Existem algumas mulheres ricas em Portugal, mas muito poucas têm o poder que a empresária angolana Isabel dos Santos conquistou. Está ligada a múltiplos negócios entre Luanda e Lisboa e, com a nomeação para o cargo de presidente da Sonangol, ganhou influência acrescida, já que a petrolífera angolana é o principal acionista do BCP.
Com o novo cargo, a gestora passa a ter um peso decisivo na economia nacional. O BCP, o BPI, a Galp e Nos, onde a empresária tem interesses, valem em bolsa 15,7 mil milhões de euros – cerca de 9% do PIB português.
Mas os negócios não vêm de hoje. Nascida em Baku, no Azerbaijão, a 20 de abril de 1973, as participações de Isabel têm vindo a crescer nos últimos anos. O património financeiro em Portugal já deve valer mais do que três mil milhões de euros.
Poder Com uma longa lista de negócios e fama de ser dura nas negociações, Isabel dos Santos é moderada e discreta. Em 2013, numa rara entrevista ao “Financial Times”, a mulher mais rica de África explicou apenas: “Faço negócios e não faço política. Tive sentido para os negócios desde muito nova. Vendia ovos quando tinha seis anos”.
A venda de ovos ficou para trás. Além das empresas em Portugal, tem a Unitel e a Candando para os mercados de telecomunicações e de supermercados em Angola.
Segundio a African Network of Centers for Investigative Reporting, uma rede de centros de jornalismo de investigação com sede na África do Sul, Isabel dos Santos e o marido Sindika Dokolo gerem, a partir de Lisboa, um conjunto de quase cinco dezenas de sociedades em cascata, para controlar os negócios que têm nos mais variados setores e territórios.
Além de Portugal e Angola, têm interesses em países como a Suíça ou a Nova Zelândia, por exemplo. E nem toda a riqueza é conhecida de forma oficial. Na Galp, por exemplo, a participação indireta na gasolineira nunca apareceu em informação oficial da companhia portuguesa.
Efacec
A Efacec Power Solutions é um grupo que desenvolve soluções, produtos e sistemas para empresas em várias áreas como energia, ambiente e transportes. No total, a Efacec emprega 2500 trabalhadores e, no ano passado, faturava 500 milhões de euros por ano. Foi, aliás, neste ano, que Isabel dos Santos investiu 200 milhões na compra de 65% da empresa. Por esta altura, o horizonte do grupo alargou-se. O governo de Angola previa investir 21 milhões de euros até 2017.
Candando
Em setembro de 2015, eis mais uma grande novidade. A empresária angolana e o grupo Sonae rompem a parceria que tinham na área do retalho. Os hipers Continente deixaram de ir para Angola. E, em vez disso, nasceram os hipers Candando. No início do projeto estava previsto que Isabel dos Santos investisse cerca de 256 milhões de euros nos primeiros cinco anos.
NOS
Foi em 20 de dezembro de 2009 que esteve negócio começou a ganhar forma. Esta foi a data em que Isabel dos Santos ficou com 10% da Zon Multimédia. Em 2012, a Unitel International Holdings B.V. ficou com 19,24%. A ideia era conseguir uma fusão com a Optimus do grupo Sonae. E é nesta sequência que a 14 de dezembro de 1992 a Sonaecom em conjunto com a filha de José Eduardo dos Santos anunciam publicamente a operação de fusão, que viria dar lugar à NOS.
BIC
Em 2005, Fernando Teles fez o seu próprio banco, o BIC Angola. Neste negócio em que tinha 20%, contou como sócios com Isabel dos Santos (25%) e Américo Amorim (25%). Em 2006, a empresária e Américo Amorim adquiriam, através da Ciminvest, os 49% que a Cimpor tinha na Nova Cimangola. Em janeiro de 2008, um ano depois da aprovação do Banco de Portugal, é constituído o BIC Portugal, o primeiro banco português com capitais maioritariamente angolanos.
Sonangol
Até ao início deste ano, o único ponto em comum entre a empresária e a Sonangol era Portugal. Como? Através da Esperaza, uma “holding” detida a 45% pela empresária e a 55% pela petrolífera angolana – que controlava 45% da Amorim Energia, que por sua vez tinha 33,34% da Galp. Agora, tudo mudou. José Eduardo dos Santos nomeou a filha para ser presidente da Sonangol.
Galp
O negócio da Galp vem da liagação de Isabel dos Santos à petrolífera angolana e a Américo Amorim. Depois da criação do BIC, começaram a separar alguns dos negócios, mas a Galp Energia foi uma exceção.
De Grisogono
Através de um verdadeiro esquema em cascata, Isabel dos Santos passou a ser proprietária de 95% da De Grisogono, uma famosa casa de fabricantes de jóias de luxo, na Suíça, que foi comprada por mais de 60 milhões de euros. Na verdade, Isabel dos Santos sempre viu nos diamantes a sua jóia preferida e isso fez com que se tornasse cliente de longa data da De Grisogono. E foi assim que, em 2012, quando surgiu a oportunidade, a comprou, numa operação de 100 milhões de euros.
BPI
Em abril deste ano, Isabel dos Santos detinha 270,6 milhões de ações do BPI através da Santoro. Assim, a holding da empresária angolana era mesmo o segundo maior acionista do BPI depois do CaixaBank, dono de 642,4 milhões de ações, o equivalente a 44,097% do capital. Neste seguimento, passaram-se meses de negociações entre o banco espanhol e a empresária sobre o futuro do BPI, depois de o CaixaBank ter feito uma oferta pública que aquisição este ano.