O negócio do alojamento local tem vindo a disparar nos últimos anos – até março existiam quase 25 mil imóveis registados –, relegando para segundo plano o arrendamento tradicional. Os senhorios não ficam alheios a esta tendência e, a pensar nisso, a Associação Lisbonense de Proprietários (ALP) vai passar a prestar serviços na colocação de imóveis para arrendamento local destinado a turistas, garantiu ao i o presidente da entidade, Menezes Leitão.
A ideia é simples. A entidade vai criar um gabinete que deverá começar a funcionar, no máximo, no início do próximo mês e ficará responsável por tratar de todas as questões legais, nomeadamente a reconversão do imóvel. Mas as funções não ficam por aqui. Este gabinete irá fazer ainda a gestão das plataformas de alojamento de curta duração, preparação do imóvel e receção dos hóspedes.
Para já ainda não está definido o custo deste serviço, mas Menezes Leitão admite que vai ser cobrado consoante o número de imóveis, seguindo o exemplo do que já se faz no arrendamento tradicional.
Senhorios desmotivados Apesar de reconhecer que o alojamento local ainda tem pouco peso – o arrendamento tradicional ultrapassa os 700 mil registos, enquanto o alojamento local se fixa nos 25 mil –, o responsável admite que o negócio poderá vir a crescer devido ao descontentamento dos proprietários em relação às alterações à reforma do arrendamento propostas pelo grupo parlamentar do PS, considerando que representam um “inequívoco regresso ao congelamento das rendas e uma autêntica expropriação da propriedade privada”.
“O que está a acontecer é que os senhorios se sentem muito desmotivados com o arrendamento tradicional, com esta proposta de congelamento de rendas por parte do PS que está a alterar e muito o enquadramento do arrendamento e está a fazer com que as pessoas não tenham confiança em voltar a colocar os seus imóveis no arrendamento”, salienta, e por causa disso “tem-se assistido a um aumento do interesse em relação ao alojamento local, que ganha uma maior dimensão com o crescimento dos turistas em Lisboa”, diz ao i.
Recorde-se que a proposta do Partido Socialista prevê prolongar o regime transitório dos contratos de arrendamento e entende que não há uma expropriação uma vez que os proprietários continuam a receber as rendas e a ter a possibilidade de negociar com os inquilinos, de forma razoável, aumentos graduais para o valor das rendas.
Ainda assim, o presidente da ALP admite que adaptar os imóveis a este novo mercado implica grandes investimentos para os proprietários, não apenas para os colocar em condições, mas também devido aos enormes custos administrativos de estar “a assegurar uma constante rotação dos ocupantes, limpezas, fornecimento de alimentação, entrega e recolha de chaves a qualquer hora do dia”.
Afasta acusações de inquilinos Menezes Leitão garante que os senhorios que estão a pensar em colocar os seus imóveis no alojamento local não têm qualquer contrato e, como tal, a casa está livre. O responsável afasta desta forma as acusações que têm sido feitas pelos inquilinos, que acusam os proprietários de os pressionarem para saírem das casas onde sempre viveram.
“Não tenho conhecimento de propostas nesse sentido e acho difícil porque, se for um arrendamento antigo, há essa proposta de prorrogar o contrato por mais 10 anos e, se for de curta duração, naturalmente o contrato termina no final do prazo”, salienta o presidente da ALP. Além disso, o responsável lembra ainda que, se o senhorio quiser terminar o contrato, terá de pagar uma indemnização ao inquilino e é preciso que haja acordo entre as duas partes.
Em relação à oferta, Menezes Leitão afirma que esta não vai passar necessariamente pelos centros históricos, apesar de reconhecer que Alfama é uma zona bastante atrativa para os turistas. “Os proprietários que nos procuram para colocar as suas casas no alojamento local têm imóveis situados desde o Marquês de Pombal até ao rio”, diz.