Kiev garante ter impedido uma onda de atentados em França

Kiev garante ter impedido uma onda de atentados em França


O anúncio do chefe do SBU e a captura de um arsenal e de um cidadão francês estão envoltos em polémica e acusações de tortura


O vídeo divulgado pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (conhecido na Ucrânia pela sigla SBU) tem um aspeto de filme cómico dos Monty Python: vê-se um homem, com uma camisola vermelha de manga curta, a entrar num veículo comercial. Mal entra, aparecem em corrida uma data de militares que o tiram do automóvel e o imobilizam no solo. Nas imagens seguintes vê–se uma quantidade industrial de armamento.

Segundo Vasili Gritsak, presidente do SBU, foram apreendidas, com a prisão do homem que se vê nas imagens, cinco espingardas-metralhadoras Kalashnikov, mais de 5000 munições, dois lança-granadas, 18 projeteis para os ditos cujos, 125 quilos de explosivos plásticos, 1000 detonadores, 20 passa-montanhas e outros objetos não especificados.

“Trabalhámos durante meio ano e documentámos o trabalho passo a passo. Ao princípio pensámos que se tratava só de uma organização terrorista. No entanto, descobrimos uma estrutura que atua em França e que está insatisfeita com o governo de Paris e quer cometer vários atos terroristas durante o Campeonato Europeu de Futebol”, garantiu Gritsak. O chefe das secretas de Kiev insinua que deve haver “uma pista russa” na possível organização do atentado. O cidadão francês de 25 anos que foi detido estava acompanhado de um ucraniano, o que, segundo Gritsak, indiciaria uma possível mão de Moscovo.

No entanto, a imprensa internacional duvida da veracidade desta ação dos serviços de segurança de Kiev. O jornal espanhol “El País” nota que “o anúncio, com uma veracidade que está por demonstrar, foi feito em Kiev pelo presidente do SBU, Vasili Gritsak, que se encontra pessoalmente numa situação delicada depois de a instituição que dirige ter sido acusada de torturar pessoas capturadas no conflito no leste da Ucrânia, e depois de ter negado a uma missão da ONU para a prevenção da tortura o acesso a várias prisões, o que obrigou o chefe de missão das Nações Unidas a suspender o seu trabalho”, escreve o diário espanhol.

As acusações do uso sistemático de tortura por parte do SBU figuram no último documento sobre o cumprimento dos direitos humanos que, na última sexta feira, foi apresentado em Kiev pelo ajudante do secretário-geral, Ivan Shimonovich. Este alto funcionário da ONU afirmou que tinha provas e documentos sobre centenas de casos de tortura, tanto em territórios controlados pelas autoridades ucranianas como em territórios não controlados por essas autoridades.

A Ucrânia negou estas acusações mas, ontem de manhã, o procurador-geral ucraniano, general Yuri Lutsenko, realizou uma inspeção extraordinária nas prisões da SBU em Kiev, acompanhado pela defensora dos direitos humanos da Rada Suprema (parlamento ucraniano), Valeria Lutkovskaia, e pelo presidente do SBU, o citado Vasili Gritsak. É neste contexto que surge a conferência de imprensa do SBU, dizendo que tinha evitado 15 atentados no Europeu de França.