Alexis Tsipras partilhou ontem no Twitter uma fotografia onde aparece ao lado de Jean-Claude Juncker, com uma legenda onde trata o presidente da Comissão Europeia como “um bom amigo da Grécia”. A imagem rapidamente começou a espalhar-se pelas redes sociais, pelo simbolismo do encontro.
O primeiro-ministro grego protagonizou vários momentos de tensão com a Comissão Europeia, no Verão do ano passado, depois de o Syriza subir ao poder e se insurgir contra novas medidas de austeridade. As negociações chegaram mesmo a um ponto de saturação nas negociações, que quase levaram a um ultimato. Juncker chegou mesmo a dizer que estava perto de perder a paciência e que estava dececionado com Alexis Tsipras.
Há cerca de um ano, Tsipras insistia nas críticas à “troika” e Juncker nas críticas a Tsipras. O primeiro-ministro grego criticava a falta de democracia e transparência nas negociações com os credores enquanto Jean-Claude Juncker garantia que as conversas à porta fechada permitiam ao primeiro-ministro grego faltar à verdade depois.
Por esta altura, eram feitos diversos apelos à união em busca de uma solução para a Grécia, mas Tsipras continuava a insistir nas críticas às instituições, que acusava de impor algumas medidas socialmente injustas.
De acordo com Tsipras, não devia ser papel da “troika” ditar a um governo a forma como devia atingir determinados objetivos orçamentais. Até porque, para o primeiro-ministro grego, era impensável que fossem impostas as formas de distribuição dos sacrifícios como, por exemplo, no caso dos cortes nas pensões.
“Se um Governo soberano não tem o direito de escolher como atingir os objetivos, então é necessário adotar uma conceção antidemocrática e, nos países sob programa, não deveria haver eleições”, declarava, nesta altura.
O aliado Juncker Entretanto, o mundo mudou. Em abril deste ano, perante novas medidas de austeridade novamente polémicas, Juncker tomou o partido de Tsipras ao assumir que ressuscitar o Grexit era brincar com o fogo. “Eu e a Comissão [Europeia] somos de opinião que os nossos números estão certos e que não há necessidade de medidas de contingência. Tornei isso perfeitamente claro quando falei com [Christine] Lagarde dizendo-lhe que os nossos pressupostos básicos estavam certos e estão certos. Mas, se para colmatar as diferenças entre as instituições e o governo grego, tais medidas forem apresentadas como opção examinaremos o assunto. Mas não é o caminho que apoiamos”, disse Juncker.
Manifestantes pedem demissão Mas, se a relação com a Comissão Europeia melhorou, a relação do Syriza com os gregos parece ter feito uma trajetória contrária. Há poucos dias, cerca de sete mil manifestantes em Atenas pediram a demissão de Tsipras. A maioria dos manifestantes eram trabalhadores do setor privado, atingidos pela carga fiscal e pelos cortes salariais impostos pelo governo grego.
Apesar de várias promessas de romper com as medidas de austeridade, o primeiro-ministro grego negociou em maio um novo acordo com a União Europeia e com o FMI. O entendimento foi conseguido depois de, em abril, as dívidas ao fisco terem batido recordes e os depósitos atingirem mínimos de 2003. De acordo com os dados divulgados no final de abril, os gregos deviam, em março, 87,5 mil milhões de euros em impostos e taxas ao Estado. A Grécia estava a ficar sem dinheiro e Alexis Tsipras sem aliados.