Um aspeto mais natural mas, acima de tudo, menos sensual. Foi a pensar neste fim que a RAI (a televisão pública italiana) criou regras internas para uniformizar as roupas e maquilhagem das jornalistas do canal. Desde a semana passada, altura em que mudou também a direção da estação, as apresentadoras de programas noticiosos da RAI estarão proibidas de usar decotes, vestidos justos, minissaias ou sequer blusas.
O novo dress code foi conhecido pelos trabalhadores através de uma circular interna assinada por Daria Bignardia, diretora da estação desde fevereiro deste ano. O texto estabelece ainda mais regras que, “a partir de agora, deverão ser seguidas pelos rostos femininos”, conta o espanhol “El Mundo”. Para além das peças acima citadas, as senhoras também não poderão usar vestidos de tubo ajustado aos corpos – a menos que sejam pretos -, argolas e outras jóias vistosas. Segundo o “El Mundo”, a ideia dos responsáveis da cadeia pública é criar uma “imagem mais recatada e natural, menos provocadora”.
As novas regras de estilo aplicam-se apenas às mulheres. Os apresentadores do canal terão, segundo o novo código, só um impedimento: usar casacos aos quadrados.
Simples, minimalista, natural Por cá, a TVI explicou ao i que há efetivamente um código de estilo que deve ser seguido pelos pivots de informação. Mas ao contrário da RAI, esse livro de estilo não tem um lista de items proibidos, mas tem um critério que deve funcionar como leme. Na estação de Queluz, a trilogia na hora de escolher a roupa deve seguir um critério “simples, minimalista e natural”.
A escolha destes adjetivos vai ao encontro dos próprios princípios do jornalismo. Para a TVI, estar bem apresentado e ainda assim ser discreto são dois objetivos que podem ser alcançados com o mesmo ‘look’. “Pretende-se que utilizem roupa que os favoreça, que seja discreta e não chame muito a atenção, dado que o importante, o enfoque, devem ser as notícias, não a roupa, o cabelo ou a maquilhagem”, realça a estação.
Apesar de não haver proibições, a TVI explica que há apenas algumas peças que um pivot de informação não deve de todo usar como, por exemplo, “fato de treino ou lingerie à mostra”.
Sobre as cores, a única proibição existente deriva de uma questão técnica. “Apenas o verde quando se apresenta ou grava em croma [técnica em que as imagens de fundo que vemos na televisão são colocadas digitalmente por cima de um fundo neutro, normalmente verde]. Fora essa situação, não há nenhuma outra cor proibida, o que se deve é ajustar a cada um a cor que lhe favoreça”, explica a TVI. O mesmo princípio é aplicado na maquilhagem – onde também há espaço para ouvir as opiniões quer dos maquilhadores quer dos jornalistas. “Pretende-se que tenham um look o mais natural possível, de acordo com as opiniões dos próprios e dos responsáveis pela maquilhagem”.
O casaco da meteorologista As roupas de alguns profissionais da televisão são cada cada vez mais escrutinadas e têm, nalguns casos, causado verdadeiros tumultos nas redes sociais pelo mundo fora. Veja-se o caso de Liberté Chan, apresentadora da meteorologia do canal KTLA5, sediado em Los Angeles, na Califórnia. No dia 14 de maio, Liberté, que vestia um vestido preto de alças, foi interrompida em direto pelo pivot do canal, Chris Burrous. Burrous passou para as mãos da colega um casaco, enquanto pedia à apresentadora que o vestisse. “O que está a acontecer? Queres que vista isto? Porque está frio?”, questionou Chan. “Estamos a receber muitos emails. Aqui tens” respondeu-lhe o colega. A meteorologista, com ar estupefacto, acabou por vestir o casaco de malha. Mas ainda comentou que “parecia uma bibliotecária”.
Poucos minutos depois, o Twitter era inundado de comentários depreciativos para com a atitude dos espetadores que enviaram emails considerando o vestuário inapropriado como o do próprio canal. Mais tarde, veio assegurar que não foi obrigada a vestir o casaco e que o episódio se tratou apenas de um “momento espontâneo”. “Se alguma vez já viram o programa da manhã, sabem que gozamos uns com os outros constantemente”, escreveu.
Um sorteio indeferido Este episódio ocorreu nos Estados Unidos, mas quando falamos de indumentárias de jornalistas e apresentadoras em canais noticiosos do Médio Oriente, a realidade é outra, simplesmente porque falamos de culturas diferentes. Mas já houve casos de mulheres ocidentais que tiveram de se cobrir, nomeadamente, para que pudessem aparecer na televisão iraniana.
Em 2014, na primeira fase do Mundial de futebol organizado pelo Brasil, os adeptos do Irão não puderam ver em direto o sorteio das equipas. Tudo porque Fernanda Lima, uma das apresentadoras do evento, surgiu com um vestido decotado.
Segundo o jornal francês “Le Point”, a emissão no Irão começou, como de costume, com alguns segundos de atraso para que os editores tivessem tempo de censurar as imagens. No entanto, Fernanda Lima – e o seu decote – não paravam de aparecer, o que fez os responsáveis iranianos cortar totalmente a emissão, dado que o vestido foi considerado demasiado sensual para ser exibido, segundo a lei do país, na televisão. A polémica foi tanta que a apresentadora apresentou um pedido público de desculpas através do jornal português “O Jogo”. “Usei um vestido que qualquer mulher poderia usar numa festa deste nível. Mas fiquei chateada por eles [iranianos], porque não puderam assistir ao sorteio todo. Quero dizer que sinto muito por tudo o que aconteceu. Nunca foi minha intenção ofender qualquer país, cultura ou povo, de forma alguma, ou causar qualquer desconforto ou polémica”, afirmou. (Para que conste, os iranianos, que não participavam no campeonato do Mundo desde 2006, defrontaram na primeira fase de grupos a Bósnia-Herzegovina, a Argentina e a Nigéria. Só o souberam um minutinhos mais tarde.)