se encontrar com ele para entregar algumas coisas que sabia que precisava”, contou.
Alexandra Lino esclareceu que, entretanto, as regras de acolhimento mudaram e o Lar Girassol recebe agora jovens entre os 6 e os 12 anos, de ambos os sexos, até um limite de 40 pessoas.
A diretora adiantou ainda que foi a partir do lar que Éder começou a dar os primeiros passos como atleta federado no ADC Adémia, nas camadas jovens, transitando mais tarde para o Tourizense.
Da Guiné para Portugal No site da Federação Portuguesa de Futebol, os responsáveis identificam Éder como o “jovem que viajou com os pais, aos três anos, da Guiné-Bissau para Lisboa, mas as dificuldades económicas dos seus progenitores guiaram–no ao Girassol”.
Foi aí, dizem, que despertou o “desafio de ser alguém”, quando estava longe da família.
“Na vida e no futebol, sempre com o golo como objetivo. Assim chegou e se afirmou-se na ADC Adémia, o primeiro clube, onde um golo era sinónimo de uma febra oferecida pelo proprietário do talho local”, escreve a FPF.
O organismo que tutela o futebol nacional lembra que a partir daí “começou a escalada, entre Touriz, Coimbra e Braga, até ao topo do futebol português, que teve o seu cume na estreia, em setembro de 2012, pela Seleção A”.
Na sequência do “golo do título”, a avó Ricardina, que ajudou a criá-lo nos primeiros anos de vida, disse na Guiné-Bissau, citada na imprensa nacional, estar “muito feliz e orgulhosa” do neto Ederzito. O jogador vai completar 29 anos a 22 de dezembro deste ano.
Tinha 13 anos quando se juntou a uma equipa de futebol, no ADC Adémia. Ficou seis épocas, até 2006. Depois de uma passagem fugaz pelo Oliveira do Hospital, juntou-se ao Tourizense em 2006/07, clube de onde saiu para a Académica de Coimbra e a primeira Liga em 2008/09. Em 2012/2013 rumou mais a norte, a Braga, para assinar pelo Sporting local. Em 2015/16 tentou o estrangeiro ao assinar pelo Swansea City, de Gales, que disputa a Premier League inglesa. Nessa mesma época, as exibições menos conseguidas abriram-lhe as portas do campeonato francês e ingressou no Lille. Domingo não se encolheu e perante a oportunidade, ao minuto 109 da final Portugal-França, rematou rasteiro e fez o golo que deu a vitória aos portugueses sobre a equipa nacional de França, atual país de acolhimento. Precisou apenas de 54 minutos no Euro 2016 para atingir a glória. Éder chegou a meio desta época a França, por empréstimo dos galeses do Swansea City. Em 13 jogos marcou seis golos pelo Lille, um dos quais assegurou a participação do clube na próxima edição da Liga Europa. Talvez por isso, assinou contrato por quatro épocas com o clube da Ligue 1.