Mariano Rajoy reafirmou ontem que a sua prioridade nos contactos para um novo governo é o PSOE. “Vou tentar ser investido para aprovar o orçamento de 2017, tal como garantir a aprovação das leis necessárias e cumprir os nossos compromissos europeus, com o PSOE.” Rajoy afirmou aos jornalistas que preferia essa coligação a um governo suportado por PP, Ciudadanos, PNV e Coligação Canária, que garantiria apenas 175 deputados e ficaria a um da maioria absoluta.
O atual presidente do governo não se mostrou muito efusivo na sua primeira entrevista pós–eleitoral , na Cadena Cope, sublinhando apenas que estava contente, tal como os membros da direção do PP, com os resultados: “De vez em quando tenho direito a ficar satisfeito”, disse.
Durante a entrevista, o presidente do PP sublinhou a importância do seu partido e do PSOE na construção da democracia em Espanha e defendeu que as notícias da morte do “bipartidarismo”, pela erupção do Podemos e dos Ciudadanos, foram muito exageradas. Rajoy confessou que já tinha falado, ontem de manhã, com o líder dos socialistas, Pedro Sánchez, quando este lhe ligou para o felicitar pela vitória, mas que não lhe tinha feito nenhuma oferta. “Ele disse-me que estava de acordo que devíamos conversar. No entanto, não abordámos nenhum conteúdo de fundo, até porque não era o momento indicado”, afirmou. Terá também reuniões com Pablo Iglesias do Podemos e Albert Rivera do Ciudadanos, que o felicitaram por mensagem telefónica pela sua vitória nas urnas.
Sobre o falhanço do chamado “sorpasso” do Podemos ao PSOE, Rajoy afirmou que muita gente pode ter-se sentido defraudada, nestes últimos anos, por causa da gestão feita por PP e PSOE da crise económica, “mas que uma coisa era discursar e outra era dar trigo”. “As receitas do Podemos não servem para a Europa em que vivemos.”
A ronda de contactos oficiais entre o monarca e os partidos políticos, para a indigitação do candidato a formar governo, vai iniciar-se a 19 de julho. O líder do PP afirma que quer ter, nessa altura, um acordo sensato com o PSOE, “para facilitar as coisas ao rei”.
Este clima de lua-de-mel durou pouco tempo. Na sua reunião de ontem, a executiva do PSOE declarou que não apoiaria a investidura, no parlamento, de Mariano Rajoy, nem sequer com a sua abstenção.
O porta-voz do PSOE no parlamento, Antonio Hernando, afirmou que os socialistas não descartavam, caso Rajoy não consiga maioria, tentar outra vez formar governo com Podemos e Ciudadanos, embora reconheça “que as forças da mudança estão mais frágeis depois destas eleições e que é mais difícil [este cenário]”.
Por sua vez, o líder do Ciudadanos, Albert Rivera, recusou a possibilidade de uma coligação com o PP, Ciudadanos e o Partido Nacionalista Basco, que somaria 175 deputados em 350 lugares, dizendo que o seu partido se recusa a participar em qualquer coligação com partidos nacionalistas [expressão utilizada por Rivera para qualificar os bascos, catalães e outros que querem a autodeterminação, e que deixa de fora os partidos nacionalistas e centralistas de Madrid, como o PP e o Ciudadanos]. Mas a confusão não se fica por aí: apesar de Rajoy ter ganho 14 deputados em relação às eleições de dezembro, Rivera mantém que “não fará Rajoy presidente [do governo]”, parecendo fazer depender o seu apoio da mudança da liderança do PP – um cenário que não conseguiu impor em dezembro e que ainda mais dificilmente conseguirá impor agora.
No Podemos e Esquerda Unida, a situação é de lamber as feridas. É verdade que os resultados das eleições de domingo mantêm uma situação de desgaste do PP e PSOE: o PP regista uma perda de 11 pontos percentuais e mais de 3 milhões de votos, face aos resultados obtidos nas eleições de 2011, quando foi para o governo. O PSOE regista igualmente uma perda de 6 pontos percentuais e menos um milhão e 600 mil votos, face àquelas eleições. Mas a coligação com a Esquerda Unida perdeu cerca de um milhão de votos em relação a dezembro, quase tantos como os que tinha a Esquerda Unida. O líder desta formação, Alberto Garzón, reagiu aos críticos dizendo que, sem o pacto com o Podemos, os resultados seriam muito piores. Para Garzón como para Pablo Iglesias, “a confluência é o único caminho possível”, e reafirmou que é “preciso trabalhar mais a partir de baixo “.
O antigo número dois do Podemos, Juan Carlos Monodero, num artigo chamado “À primeira vez não se pode vencer”, defendeu que a formação de Pablo Iglesias cometeu erros infantis ao acreditar demasiado nas sondagens, ignorando que elas não são a palavra de Deus, e que o Brexit e o medo do desconhecido tiveram um papel relevante nestas eleições: para os eleitores, “mais vale um mal conhecido que um bem por conhecer”, escreveu.