Manuel Alegre. “Querem castigar Portugal por ter um governo de esquerda”

Manuel Alegre. “Querem castigar Portugal por ter um governo de esquerda”


Histórico do PS critica instituições europeias por causa das sanções. A decisão voltou a ser adiada


O histórico do PS Manuel Alegre critica duramente a postura das instituições europeias por ameaçarem aplicar sanções a Portugal e considera que este debate só está em cima da mesa porque existe um governo de esquerda.

“Estão a utilizar um formalismo jurídico para, politicamente, castigar Portugal por o país ter um governo de esquerda. Isso é, além de injusto, um grande erro político nas circunstâncias atuais e dá impressão que o sr. Schäuble e aqueles que com ele estão coordenados querem que na Europa haja governos alinhados. Uma nova espécie de governos de Vichy”, diz, em declarações ao i, Manuel Alegre. O ex-deputado do PS não tem dúvidas de que “a intenção política é dificultar a vida ao governo do PS apoiado por dois partidos de esquerda”.

Manuel Alegre não ataca só a União Europeia. O socialista lamenta a postura de Passos Coelho e de Maria Luís Albuquerque durante este processo. Em relação ao presidente do PSD, diz que “não é bonito que Passos Coelho coloque a partidarite acima do que devia ser a defesa do interesse de Portugal e do povo português”. Sobre a ex-ministra das Finanças, Alegre diz que “seria bom” que explicasse porque é que afirmou que “se fosse ela a ministra das Finanças, não havia sanções. É uma pergunta que não pode deixar de ser feita”.

O histórico socialista espera, porém, que “prevaleça o bom senso nas instituições europeias e, sobretudo, que se dê uma volta a esta conceção punitiva” que atinge países como Portugal. “Nós não entrámos para a Europa para sermos destroçados como país”, afirma Alegre, alertando para que “situações desta natureza deixam perspetivas sombrias” sobre o futuro da Europa. “Isto abre caminho ao desencanto, ao descontentamento, ao populismo e, em certos países, à extrema-direita”, conclui o socialista.

Comissão adia decisão Ainda não foi desta que a Comissão Europeia decidiu se vai ou não aplicar sanções a Portugal e Espanha por incumprimento do défice. Pierre Moscovici, comissário para os Assuntos Económicos, disse apenas que o assunto foi discutido e que será anunciada uma decisão “muito em breve”. Moscovici, numa conferência de imprensa em Estrasburgo sobre o combate à evasão fiscal, defendeu que as regras europeias são para cumprir, mas de uma forma inteligente. “Iremos atuar em cumprimento das regras do Pacto, que têm de ser respeitadas. É uma questão de credibilidade. Mas estas regras também são inteligentes e exige-se que sejam aplicadas de forma inteligente, e é nesse espírito que vamos decidir muito em breve.” O mais provável é a decisão ser tomada amanhã.

Ataque à democracia O Bloco de Esquerda criticou mais um adiamento da União Europeia. Catarina Martins, coordenadora do BE, defendeu que “o que está a acontecer neste momento é um ataque à democracia em Portugal e à nossa economia, porque o que está a ser feito é fazer adiamentos sucessivos para fazer pressão sobre o atual governo”.

Do lado do PSD, Luís Montenegro defendeu que “só com inabilidade e incompetência do governo haverá sanções”. Montenegro rejeita a ideia de quaisquer sanções, defendendo que, mesmo que simbólicas, seriam “injustas e discriminatórias”. “Não há fundamento para a aplicação de sanções”, afirmou o líder parlamentar do PSD. Carlos Carreiras, num artigo no i, defende que “as sanções só estão em cima da mesa porque este governo está a pôr em causa todos os compromissos assumidos relativamente ao futuro”.