“A discórdia almoça com a abundância, janta com a pobreza, ceia com a miséria e dorme com a morte.”
Benjamin Franklin
Alguma esquerda e alguma direita “caviar” têm-se aproximado da extrema-esquerda no nosso país para, juntas, diabolizarem e torpedearem vários governos, vários países e vários povos da CPLP. Utilizam sobretudo para esse fim o palco político e o palco mediático. E com isso intoxicam parte da opinião pública portuguesa, colocando-a na frequência de modo anti-CPLP. Utilizam alguns argumentos sobretudo argumentos do tipo de considerarem que a CPLP deve ser uma organização internacional exclusivamente do português e dos direitos humanos, enfatizando alguns casos concretos de países, de governos e de pessoas que não preenchem os requisitos necessários para a observância da preservação da herança linguística portuguesa e também da qualidade da democracia e da governança demoliberal ocidental – isto para além de uma intoxicação permanente que alguns fazem, junto de organizações internacionais não governamentais, para que atuem em fóruns internacionais e no espaço de intermediação mediática contra tudo o que diga respeito à generalidade dos países e dos governos dos Estados-membros da CPLP. Pelo meio de toda esta campanha anti-CPLP, alimentada por chavões generalistas do tipo “esta CPLP não serve”, “a CPLP não foi criada para isto”, “a CPLP da língua não existe”, “está-se a molestar o português”, etc., é cada vez mais percetível (gostem ou não que se o constate) a existência de uma vontade de, na prática, portugalizar a CPLP. Ou seja, Portugal (mesmo que informalmente) acaba por deixar perceber que, como país dono e senhor da língua portuguesa e único país-membro da CPLP que, em simultâneo, é membro da União Europeia e do clube dos países-estandartes da democracia demoliberal, quer impor a sua agenda para a CPLP e que, sem que isso seja assimilado, então a CPLP não está no caminho certo. Esta vontade de portugalizar a CPLP tem criado e alimentado muitos dos seus problemas. Criado divisões, desconfianças, afastando governos, prejudicando a organização, o funcionamento e o relacionamento da CPLP com os seus Estados e com os seus governos. Tem manietado e condicionado a CPLP, para prosseguir um caminho de aprofundamento e alargamento dos seus objetivos estratégicos e dos seus membros efetivos, e até dos seus países observadores. O mais incoerente no meio de tudo isto é que vários dos que falam e criticam a CPLP, cá no território português, europeu e ocidental, quase nunca ninguém os ouviu e viu criticarem países como, por exemplo, a Bielorrússia (país-membro do Conselho da Europa), o Kosovo, a Gâmbia, a Coreia do Norte e vários outros países de todos os continentes que, em matéria de direitos humanos e de qualidade da democracia, estão muito longe do minimamente aceitável. A somar a esta incoerência (porque existem muitas), alguns dos que na política “caviar” portuguesa diabolizam a CPLP adoram participar em cerimónias e banquetes oficiais, em países da CPLP e sobretudo cá, aquando das visitas oficiais de vários dos seus principais dignitários e representantes dos Estados e seus governos. É um erro esta portugalização da CPLP. Todos perdem, países e povos. Mas Portugal perde mais. Até porque tem sido um dos países que mais têm ganho com a sua existência. E não só por a sua sede ser em Portugal e a esmagadora maioria dos seus funcionários serem portugueses. E também por receber os demais funcionários e diplomatas no nosso território. Mas é bom recordarmos também a importância que a CPLP tem tido nos seus territórios para milhões de portugueses, milhares de empresas portuguesas, de entre muitas outras coisas positivas para Portugal e para os portugueses. O mundo tem mais de 7 mil milhões de pessoas e quase 200 países. Se Portugal adotar como critério formal e rigoroso, nas suas relações Estado a Estado e nas organizações supraestaduais de que faz parte, só se relacionar com países solidamente alicerçados em Estados de direito democráticos onde os direitos, liberdades e garantias e onde o supremo respeito pelos direitos humanos estão assegurados, então sejamos coerentes. Todos sem exceção. Sendo assim, só teremos relações com poucas dezenas dos países que o mundo tem. E não poderemos assumir no plano internacional, quer no domínio político-diplomático, quer no domínio económico e social, o papel que outros países europeus e ocidentais assumem até com muitos dos países-membros da CPLP. Mas de tudo isso falaremos na próxima semana.