Extinção. Procurem a Dory mas não a ponham no aquário

Extinção. Procurem a Dory mas não a ponham no aquário


Mais uma vez, o sucesso de um animal usado num filme de animação está a pôr em risco a sua sobrevivência em habitat natural. Já aconteceu com Nemo e os ambientalistas estão a fazer tudo para que Dory não siga o exemplo.


A ideia é juntar a família, ir ao cinema mais próximo, comprar o maior balde de pipocas disponível e usufruir de 1h37 do melhor que é feito em cinema de animação. Há 13 anos que os fãs do Nemo esperam por ver a sua amiga Dory passar de personagem secundária a principal no mais recente filme da Pixar. O dia chegou e, com ele, além de recordes de bilheteira, vieram também as preocupações dos ambientalistas, que temem pela sobrevivência da espécie Paracanthurus hepatus, mais conhecida como cirurgião-patela.

Não é que os mais preocupados com a continuidade das espécies no planeta queiram vir estragar a festa de um filme que já bateu recordes de bilheteira nos Estados Unidos e, no último fim de semana, foi o filme mais visto nos cinemas portugueses. A verdade é que a história cinematográfica mundial está cheia de maus exemplos dados pelos espetadores que, não satisfeitos em ver determinado animal no grande ecrã, fazem questão de o transformar no seu animal de estimação. Aconteceu com as Tartarugas Ninja na década de 90, com a Lassie anos antes, com os dálmatas sempre que saía um novo filme e até com as corujas do Harry Potter. Mesmo quando o filme faz questão de passar uma mensagem ambientalista, o efeito não é o esperado. Foi o que aconteceu com “À Procura de Nemo” que, apesar de apelar a que os animais não sejam retirados do seu habitat, fez com que mais de um milhão de peixes-palhaço fossem capturados, levando à sua extinção em alguns recifes.

Agora, com o lançamento de “À Procura de Dory”, os ambientalistas decidiram antecipar-se à crise e pedir para que não transformem as personagens do filme em animais de estimação.

Risco de extinção Quando, em 2003, “À Procura de Nemo” foi lançado, o sucesso não se ficou pela personagem principal. De acordo com um estudo publicado alguns anos depois pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), 16% de espécies de animais relacionados com os personagens do filme estão ameaçadas de extinção. Da lista, são os tubarões-martelo e branco, as arraias-águia e as tartarugas-marinhas os que mais correm o risco de desaparecer.

As percentagens variam entre 9% no caso dos peixes ósseos como o Nemo e a Dory até 100% quando se fala em tartarugas-marinhas. Quanto aos cavalos–marinhos, são 43% em risco de extinção, assim como 13% dos pelicanos. Os investigadores aproveitaram a oportunidade para lembrar que algumas das espécies em questão não estão devidamente protegidas. É o caso dos tubarões e das raias: apenas 8% das espécies analisadas estão protegidas, embora no caso dos tubarões da família Lamna, que inclui o tubarão-branco, o risco de extinção seja de 80%.

Nos Estados Unidos foi criado em 2005 uma organização chamada “Saving Nemo”, dedicada ao resgate de peixes selvagens capturados e conservação das espécies através de programas educacionais.

Petição Se o que aconteceu com o Nemo já foi suficiente para lançar o alerta, a Dory é, para os ambientalistas, o verdadeiro motivo de preocupação – isto porque, ao contrário do peixe-palhaço do primeiro filme, o cirurgião-patela não se reproduz em cativeiro e, por isso, os peixes vendidos são todos eles selvagens.

Para a captura destes animais é usada uma técnica ilegal, à base de cianeto. Os apreciadores da espécie partem o recife de coral e lançam para o seu interior cianeto de sódio para atordoar o animal e ser mais fácil a sua captura. No entanto, este é um método que, além de pôr em risco a espécie, afeta também todas as outras em redor.

Com este cenário em mente, um grupo de defensores da espécie criou uma petição para que a Pixar tome precauções para garantir que as espécies do filme sejam protegidas. O documento online, que conta já com mais de 115 mil assinaturas, pede à Pixar para exibir um anúncio antes do filme no qual alerte para a necessidade de proteger as Dorys existentes nos oceanos da vida real.