As ações do BCP continuam em queda livre e já valem menos de dois cêntimos. Ainda ontem, o banco fechou a sessão a perder quase 4,5%, tocando em novos mínimos ao valer 1,93 cêntimos por ação. Este valor representa uma queda de 4,40% em relação ao fecho de segunda-feira, nos 2,02 cêntimos.
As contas são simples para os títulos do banco liderado por Nuno Amado: desde o início do mês, o BCP já perdeu cerca de 455 milhões de euros, mas os prejuízos são ainda maiores se recuarmos um ano. Desde o dia 14 de junho de 2015, as perdas já ultrapassaram os quatro mil milhões de euros.
Nas últimas semanas, os títulos do banco têm sido penalizadas pelos receios em relação a um eventual aumento de capital, apesar das garantias em contrário prestadas pela administração.
O BCP está também a ser penalizado por fatores específicos que afetam a banca portuguesa mas, nas últimas sessões, está a ser atingido sobretudo pela fuga ao risco dos investidores nos principais mercados, devido aos receios de uma vitória do Brexit no referendo de 23 de junho.
Banca europeia atingida O certo é que tudo indica que esta instabilidade é para se manter. De acordo com o gestor da XTB contactado pelo i, Pedro Ricardo Santos, “é expectável um acréscimo de volatilidade até à realização do referendo no Reino Unido. A possibilidade da saída do país da União Europeia tem causado aversão ao risco nos investidores, refletida não apenas nas yields soberanas, mas também nos principais índices e na moeda única”.
O analista lembra ainda que essa atitude “é particularmente evidente no comportamento do setor financeiro europeu, com a banca inglesa a liderar as perdas da indústria”.
Aliás, o BCP não é o único banco a cair na Europa. Esta terça–feira, o índice geral da banca europeia, que reúne os maiores bancos europeus, perdeu 2,27%, com todos os bancos em queda, num dia marcado por receios em torno do Brexit e as consequências de uma eventual saída do Reino Unido da União Europeia.
Os maiores deslizes foram protagonizados por instituições financeiras de países periféricos, como Espanha, Itália, Irlanda e Portugal. O BCP foi o sexto que mais caiu, superado, por exemplo, pelo espanhol Popular, que resvalou 6,37%.
Valorizações pontuais Ainda na semana passada, os títulos do BCP chegaram a valorizar mais de 20%. No entanto, os analistas tinham admitido que esse comportamento seria pontual, já que acreditavam não ser expectável que o banco mantivesse recuperações de 20% de forma recorrente. Para o gestor José Correia, esta recuperação na semana passada deveu-se a uma correção de preço habitual depois de fortes quedas dos títulos, uma vez que os investidores encontraram uma janela para beneficiar de valorizações no curto prazo.
No entanto, o responsável já tinha garantido que essa tendência de queda se iria manter. E nem sequer o anúncio do presidente da instituição financeira, Nuno Amado, de não ter intenção de avançar com qualquer aumento de capital relacionado com o Novo Banco, tem vindo a tranquilizar o mercado.
“Sempre disse que iria analisar a venda do Novo Banco, mas apenas porque, pela sua dimensão relativa no sistema, não cabia outra alternativa senão perceber quais as vias possíveis”, revelou. E para os acionistas do banco deixou uma mensagem: “Podem estar tranquilos, pois o BCP não está a considerar uma operação ou quaisquer operações que impliquem aumentos de capital.”
De acordo com o banqueiro, o banco vai manter uma estratégia focada e disciplinada e, como tal, “não há nenhuma intenção de pedir capital aos acionistas, nem para fazer uma fusão por fusão que até acho que não é um caminho viável, para ser sincero”, sublinhou.
Por outro lado, o banco tem ainda de pagar 750 milhões ao Estado por via do capital contingente que foi aplicado na instituição (os chamados CoCo’s) . A penalizar o título tem estado ainda a possibilidade de ser criado um “banco mau” para agregar ativos de risco que estão contabilizados nos balanços de vários bancos, num valor superior ao do crédito concedido ou das provisões entretanto constituídas.