Tantas vezes vai o cântaro à fonte…


Nesta falta de projeto, de liderança e de ação em que a Europa se colocou emergem os populismos, os nacionalismos e os oportunismos em que até os partidos com uma matriz europeísta, de uma outra têmpera, dão cobertura aos eurocéticos.


É politicamente incorreto misturar política e futebol, mas é uma evidência que a seleção nacional que hoje joga (e espero que ganhe) está sintonizada com a liderança do país. Não ganha, mas isso faz parte da estratégia e serve os objetivos. Não joga bem, mas o que conta são os fins. E lá vai seguindo, sem vislumbre, mas com espírito de sobrevivência. O que conta são os resultados. Aliás, contam em Portugal, em Espanha, no Reino Unido e na Europa.

Como as palavras perderam o valor acrescentado de outros tempos e as atitudes seguiram idêntico trilho, assistimos ao triunfo dos resultados como referência para as pessoas. O problema é que, destruído o paradigma das previsões como algo credível, há a tentação de estar atento aos resultados. O diabo é que os resultados correm o risco de não servir de azimute, na medida em que variam consoante a leitura é de quem está no poder ou na oposição, sendo sensíveis a operações de maquilhagem e a truques para português ver. Por exemplo, em Portugal anunciam-se resultados positivos na execução orçamental até maio – uns dizem que é dos impostos sobre os combustíveis, outros que estão relacionados com o retardar de despesa com a União Europeia e as devoluções do IRS. Sem previsões credíveis e com uma geometria variável dos resultados, sem isenção para avaliar, cada um terá de gerar os seus critérios para fugir do ruído pretensamente sustentado na realidade.

Os espanhóis voltaram a votar para escolher representantes para gerar um governo. O fulgor das experiências à esquerda reconduziu a direita do PP a mais uma vitória e a estratégia de continuidade do PSOE, após a saída do governo com Zapatero, conduziu-o a mais uma derrota, a maior da sua história. A verdade, por muito que custe a alguns, é que nos países do ajustamento (Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha), nos últimos cinco anos, António José Seguro foi o único líder socialista que ganhou eleições e fê-lo contra coligações de direita. E as eleições em Espanha geraram mais deserdados políticos, como já tinha acontecido com o ostracizado Syriza na Grécia. O Podemos, que era inspiração para o Bloco de Esquerda e para alguns setores do PS, passou a desilusão. O PSOE, que era partido-irmão, com comícios conjuntos em Badajoz, foi deixado ao abandono político, na palavra e na ação. E parece não ser caso único.

Nesta voragem do vale-tudo, a Europa que temos tido foi interpelada pelo provérbio “tantas vezes vai o cântaro à fonte que algum dia parte-se”. Embora o Reino Unido seja um particular exemplo da participação com um pé dentro e outro fora, a verdade é que as estratégias político-partidárias quiseram colocar à prova o sentimento popular que lavra e alastra na Europa dos burocratas, dos funcionários que mais ordenam e da incapacidade para agir perante as necessidades dos povos, a exigência dos tempos e as novas dinâmicas, e a coisa correu mal. Quem participou quis dar uma lição aos ziguezagues nacionais e aos burocratas de Bruxelas, sem cuidar dos riscos para o futuro. E vai daí, os desiludidos da inspiração Syriza e da quase certeza Podemos, o Bloco de Esquerda, agitaram também com um referendo em Portugal, sem cuidar, como em tantas outras matérias, se era possível o que propunham. E não era. Foi como se a proximidade ao poder tivesse feito com que o Bloco apanhasse o vírus das inconstitucionalidades da governação anterior. Coisas do poder! A verdade é que, com o cântaro partido, apesar dos discursos preocupados, pouco está a ser feito para que as razões que fundam a rejeição aos europeístas de meia tigela seja atalhada. E assim não haverá cântaro ou bilha que nos valha e tudo continuará na mesma.

Nesta falta de projeto, de liderança e de ação em que a Europa se colocou emergem os populismos, os nacionalismos e os oportunismos em que até os partidos com uma matriz europeísta, de uma outra têmpera, dão cobertura aos eurocéticos e aos que convivem bem com a atitude do pé dentro e do pé fora, na política nacional e na política europeia. Contra a construção europeia, mas com o conforto político das benesses dos mandatos no Parlamento Europeu. Até ao dia em que o cântaro se parta.

Porque Merkel anula a possibilidade de uma construção europeia partilhada em que não seja apenas um a mandar.

Porque as regras europeias não podem ser de geometria variável, aplicadas a uns e perdoadas a outros.

Militante do PS

 

Tantas vezes vai o cântaro à fonte…


Nesta falta de projeto, de liderança e de ação em que a Europa se colocou emergem os populismos, os nacionalismos e os oportunismos em que até os partidos com uma matriz europeísta, de uma outra têmpera, dão cobertura aos eurocéticos.


É politicamente incorreto misturar política e futebol, mas é uma evidência que a seleção nacional que hoje joga (e espero que ganhe) está sintonizada com a liderança do país. Não ganha, mas isso faz parte da estratégia e serve os objetivos. Não joga bem, mas o que conta são os fins. E lá vai seguindo, sem vislumbre, mas com espírito de sobrevivência. O que conta são os resultados. Aliás, contam em Portugal, em Espanha, no Reino Unido e na Europa.

Como as palavras perderam o valor acrescentado de outros tempos e as atitudes seguiram idêntico trilho, assistimos ao triunfo dos resultados como referência para as pessoas. O problema é que, destruído o paradigma das previsões como algo credível, há a tentação de estar atento aos resultados. O diabo é que os resultados correm o risco de não servir de azimute, na medida em que variam consoante a leitura é de quem está no poder ou na oposição, sendo sensíveis a operações de maquilhagem e a truques para português ver. Por exemplo, em Portugal anunciam-se resultados positivos na execução orçamental até maio – uns dizem que é dos impostos sobre os combustíveis, outros que estão relacionados com o retardar de despesa com a União Europeia e as devoluções do IRS. Sem previsões credíveis e com uma geometria variável dos resultados, sem isenção para avaliar, cada um terá de gerar os seus critérios para fugir do ruído pretensamente sustentado na realidade.

Os espanhóis voltaram a votar para escolher representantes para gerar um governo. O fulgor das experiências à esquerda reconduziu a direita do PP a mais uma vitória e a estratégia de continuidade do PSOE, após a saída do governo com Zapatero, conduziu-o a mais uma derrota, a maior da sua história. A verdade, por muito que custe a alguns, é que nos países do ajustamento (Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha), nos últimos cinco anos, António José Seguro foi o único líder socialista que ganhou eleições e fê-lo contra coligações de direita. E as eleições em Espanha geraram mais deserdados políticos, como já tinha acontecido com o ostracizado Syriza na Grécia. O Podemos, que era inspiração para o Bloco de Esquerda e para alguns setores do PS, passou a desilusão. O PSOE, que era partido-irmão, com comícios conjuntos em Badajoz, foi deixado ao abandono político, na palavra e na ação. E parece não ser caso único.

Nesta voragem do vale-tudo, a Europa que temos tido foi interpelada pelo provérbio “tantas vezes vai o cântaro à fonte que algum dia parte-se”. Embora o Reino Unido seja um particular exemplo da participação com um pé dentro e outro fora, a verdade é que as estratégias político-partidárias quiseram colocar à prova o sentimento popular que lavra e alastra na Europa dos burocratas, dos funcionários que mais ordenam e da incapacidade para agir perante as necessidades dos povos, a exigência dos tempos e as novas dinâmicas, e a coisa correu mal. Quem participou quis dar uma lição aos ziguezagues nacionais e aos burocratas de Bruxelas, sem cuidar dos riscos para o futuro. E vai daí, os desiludidos da inspiração Syriza e da quase certeza Podemos, o Bloco de Esquerda, agitaram também com um referendo em Portugal, sem cuidar, como em tantas outras matérias, se era possível o que propunham. E não era. Foi como se a proximidade ao poder tivesse feito com que o Bloco apanhasse o vírus das inconstitucionalidades da governação anterior. Coisas do poder! A verdade é que, com o cântaro partido, apesar dos discursos preocupados, pouco está a ser feito para que as razões que fundam a rejeição aos europeístas de meia tigela seja atalhada. E assim não haverá cântaro ou bilha que nos valha e tudo continuará na mesma.

Nesta falta de projeto, de liderança e de ação em que a Europa se colocou emergem os populismos, os nacionalismos e os oportunismos em que até os partidos com uma matriz europeísta, de uma outra têmpera, dão cobertura aos eurocéticos e aos que convivem bem com a atitude do pé dentro e do pé fora, na política nacional e na política europeia. Contra a construção europeia, mas com o conforto político das benesses dos mandatos no Parlamento Europeu. Até ao dia em que o cântaro se parta.

Porque Merkel anula a possibilidade de uma construção europeia partilhada em que não seja apenas um a mandar.

Porque as regras europeias não podem ser de geometria variável, aplicadas a uns e perdoadas a outros.

Militante do PS