Chamava-se Jo Cox. Tinha 41 anos, duas crianças pequenas e estava a sair da biblioteca do seu círculo eleitoral (Batley and Spen, West Yorkshire), quando foi alvejada e esfaqueada. Testemunhas afirmaram à imprensa britânica que o homem que atacou Jo gritou “Britain First”, o nome de um partido de extrema-direita, anti-imigrantes e islamofóbico que está a fazer campanha em defesa da saída do Reino Unido da União Europeia.
Jo morreu uma hora depois do ataque. A seis dias do referendo que dividiu o Reino Unido literalmente ao meio, o país uniu-se ontem no choque pela morte da deputada. Brendan Cox, o marido, antigo assessor político do ex–primeiro-ministro Gordon Brown, afirmou que vai, em conjunto com os amigos e a família de Jo, “lutar contra o ódio que a matou”. “Ela quereria agora, acima de tudo, duas coisas: que os nossos queridos filhos fossem muito amados e, em segundo lugar, que nos uníssemos todos para lutar contra o ódio que a matou. O ódio não tem um credo, raça ou religião, é venenoso.”
A polícia prendeu um homem de 52 anos e está a investigar os relatos de que o presumível assassino terá gritado “Britain First” enquanto alvejava a deputada. Segundo o Southern Poverty Law Center, uma organização não-governamental de defesa dos direitos cívicos, o suspeito, Thomas Mair, tem ligações a um grupo neonazi com base nos Estados Unidos, refere o Washington Post.
Um homem de 77 anos também foi atacado de seguida e ficou ferido, mas não corre perigo de vida.
O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, suspendeu a campanha em defesa da manutenção do Reino Unido na Europa até ao fim da semana. “Estamos de luto e suspendemos todas as atividades de campanha até ao fim de semana como símbolo de respeito”, disse Corbyn. “O ódio nunca resolverá problemas. A Jo acreditava nisso.”
Todo o movimento trabalhista está de luto, afirmou o líder adjunto do Labour, Tom Watson. O ex-líder Ed Milliband afirmou ter “o coração partido” pela perda de Jo Cox. “Ela era uma pessoa tão cheia de vida e de alegria. Neste momento, todas as palavras parecem inúteis.” Milliband elogiou a “extraordinária dignidade, amor e compaixão” do marido de Jo: “Brendan, estamos todos ao teu lado e choramos contigo.”
Grande ativista de causas humanitárias, nomeadamente no apoio a crianças, Jo Cox tinha sido eleita pela primeira vez para o parlamento britânico nas eleições do ano passado. Era uma das responsáveis da comissão parlamentar “Amigos da Síria”, que reunia representantes de todos os partidos. A questão dos refugiados sírios, principalmente das crianças refugiadas, era uma das suas principais preocupações: “Todos sabemos que, quando o conflito na Síria entra no seu sexto e bárbaro ano, as famílias sírias estão forçadas a tomar decisões impossíveis: ficar e enfrentar a fome, violações, perseguições e morte, ou fazer uma viagem perigosa para procurar refúgio noutro sítio qualquer”, disse a deputada.
Cox: “Arriscaria a vida para salvar os meus bebés” “E quem pode culpar os pais desesperados por quererem escapar ao horror que as suas famílias estão a viver? A realidade é que as crianças estão a ser mortas a caminho da escola, uma em cada três crianças sírias cresceu sem conhecer mais nada senão medo e guerra. Estas crianças foram expostas a coisas que nenhuma criança deveria jamais testemunhar. Pessoalmente, eu sei que arriscaria a vida para retirar os meus preciosos bebés daquele inferno.” Ontem, depois de conhecida a morte da deputada, este seu discurso sobre as crianças sírias começou a ser partilhado nas redes sociais.
Jo Cox foi uma das deputadas que contribuíram com a sua assinatura para que Jeremy Corbyn se candidatasse a líder do Partido Trabalhista. Mas tal como muitos outros deputados que participarem nesse processo – obrigatório para a apresentação de uma candidatura à liderança do Labour -, Jo Cox nunca pensou que Corbyn conseguisse a vitória. De resto, nem ela nem ninguém. O objetivo de contribuir para um debate dentro do Labour fez vários deputados apoiantes de outros candidatos oferecerem assinaturas a Corbyn. Foi o que fez Jo. A candidata a líder do Partido Trabalhista que a deputada verdadeiramente apoiava era Liz Kendall, a mais próxima de Tony Blair que se apresentou na sucessão de Ed Milliband.
Reações
Jeremy Corbyn. “Nos próximos dias haverá perguntas para responder”
O líder trabalhista diz que o país ficou “em estado de choque perante o horroroso assassínio” de Jo Cox, deputada do seu partido. “Nos próximos dias haverá perguntas para responder sobre como e porquê ela morreu. Neste momento, os nossos pensamentos estão com Brendan, o marido, e com os seus dois filhos pequenos. Vão crescer sem mãe, mas podem sentir-se imensamente orgulhosos do que ela fez, do que conseguiu e daquilo por que lutou.”
David Cameron. “É uma tragédia. Perdemos uma grande estrela”
O primeiro-ministro David Cameron suspendeu um encontro em Gibraltar integrado na campanha do referendo em defesa da permanência na UE por causa da morte da deputada. “É uma tragédia. Era uma deputada empenhada e sensível. Os meus pensamentos estão com o seu marido, Brendan, e com os seus dois filhos pequenos.” “Perdemos uma grande estrela. Jo era uma grande deputada em campanha, dotada de enorme compaixão e um grande coração.”
Tom Watson. “Todo o movimento trabalhista está devastado”
O líder adjunto do Partido Trabalhista disse que “todo o movimento trabalhista está devastado com a morte de Jo. Perdemos uma colega muito jovem que tinha muito mais para dar à vida pública. Ela era o nosso futuro. É difícil entender como uma pessoa cheia de princípios pode ser morta desta forma tão cruel. É ainda mais devastador saber que foi morta porque estava a fazer o que fazia melhor: servir os seus eleitores”.
Theresa May. “Todos unidos na profunda tristeza”
A ministra da Administração Interna lamentou o “evento terrível” e afirmou que a dor do marido e filhos de Jo Cox é “inimaginável”. “Estamos todos unidos em profunda tristeza”, disse Theresa May, que se recusou a fazer comentários sobre o assassínio “até que a sequência dos eventos esteja completamente estabelecida”. A ministra saudou a decisão das campanhas do referendo de suspenderem as atividades pró e contra a permanência na UE.
Gordon Brown. “Sarah e eu tivemos o privilégio de trabalhar com Jo e o marido”
“Jo Cox era a amiga mais dinâmica, empenhada e cheia de vivacidade que alguém pode ter. Os nossos corações ficarão para sempre feridos com esta perda para o nosso país.” Brendan Cox, marido de Jo, foi adjunto político de Gordon Brown. Os dois casais eram amigos. “A Sarah e eu tivemos o privilégio de trabalhar com Jo e o marido durante muitos anos e de ver os seus esforços em prol das mães de crianças mais desfavorecidas.”
Brendan Cox. “Ela quereria que nos uníssemos contra o ódio que a matou”
O marido da deputada, antigo assessor político do ex-primeiro-ministro Gordon Brown, afirmou que vai, em conjunto com os amigos e a família de Jo, “lutar contra o ódio que a matou”. “Ela quereria agora, acima de tudo, duas coisas: que os nossos queridos filhos fossem muito amados e, em segundo lugar, que nos uníssemos todos para lutar contra o ódio que a matou. O ódio não tem um credo, raça ou religião, é venenoso”, escreveu Brendan Cox em comunicado.