Istambul, na Turquia, foi palco de um atentado terrorista na terça-feira. É já considerado pelo governador da cidade o ataque mais violento deste ano e espera-se que tenha um forte impacto negativo no turismo. Só desde o início deste ano, a Turquia já regista o quinto ataque suicida, o que complica a realidade do país, que vê no setor do turismo uma das suas principais fontes de rendimento.
Em apenas alguns meses, os ataques em Istambul e Ancara fizeram centenas de mortos e feridos e levaram a uma preocupante mudança no panorama do turismo do país. Na sequência dos ataques na Turquia, o número de chegadas a este país atingiu o nível mais baixo em duas décadas.
Dados preocupam O ataque ao aeroporto, que fez na terça-feira 41 mortos e mais de 200 feridos, aconteceu numa altura que costuma ser marcada por mais procura turística.
No entanto, o Ministério do Turismo turco já tinha avisado em maio que este mês registou uma queda de cerca de 35% nos números de turistas estrangeiros a procurar o país, o que representa cerca de 2,5 milhões de visitantes.
Meses de recuperação Os exemplos mais recentes mostram que, a seguir a um ataque terrorista, há sempre uma queda inevitável na procura dos destinos.
Os atentados em Paris, em novembro do ano passado, penalizaram desde cedo o setor. Perante o receio de novas investidas, houve um verdadeiro travão nas viagens. Um dos impactos mais imediatos foi na bolsa. Todo o setor começou a ressentir-se, com o índice que agrega desde companhias aéreas a restaurantes e hotéis a ganhar grande destaque nas perdas.
Aliás, no mês passado, as consequências ainda se sentiam na capital francesa. Os turistas ainda não começaram a voltar em peso à Cidade-Luz. O cenário atual é marcado por uma baixa ocupação hoteleira e restaurantes que viram melhores dias e mais turistas.
Em abril, por exemplo, a taxa de ocupação caiu cerca de 11 pontos, chegando a atingir os 70%, em comparação com 81,4% do ano anterior.
Como forma de atrair mais turistas, os hotéis baixaram os preços e, de acordo com o indicador RevPar, registou-se mesmo uma queda de quase 20% na faturação.
De acordo com um estudo da agência especializada Forward-Keys, publicado durante o mês de março, o número de visitantes estrangeiros registou uma queda de 22% em relação a 2015.
Esta tendência generaliza-se um pouco por todos os países que ficaram marcados por ataques terroristas. Em 2002, por exemplo, Bali sofreu um ataque terrorista na praia de Kuta que causou a morte a 202 pessoas. Novo ataque surgiu no mesmo mês e local, em 2005, com duas dezenas de mortos.
Uma das consequências disto foi o facto de Bali ter visto as suas receitas com turistas caírem drasticamente.
O que pode o setor esperar? Com atentados e ameaças à escala global, os impactos não são fáceis de prever.
Principalmente porque os impactos económicos de ocorrências como a de Paris ou de Bali se medem em três dimensões. De acordo com a análise que Paulo Reis Mourão, investigador da Universidade do Minho, fez aquando dos atentados de Paris, existem os prejuízos imediatos, consequência da destruição; em segundo lugar, o cancelamento de investimentos mais ou menos avultados; e em terceiro, e como consequência dos dois anteriores, os impactos em termos laborais e demográficos.
No entanto, como explicou Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), “há valores que a civilização ocidental já tem como adquiridos, e um deles é a possibilidade de circular em segurança, é o direito a viajar. Não acredito que se prescinda disso”.
Também o então presidente do Turismo de Portugal, João Cotrim Figueiredo, recordou, por esta altura, que atentados deste género se dirigem principalmente contra tudo aquilo que o turismo representa. “O turismo é cada vez mais uma manifestação de humanidade, de tolerância, de aproximação de pessoas e de culturas diferentes.”