Foi em dezembro de 2011 que Pedro Passos Coelho gerou uma enorme polémica quando convidou os professores a emigrar. “Estamos com uma demografia decrescente e portanto, nos próximos anos, haverá muita gente em Portugal que, das duas uma: ou consegue nessa área fazer formação e estar disponível para outras áreas ou, querendo manter-se sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado da língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa”, disse o então primeiro-ministro. O PS ficou indignado e António José Seguro defendeu que um primeiro-ministro que aconselha os professores a emigrar “é um primeiro-ministro que não acredita no seu país, com braços caídos, que desistiu de lutar”.
Cinco anos depois, a cena repete-se, mas ao contrário. António Costa, numa referência ao compromisso para alargar o ensino da língua portuguesa nas escolas francesas, defendeu, neste fim de semana, que “é também uma oportunidade de trabalho para muitos professores de português que, por via das alterações demográficas, não têm trabalho em Portugal e podem encontrar trabalho aqui”.
Aqui é em França e não demorou muito para que os sociais-democratas caíssem em cima do primeiro-ministro. Deputados e dirigentes do partido não criticam Costa por sugerir aos professores para emigrarem, mas os que o apoiam por desta vez ficarem em silêncio.
“Aguardo a indignação nacional, as críticas de Mário Nogueira, da Catarina, do Jerónimo e de todos os esganiçados que por aí pululam quando as verdades são ditas por alguém do PSD. Espero que corem de vergonha, ou peçam desculpa, ou se indignem. No mínimo que sejam coerentes”, escreveu Duarte Marques, que pertence à comissão parlamentar de Educação, nas redes sociais.
São muitos os sociais-democratas a indignarem-se com o facto de as declarações de Passos terem gerado uma grande polémica, enquanto as de Costa não estão a causar ruído. Nilza de Sena, coordenadora do PSD na comissão parlamentar de Educação, lembrou que “em circunstâncias idênticas, o anterior primeiro-ministro foi abusivamente maltratado, interpretado e descontextualizado”. A deputada está na expectativa sobre “o que dirão os analistas sobre este convite subliminar à emigração feito por António Costa”.
Do lado do CDS, João Almeida partilhou, na sua página do Facebook, as palavras de Passos e Costa e acrescentou um comentário: “a incoerência da esquerda é isto. O silêncio de grande parte da opinião publicada é algo muito mais grave”.
Falta de vergonha Mário Nogueira fez, em 2011, duras críticas a Passos. “Dizer que têm de emigrar é uma falta de vergonha imensa”, disse, na altura. o secretário-geral da Fenprof, sugerindo ao “senhor primeiro-ministro” para “aproveitar e ir ele próprio desgovernar outros países e outros povos”.