Espião diz que não estava a vender dados da Nato a russo

Espião diz que não estava a vender dados da Nato a russo


A defesa de Frederico Carvalhão Gil garante que o quadro do SIS não estava a vender informação secreta da Nato às secretas russas, contrariamente ao que defendem os investigadores da Operação Top Secret.


Carvalhão Gil foi detido a 21 de maio em Roma, numa esplanada do bairro de Tratevere, quando trocava envelopes com Sergey Nicolaevich Pozdnyakov, um membro dos serviços russos. O português é, por isso, suspeito de ter praticado crimes de espionagem, violação do segredo de Estado, corrupção e branqueamento de capitais.

No entanto, em declarações à imprensa, feitas esta tarde, o advogado José Preto disse que "é tudo um disparate" e assegurou que a Operação Top Secret é "ficção pura".

De acordo com a versão do Carvalhão Gil, não estavam a ser trocados envelopes e o dinheiro que recebeu foi fruto de "um pagamento", do qual "tem recibo".

José Preto, que descarta por completo a hipótese de venda de informação, desafiou ainda o Ministério Público português a provar que apanhou Carvalhão Gil em flagrante a vender documentos.

Críticas às autoridades italianas

Mas as críticas não são dirigidas apenas às autoridades portuguesas, o advogado ataca ainda a forma como o processo foi conduzido em Roma, onde diz não ter sido dado o acompanhamento jurídico correto. Garante também que se tal tivesse acontecido, Carvalhão Gil até poderia ter optado por não regressar a Portugal.

De acordo com a defesa do espião, o advogado do Estado italiano nomeado para o defender não falava outra língua além do italiano, um idioma que Carvalhão Gil não sabe.

O quadro das secretas portuguesas está detido há mais de 15 dias e ainda não foi ouvido pelo juiz de instrução criminal, o que deverá acontecer nas próximas horas. Responderá no Tribunal Central de Instrução Criminal ao juiz Ivo Rosa, mas também aos procuradores Vítor Magalhães e João Melo, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).

O espião português chegou a Lisboa domingo à noite, no último avião da TAP vindo de Roma, sentado na última fila sob fortes medidas de segurança. A sua extradição para Lisboa foi decidida em tempo recorde pela justiça italiana, estando ainda por decidir a extradição do membro das secretas russas a quem vendia informações, Sergey Nicolaevich Pozdnyakov.

O resto da investigação

Após a detenção dos dois homens, num café em Trastevere, Roma, no âmbito da Operação Top Secret, a investigação tenta agora apurar quais as ligações entre os dois homens e perceber qual a dimensão das trocas de informações – bem como das respetivas consequências.

Nesse encontro, Carvalhão Gil iria receber 10 mil euros pela entrega de informações secretas da NATO, mas muitas outras trocas poderão ter acontecido, uma vez que não era a primeira vez que havia registo de encontros entre Sergey e Carvalhão Gil.

Além de se estar a investigar a possibilidade de o espião português ter cúmplices dentro do Serviço de Informações de Segurança (SIS), uma vez que parte da documentação da NATO lhe estaria inacessível por ordens superiores, existe ainda a hipótese de ter obtido dados de outras entidades portuguesas para vender aos russos.

Uma das prioridades da Operação Top Secret é perceber se o agente português entregou aos serviços secretos russos nomes e localização de espiões ocidentais que estão em vários países.