Dividir para reinar?


Por aqui é reino do Alvarinho, vinho já considerado um dos melhores brancos do mundo. Do mundo! Ó senhores da Europa, retirai-vos do sono que vos tem embotado a vista. Descei do palanque e ide plantar ideias de gente no vosso descampado. Se é que ides a tempo…


Na muralha fernandina de Monção, num dos miradouros sobre o rio Minho, está um busto do poeta João Verde (pseudónimo de José Rodrigues Vale), e num painel de azulejos em frente podem ler-se os versos do poema : “(…) A Galiza mail’o Minho,/ São como dois namorados/ Que o rio traz separados/ Quasi desde o nascimento. (…)”O poeta raiano cantou como ninguém a secessão da região galaico-minhota, dividida pelo rio que ali faz fronteira entre os dois países peninsulares. Assim continuam Portugal e Espanha, hoje separados apenas pela fronteira física. As gentes, essas, continuam a sassaricar de cá para lá e de lá para cá, indiferentes às ordenanças dos poderes instituídos. Desde que não lhes estorvem a vida e o quotidiano vaivém com restrições, normalizações, imposições e todos as “ões” que os donos do pedaço sempre se arrogam o direito de atalhar, pouca monta lhes faz a divisão.

Coisa muito parecida se passa com a União Europeia que, depois de se afadigar a construir o seu castelo burocrático e de assassinar o entusiasmo inicial dos povos com os processos de adesão, conseguiu conquistar a indiferença generalizada dos seus cidadãos – basta ver as generalizadas taxas de abstenção que as eleições europeias colhem. Indiferença que progressivamente viria a revelar-se tóxica, a ponto de envenenar o sentimento de pertença a um espaço comum onde se prometeu que as desigualdades regionais se esbateriam e onde a matriz cultural e civilizacional se sonhou o cimento da consciência identitária europeia. Se já ziguezagueava em derivas ideológicas perigosas, a crise financeira que, vinda dos poderosos e desnorteados Estados Unidos, lhe caiu em cima, foi um estrondear de políticas desastrosas que cavou de vez o divórcio entre os povos europeus e a UE. De nada serve invocar que a construção europeia se pensou para melhorar a vida dos cidadãos e que muitos benefícios houve a registar. A obsessão das medidas de austeridade mergulhou a Europa num marasmo económico. A primazia da política financeira, a diabolização das dívidas e dos défices públicos, isto associado ao total alheamento dos danos causados à vida das pessoas – que deixaram completamente de existir na linguagem dos eurocratas -, explicam o atual e confrangedor estado da União Europeia: mais à beira de deixar de o ser. Primeiro foi o folhetim do Grexit, agora saiu-lhe o Brexit. E o mais que se verá.

Respirando a beleza da tarde no parque de merendas, a ver o rio a correr quase parado, na outra banda o arvoredo reverberando a folhagem no espelho das águas do Minho, silencioso e compenetrado no seu jeito galego. Do lado de cá, a ecopista segue rente ao rio até Valença. E a vila de Monção, moçoila raiana entre as muralhas, a dar-se ares de cidade fora delas, espreita o rio e vai mirando a Galiza, fazendo eco do verso que perdura: “A Galiza mail’o Minho”…

Por aqui é reino do Alvarinho, vinho já considerado um dos melhores brancos do mundo. Do mundo! Ó senhores da Europa, retirai-vos do sono que vos tem embotado a vista. Descei do palanque e ide plantar ideias de gente no vosso descampado. Se é que ides a tempo…

Enquanto isso, um copo de Alvarinho: à vossa saúde!

Gestora


Dividir para reinar?


Por aqui é reino do Alvarinho, vinho já considerado um dos melhores brancos do mundo. Do mundo! Ó senhores da Europa, retirai-vos do sono que vos tem embotado a vista. Descei do palanque e ide plantar ideias de gente no vosso descampado. Se é que ides a tempo...


Na muralha fernandina de Monção, num dos miradouros sobre o rio Minho, está um busto do poeta João Verde (pseudónimo de José Rodrigues Vale), e num painel de azulejos em frente podem ler-se os versos do poema : “(…) A Galiza mail’o Minho,/ São como dois namorados/ Que o rio traz separados/ Quasi desde o nascimento. (…)”O poeta raiano cantou como ninguém a secessão da região galaico-minhota, dividida pelo rio que ali faz fronteira entre os dois países peninsulares. Assim continuam Portugal e Espanha, hoje separados apenas pela fronteira física. As gentes, essas, continuam a sassaricar de cá para lá e de lá para cá, indiferentes às ordenanças dos poderes instituídos. Desde que não lhes estorvem a vida e o quotidiano vaivém com restrições, normalizações, imposições e todos as “ões” que os donos do pedaço sempre se arrogam o direito de atalhar, pouca monta lhes faz a divisão.

Coisa muito parecida se passa com a União Europeia que, depois de se afadigar a construir o seu castelo burocrático e de assassinar o entusiasmo inicial dos povos com os processos de adesão, conseguiu conquistar a indiferença generalizada dos seus cidadãos – basta ver as generalizadas taxas de abstenção que as eleições europeias colhem. Indiferença que progressivamente viria a revelar-se tóxica, a ponto de envenenar o sentimento de pertença a um espaço comum onde se prometeu que as desigualdades regionais se esbateriam e onde a matriz cultural e civilizacional se sonhou o cimento da consciência identitária europeia. Se já ziguezagueava em derivas ideológicas perigosas, a crise financeira que, vinda dos poderosos e desnorteados Estados Unidos, lhe caiu em cima, foi um estrondear de políticas desastrosas que cavou de vez o divórcio entre os povos europeus e a UE. De nada serve invocar que a construção europeia se pensou para melhorar a vida dos cidadãos e que muitos benefícios houve a registar. A obsessão das medidas de austeridade mergulhou a Europa num marasmo económico. A primazia da política financeira, a diabolização das dívidas e dos défices públicos, isto associado ao total alheamento dos danos causados à vida das pessoas – que deixaram completamente de existir na linguagem dos eurocratas -, explicam o atual e confrangedor estado da União Europeia: mais à beira de deixar de o ser. Primeiro foi o folhetim do Grexit, agora saiu-lhe o Brexit. E o mais que se verá.

Respirando a beleza da tarde no parque de merendas, a ver o rio a correr quase parado, na outra banda o arvoredo reverberando a folhagem no espelho das águas do Minho, silencioso e compenetrado no seu jeito galego. Do lado de cá, a ecopista segue rente ao rio até Valença. E a vila de Monção, moçoila raiana entre as muralhas, a dar-se ares de cidade fora delas, espreita o rio e vai mirando a Galiza, fazendo eco do verso que perdura: “A Galiza mail’o Minho”…

Por aqui é reino do Alvarinho, vinho já considerado um dos melhores brancos do mundo. Do mundo! Ó senhores da Europa, retirai-vos do sono que vos tem embotado a vista. Descei do palanque e ide plantar ideias de gente no vosso descampado. Se é que ides a tempo…

Enquanto isso, um copo de Alvarinho: à vossa saúde!

Gestora