Espanha. Mariano Rajoy ganha as eleições

Espanha. Mariano Rajoy ganha as eleições


O Partido Popular consegue subir 13 deputados, sobretudo à conta do Ciudadanos, e o bloco da direita está à frente do chamado bloco de esquerda: 169 contra 156 deputados. 


Às 20 horas locais, 19 horas de Lisboa, saíram as primeiras sondagens à boca das urnas. Seria um autêntico tremor de terra: Unidos Podemos ultrapassam PSOE e a soma dos dois partidos de esquerda dirigidos por Pablo Iglesias e Pedro Sánchez quase tocam a maioria absoluta. Uma verdadeira revolução? A contagem dos votos não confirma as sondagens: com 96,62% dos votos escrutinados, as sondagens e o Ciudadanos são os grandes derrotados destas eleições. Há uma espécie de regresso lento ao bipartidarismo. Sobretudo à conta da subida do partido de Mariano Rajoy, que ganharia 14 deputados, a maioria perdidos pelo Ciudadanos; e o Unidos Podemos teria os mesmos deputados que a soma dos eleitos de Podemos com a Esquerda Unida, mas não consegue ultrapassar o PSOE, que perde cinco deputados, para os 85. Um resultado tanto mais dececionante para o partido de Pablo Iglesias, porque não conseguiu rentabilizar o milhão de votos da Esquerda Unida, que devido ao sistema eleitoral espanhol só tinha conseguido dois deputados nas eleições de 20 de dezembro. 

A participação eleitoral baixou quase 3%, e o voto por correspondência atingiu quase 2% dos votantes.

Nas primeiras reações da noite, quando havia apenas sondagens, registadas pelos jornalista, segundo a reportagem da “La Sexta”, “Mariano Rajoy continua calmo”. Ao longo da noite acrescentaria a essa calma um copo de vinho. Em termos de comida, a passagem das sondagens para os resultados reais também melhorou a ementa na sede do PSOE. Segundo a reportagem da “La Sexta”, passaram de pão com chouriço para os lagostins, tudo isso devido a não terem sido ultrapassados pelo Unidos Podemos. 

No início da noite, o líder da Esquerda Unida, que concorre com o Podemos, Alberto Garzón, foi o primeiro político a falar às 20h47, dizendo que se se confirmassem as sondagens, havia dois blocos no país, “um bloco progressista e outro conservador, e que poderia haver um governo de esquerda que desse corpo à maioria social, caso o PSOE assim quisesse”. Mas o líder comunista foi prudente em relação às sondagens: eram apenas previsões.

Uma prudência que foi bastante justificada: com 96% dos votos, os resultados eram radicalmente diferentes. A soma de PP e Ciudadanos atingia 169 deputados, estando a apenas 7 votos da maioria absoluta. Foi nesse cenário que o secretário político do Podemos, Íñigo Errejón, apareceu a reconhecer que, a confirmarem-se os resultados, não são os que esperavam, mas que isso apenas “atrasa a mudança necessária em Espanha” e que o “espaço político do Podemos está para ficar”.

Terceiras eleições?

Vários especialistas consultados pelo diário espanhol “El País”, uma semana antes das eleições, afirmam que o “sorpasso” [ultrapassagem das forças políticas tradicionais pelas emergentes, como o Podemos] já se produziu e que o centro político, sobretudo PP e PSOE, se encontra debilitado depois destas eleições. E que é possível que das urnas não saia nenhum governo maioritário e que os espanhóis sejam chamados novamente às urnas. “Os espanhóis passaram da ilusão ao fastio”, segundo declarou a este jornal espanhol Marta Romero, politóloga da Fundación Alternativas. Este esgotamento dos partidos do centro do regime, sem criação ainda de outras maiorias possíveis, pode levar a uma nova repetição de eleições, segundo a opinião dos professores de política e analistas eleitorais que se reuniram na Universidade Nacional de Educação a Distância. Esta terceira repetição de eleições nem seria uma novidade histórica: em Espanha realizaram-se três eleições gerais entre 1918 e 1920, como recordou o professor José Ignácio Torreblanca ao “El País”. 

Pelos vistos enganaram-se tanto como as sondagens. Na noite eleitoral, a dirigente do Ciudadanos Inés Arrimadas declarou na televisão que, como é óbvio, não é possível voltar a repetir as eleições. “Os políticos devem ultrapassar as suas questões pessoais e conseguir formar um governo.” 

Mas a questão continua complicada: apesar de a direita, PP e Ciudadanos, estar apenas a 10 deputados da maioria absoluta, é impossível formar governo sem, pelos menos, a abstenção do PSOE, e não é nada provável que os partidos independentistas viabilizem o governo do PP.

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A complicação é que, durante toda a campanha, Pedro Sánchez garantiu que não apoiaria um governo de Mariano Rajoy nem “pela ativa, nem pela passiva”. 

A partir de amanhã vai ver-se como começam as negociações. Desta vez, é pouco provável que Mariano Rajoy se recuse a ser indigitado para formar governo. 

E outro dado: é também pouco provável que Pedro Sánchez seja corrido da liderança.