Espião detido. Moscovo pressiona Lisboa e há quem questione operação

Espião detido. Moscovo pressiona Lisboa e há quem questione operação


Detenção de Carvalhão Gil e Sergey N. P. deixou russos surpreendidos, mas, ao i, fonte ligada às secretas diz que também é incompreendida nos corredores dos serviços de outros países 


A Rússia aperta cada vez mais o cerco à atuação das autoridades portuguesas depois de no último mês ter sido detido em Itália um espião de Moscovo a comprar documentos classificados da Nato a um elemento do SIS. Mas não é só da Rússia que surge algum espanto à forma como a OperaçãoTop Secret foi conduzida. Mesmo do lado dos parceiros da Nato há quem defenda que Portugal poderia ter seguido outra metodologia, monitorizando Frederico Carvalhão Gil nos próximos tempos ou mesmo anos.

Segundo fontes ligadas às secretas portuguesas explicaram ao i, seria “muito mais importante perceber o que os russos queriam saber, quais as perguntas que faziam com regularidade ao espião português do que apenas e só o que foi trocado naquele encontro”.  

“O que aconteceu em Portugal é visto nos corredores de outros serviços de informações, até nos americanos, com alguma surpresa. Muitos espiões dizem que não entendem como é que não se aproveitou melhor aquela fonte de informação. O Carvalhão Gil até poderia ser detido mais à frente, caso não aceitasse colaborar, mas se colaborasse numa estratégia de desinformação, ou o país lhe perdoava, porque ia ganhar com a ação dele, ou então daqui por um ou dois anos detinha-o”, esclarece fonte próxima dos serviços portugueses, adiantando: “Seria muito mais importante monitorizar e perceber a cada momento e daqui para a fente aquilo de que precisava a Rússia do que apreender aqueles envelopes do encontro”.

Estas declarações surgem depois de este fim de semana o adido de imprensa da embaixada da Rússia em Lisboa ter criticado a diplomacia de de Portugal neste caso. Ao Expresso, Evgeniy Skobkarev disse que “os países têm de informar oficialmente as embaixadas da detenção e do pedido de extradição de um cidadão seu”, garantindo que nada disso foi feito pelos autoridades nacionais em relação ao russo Sergey Nicolaevich Pozdnyakov.
Skobkarev adiantou ainda que nem sequer é possível ainda confirmar se se trata de um cidadão russo, uma vez que não houve ainda qualquer confirmação de Moscovo nesse sentido.
 
Detenção só para a troca E os problemas diplomáticos podem mesmo vir a ser uma realidade. “A detenção de um estrangeiro e de um funcionário é muito rara nos serviços de informações. E quando acontece é para haver uma troca com alguém e Portugal não tem ninguém para dar à troca. Isso vai criar um problema com os serviços de informações russos”, explicou ao i, fonte próxima das secretas portuguesas, lembrando que “Portugal tinha até há pouco tempo uma estação do SIED (secreta externa) em Moscovo e que os russos têm uma estação do SVR aqui em Portugal e que provavelmente a Rússia é, dos países não membros da Nato, o que mais visita Portugal oficialmente”. 

Além de Portugal, explicam, a Itália também será alvo de grandes pressões por parte de Moscovo, uma vez que “aos russos só lhes improta que libertem o seu homem”: “Não podemos estranhar o tipo de trabalho que o russo fez, porque nós fazemos o mesmo, na contraespionagem não há amigos.”

Tal como o Semanário Sol noticiou na última semana, os documentos secretos da Nato que Frederico Carvalhão Gil levou para o encontro com o ‘espião’ russo, em Itália, continham informações sobre a área energética. E apesar de os problemas e desafios na área da energia serem uma das matérias a que os serviços de informações dão grande importância, ao i a mesma fonte explicou que o conhecimento dos relatórios analíticos que deverão ter sido apreendidos não comprometem de forma grave os países Nato.

“Caso Carvalhão Gil tivesse acesso a documentos operacionais seria muito mais complicado, mas assim são danos isolados, porque são documentos que apesar de classificados, são analíticos”, explica.

Segundo Carvalhão Gil, os 10  mil euros que recebeu do russo durante o encontro num esplanada de Roma – poucos minutos antes de serem detidos em flagrante pelas autoridades italianas – não eram para pagar informações, mas sim as despesas relativas à constituição da empresa que planeavam abrir.

Neste processo estão em causa crimes de violação de segredo de Estado, de espionagem e de corrupção.