Caracóis. O petisco de verão que vem de Marrocos para os nossos pratos

Caracóis. O petisco de verão que vem de Marrocos para os nossos pratos


O petisco já conquistou os chineses, que aparecem em força na principal casa dos caracóis. Um apetite que não para de aumentar


São consumidos maioritariamente no sul do país, mas estão a conquistar cada vez mais adeptos. As placas à porta dos restaurantes anunciam que há caracóis e não há apreciador que não esteja preparado para o petisco, muito embora os que chegam às nossas mesas sejam maioritariamente importados do norte de África.

Até porque todos os anos é só repetir a fórmula. Apesar de ser um petisco odiado por muitos – sobretudo mais a norte do país -, chega o verão, com os dias quentes, e as esplanadas começam a ficar cheias de adeptos dos caracóis. O negócio é alimentado graças às toneladas que se importam de Marrocos.Montra que é montra tem de dizer “há caracóis”, e começa a divisão entre os que não querem perder a oportunidade de comer enquanto dura a estação e os que não entendem a euforia que se cria em torno destes animais.Lisboa é uma das cidades onde mais se encontram esplanadas apinhadas de adeptos deste moluscos. E na capital é impossível falar do assunto sem mencionar o “Júlio”. É a casa mais conhecida da Rua Vale Formoso de Cima, em Marvila, e apesar da crise, não há verão sem o negócio dos caracóis. Vasco Rodrigues já se habituou às filas de espera para conseguir um lugar. Ao i, o responsável pelo espaço, que nasceu entre caracóis – até porque o negócio que tem já era do pai -, explica que “a procura de caracóis é cada vez maior. As pessoas continuam a gostar muito e a consumir muito. A única diferença é que talvez não gastem tanto como já gastaram em tempos. Os chineses agora são quem gasta mais”. E acrescenta: “Os caracóis vêm de Marrocos e os portugueses, sem dizer números precisos, consomem toneladas. Mas este ano tem havido menos quantidade. Esta segunda temporada é que parece estar a correr melhor.”Com oito empregados, Vasco explica que, muitas vezes, tem de ter colaboradores em part-time. Chegam a ser 23, sempre com casa cheia. “Então quando há bola, isto parece o fim do mundo”, sublinha, dando o exemplo do que tem acontecido com os jogos do Euro 2016.

Produção rende milhões Apesar de ainda não existirem dados conclusivos quanto a 2016, a verdade é que em 2015 já se falava deste que é um dos maiores negócios do verão. Muito embora os caracóis que chegam às mesas portuguesas sejam de origem marroquina ou espanhola, a produção em Portugal ultrapassava no ano passado as 500 toneladas e rendia três milhões de euros.

De acordo com os dados divulgados no Encontro Nacional de Helicicultores, existiam no ano passado uma centena e meia de produtores nacionais, em todo o país, e 300 hectares de área de produção. Aliás, os números não enganam. Este negócio tem vindo a crescer de ano para ano. Entre 2012 e 2013, o número de produtores aumentou em mais de 200%, principalmente graças ao financiamento comunitário.Já nesta altura se sublinhava o facto de Portugal consumir por ano mais de 13 mil toneladas de caracóis. Também os dados de 2014 mostram que foram produzidas 500 toneladas, que acabaram por permitir uma faturação na ordem dos três milhões de euros.

Jovens investem no negócio Os apoios por parte da União Europeia permitiram aumentar o número de produtores nos últimos anos. E de acordo com a Cooperativa dos Helicicultores, permitiram ainda a divulgação do produto a nível internacional, o que tem alavancado a produção e o consumo interno.No ano passado, os países que faziam parte da lista de exportação eram Espanha, Itália e França. E a verdade é que este negócio chama cada vez mais produtores, nomeadamente os mais jovens. Em 2015, Paulo Geraldes, da Cooperativa dos Helicicultores, sublinhava que esta faixa etária tem mostrado cada vez mais interesse pela área: “Os jovens agricultores fazem neste momento uma série de opções e análises dessas opções e alguns enveredam por outras áreas, como a pêra-abacate, na zona sul, e os pequenos frutos, as ervas aromáticas, os cogumelos, e alguns pela helicicultura.”

Febre dos caracóis Em Portugal, o consumo de caracóis é garantido todos os anos, ainda que exista uma diferença de gostos que se divide por zonas geográficas – no norte, este petisco não é tão apreciado. Seja como for, a febre dos caracóis no verão já fez mesmo com que este petisco tivesse direito a vários festivais que se realizam em diversas zonas do país. Cozidos com orégãos, grelhados na chapa ou até em feijoada, nestes festivais há de tudo.No mês passado, o petisco foi uma das apostas de Faro, Algarve. O Festival do Caracol desta zona do sul do país prometia dar a provar caracóis confecionados de 1001 maneiras.A procura de uma esplanada com uma cerveja e um prato de caracóis já vem de há muito tempo. Há quase dez anos, o consumo de caracóis em Portugal chamava a atenção. Nesta altura, estimava-se que, por ano, fossem consumidos três a quatro milhões de quilos de caracóis. Norte não está convencido Mais a norte existe quem goste e coma. Há restaurantes que têm o petisco, mas a percentagem de quem não quer sequer ouvir falar em caracóis continua a ser grande. Em 2007, um apaixonado por estes moluscos arriscou organizar a Feira do Caracol em Leça da Palmeira, Matosinhos. O evento teve algum sucesso, mas não conseguiu enraizar o hábito. Na hora de petiscar, os portuenses, por exemplo, preferem as moelas ou as pataniscas.