Copa América. Nem Deus dá uma mãozinha ao Brasil de Dunga

Copa América. Nem Deus dá uma mãozinha ao Brasil de Dunga


A eliminação da seleção brasileira diante do Peru nos quartos-de-final demonstra que tal como o país, o futebol canarinho não vive dias felizes


O peruano Raúl Ruidíaz saltou do banco para marcar o golo da vitória do Peru frente ao Brasil, ditando a eliminação da seleção canarinha da Copa América que decorre nos Estados Unidos da América, algo que não acontecia tão cedo desde 1987. Se a derrota já surpreende, o golo ainda mais. Uma mãozinha divina à Diego Maradona ou à Vata deixou os jogadores brasileiros de cabelos em pé, que não tiveram capacidade para alterar o resultado – nem talento para marcar golos, já que Jonas, por exemplo, ficou no banco. Para a imprensa brasileira o treinador da seleção canarinha, Dunga, devia ter arriscado mais já que só fez uma substituição em todo o jogo. “Não havia mesmo nada a fazer em 19 minutos?”, escreveu o Globo.

Pois bem, essa talvez deva ser a pergunta a fazer desde que o Brasil foi eliminado pela Alemanha por uns estrondosos 7-1 nas meias finais do Mundial, organizado no seu país, há dois anos. A organização deste evento queria uma verdadeira festa do futebol mas tal como se viu nas ruas, com protestos e manifestações, essa missão não foi totalmente conseguida. A isto juntamos a crise económica e os problemas na construção das infraestruturas: no entanto, esse campeonato do Mundo foi o mais caro de sempre (mais do que as duas edições anteriores juntas). E se fora de campo o cenário esteve negro, a derrota pesada contra os alemães deixou marcas ainda mais negras ­– saiu Scolari, entrou Dunga que esteve à frente da seleção entre 2006 e 2010. Saiu Dilma Rousseff, entrou Michel Temer num processo de impeachment inacreditável. Saiu um Mundial entraram uns Jogos Olímpicos (JO) este Verão, debaixo da mesma contestação, das mesmas condições e com o vírus zika a espalhar o medo entre os atletas e os turistas. Saiu um Brasil vergado do Mundial e agora sai humilhado da Copa América, que celebra este ano a sua 100.ª edição.

Dunga só teme a morte Para além desta eliminação, as contas para a qualificação do Mundial 2018 estão também complicadas. Talvez só mesmo o ouro olímpico pela seleção de sub-23, uma medalha que o Brasil nunca conquistou, poderá limpar a sua imagem.

“Eu só temo uma coisa: a morte. De resto eu não tenho. Houve uma reformulação depois do Mundial. Nós elogiamos o trabalho de 14 anos da Alemanha, mas queremos que no Brasil se encontre a solução de uma hora para a outra, em um ou dois anos e só vamos encontrar a solução com continuidade”. Estas foram as palavras de Dunga na conferência de imprensa após o final da partida. E se o também capitão da seleção brasileira que conquistou o tetra em 1994 parece ter o seu lugar cada vez mais em risco ­– o ano passado ficou-se pelos quartos-de-final diante do Paraguai – não foi por falta de matéria prima ou de propostas para fazer regressar o samba ao futebol brasileiro. A continuidade já leva dois anos e muito poucos frutos.

 Mesmo sem Neymar, proibido de jogar pelo Barcelona – que aproveitou para tirar férias e criticar os críticos dos seus companheiros –, Dunga tinha à sua disposição um leque de jogadores virtuosos: Lucas Lima, Casemiro, Philippe Coutinho ou Daniel Alves. Só que o futebol apresentado no passado domingo não deixou saudades, mesmo com tanto talento para escolher. Estes jogadores só conseguiram marcar ao Haiti (um 7-1 que soube a muito pouco) num grupo em que também ficaram em branco contra o Equador (0-0).

Dunga teve até a oportunidade de trabalhar com a empresa belga Double Pass, responsável pela tão aclamada restruturação do futebol alemão. Mas a equipa técnica de Dunga rejeitou a proposta o ano passado, segundo escreveu o jornalista brasileiro Rodrigo Mattos da “UOL”. Se teria sido diferente? Talvez agora seja tarde para responder.

Com esta prestação o Brasil arrisca-se a ficar fora do top 10 do ranking da FIFA e a ver o seu público ficar cada vez mais afastado dos estádios, desacreditado de que a sua seleção possa ser uma “salvação” para a crise financeira e política que assombra o país. Claro que a ligação de membros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a casos de corrupção, como o do antigo presidente da CBF José Maria Marin e do atual Marco Polo Del Nero, só aumenta mais a desconfiança na tal evolução que se queria implementar no futebol canarinho.

Já não há Pelé, Romário ou Ronaldo. Restam os JO. “Se o Brasil estiver bem nos JO – e isso não é um dado adquirido – a esperança pode regressar. No entanto, ela vai-se dissipar e os mesmos problemas vão continuar”, escreveu o jornal britânico “The Guardian”. É preciso , portanto, passar das palavras aos atos o quanto antes.