Portugal. O “aborrecido” Ronaldo levou com um autocarro de críticas

Portugal. O “aborrecido” Ronaldo levou com um autocarro de críticas


O craque português criticou a exibição da Islândia.A imprensa internacional devolveu-lhe a crítica e aplaudiu o resultado histórico dos homens da ilha do norte doAtlântico


Falar do jogo de anteontem entre a Islândia e Portugal (1-1) em Saint-Étienne só é possível se olharmos para a imagem de um autocarro, um veículo muitas vezes utilizado para definir as equipas que se veem obrigadas a defender com os 11 titulares por terem menos recursos(leia-se jogadores) em campo. Foi essa a tática que os homens da ilha do norte do Atlântico utilizaram contra os portugueses, aproveitando o nervosismo do meio-campo preenchido por João Mário, Danilo Pereira e André Gomes e a noite pouco brilhante de Cristiano Ronaldo.

O craque da seleção nacional, que igualou Luís Figo no número de internacionalizações (127), teve poucas oportunidades para marcar e, quando recebeu a bola nos pés, falhou. Ronaldo ficou insatisfeito pelo arranque desanimador, queixou-se da Islândia e a imprensa internacional atropelou-o virtualmente com críticas.

“Tivemos muitas oportunidades de golo. A Islândia foià nossa baliza duas vezes e marcou um golo.Foi só pontapé para a frente. Só uma equipa é que quis jogar.”Estas foram as palavras do madeirense que, como é costume, tomou o lugar da frente no autocarro português no final da estreia lusitana em França. As farpas lançadas tiveram um eco bem tóxico nos ouvidos dos islandeses. Mas a também estrela do Real Madrid não tirou o pé do acelerador. “Na minha opinião, são uma equipa de mentalidade pequena”, disse Ronaldo, mais tarde,à imprensa inglesa.

De treinadores a jogadores, a seleção descendente dos vikings não gostou do que foi dito sobre a sua prestação. “É um futebolista fantástico, mas não é boa pessoa.Os comentários dele são a razão pela qual Messi estará sempre um passo à frente”, afirmou o médioKari Arnason, que viu outro compatriota seu, Hermann Hreidarsson(89 jogos com a camisola islandesa) reiterar as suas críticas.“Ele [Ronaldo] pensava que iria ter golos de bandeja”, disse à BBC. 

Para rematar, em jeito de comandante de uma nação, o treinador Lars Lagerback – que já tinha apelidado Ronaldo e Pepe de “atores” na antevisão do jogo – acredita que,se Portugal quisesse vencer, teria de ter feito mais.“Se queriam vencer a Islândia, tinham de jogar melhor. É tão simples quanto isso”, disse o selecionador sueco, citado pelo jornal francês “L’Équipe”.

Ora, se por um lado o resultado desanimou quase por completo os adeptos portugueses (pelo menos no estádio não se fizeram ouvir), ele serviu também para apontar as armas à estrela maior de Portugal. E não vieram só do país do “The Mountain” da série norte-americana“Game of Thrones” – que obviamente ficou extasiado com o empate, como demonstrou na sua conta de Instagram –, mas sim da imprensa internacional e de antigas lendas do futebol.

 Talvez o mais crítico tenha sido mesmo o diário britânico “The Guardian”. “Nós até recomendávamos aoRonaldo que se visse bem ao espelho, se não soubéssemos que ele já passa várias horas a fazê-lo.” Uff, esta doeu mais do que qualquer erupção vulcânica na Islândia – acontecimento normal, basta olhar para o caso do Eyjafjallajökull em 2010. Sim, leu (ou tentou ler) bem. 

Os britânicos aconselham também ao madeirense que olhe para o futebol islandês, o “mais pequeno” (porque o seu país só tem cerca de 300 mil habitantes, fazendo com que seja o mais pequeno noEuro) que conseguiu chegar à elite do futebol depois de ter ficado à frente da Turquia e da Holanda – a laranja mecânica acabou mesmo por não conseguir o passaporte para solo francês.

Ronaldo é aborrecido O antigo guarda-redes da Alemanha, Oliver Kahn, foi outro dos que quis apanhar boleia no autocarro das críticas ao português. “Esteve discreto.Com o papel que desempenha na seleção, devia ter lutado muito mais”, disse o alemão à ZDF, um canal de televisão alemã. Para o ex-guardião doBayern deMunique, os 31 anos de Ronaldo e a sua atitude polémica dão--lhe até um certo aborrecimento. “É aborrecido ver sempre a mesma imagem, a do excesso e do protagonismo”, continuou Kahn, que já tinha criticado o avançado dos merengues em jogos da Liga dosCampeões. Então e esta estreia amarga só terá um culpado? Não. Porquê? “Falar só de Cristiano Ronaldo é um bocadinho redutor”, afirmou ontem o selecionador nacional, FernandoSantos, no rescaldo do empate surpreendente, para tentar resfriar a temperatura (bem oscilante) que paira no ar. 

E então se é, será melhor voltar para Inglaterra, não reduzindo a velocidade do autocarro de críticas mas mudando o condutor. O melhor marcador do Mundial de 1986, GaryLineker, foi outro dos homens do futebol que se chegou à frente para crucificar alguns jogadores portugueses. Ou só um, a bem dizer.“Pepe é um grande palhaço”, foi desta forma que o antigo avançado do Leicester City criticou o defesa central português na BBC. Ficaram a faltar críticas aos outros dez portugueses em campo, mas talvez numa busca rápida pela internet o leitor encontre certamente.

Para muitos, Portugal jogou contra um autocarro e acabou friamente atropelado. Ronaldo, o motorista português de serviço para tudo e mais alguma coisa, terá agora nova oportunidade, contra a Áustria, no próximo sábado, para voltar a colocar a seleção das quinas no caminho certo. No entanto, um autocarro, apesar de se conduzir sozinho por mais rápido que seja, precisa de tantos outros braços (ou pernas) para se voltar a mexer caso avarie.