En passant


“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, segundo S. Mateus. 


A metáfora é quase tão antiga como a civilização ocidental e o género humano perpetuá-la-á eternamente como intrínseca à sua própria natureza. Por isso mesmo, não irei entrar pela via das interpretações teológicas, filosóficas, nem mesmo pela pertinência da controvérsia linguística na tradução do texto original, interessante com certeza, mas que aqui seria descontextualizada, uma vez que, melhor ou pior, todos temos a nossa interpretação. 

Vamos então ao que interessa: lembro-me, quando era pequeno, de ver o “Belarmino”(1964) do saudoso Fernando Lopes, no tempo em que entre a “Mary Poppins”, o Chaplin e “O Pátio das Cantigas” ia começando a formatar a minha cultura cinéfila. O “Belarmino” marcou-me talvez mais do que devesse, pela crueza, pelo realismo social, e também pela agressividade de um nobre desporto, ali magistralmente transmitida, com regras estritas, e que suscita paixões, mas que nunca me atraiu, nem nos tempos do Cassius Clay.

Dito isto, sei que o boxe, nos tempos que correm, é quase um chá dançante quando comparado a um dito “desporto” que, pela televisão, está à mercê de qualquer criança e a que os brasileiros chamam de “vale tudo”. Há dois homens que se massacram mutuamente com os golpes mais baixos até que alguém perde por manifesta falência física ou, como recentemente aconteceu com um português, pela morte. Para debater o tema não é preciso ter o 12.o ano nem ser possuído de ignorância atrevida. Ninguém o fez e é estranho, convenhamos. Valha-nos S. Mateus.

Escreve à terça-feira

En passant


“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, segundo S. Mateus. 


A metáfora é quase tão antiga como a civilização ocidental e o género humano perpetuá-la-á eternamente como intrínseca à sua própria natureza. Por isso mesmo, não irei entrar pela via das interpretações teológicas, filosóficas, nem mesmo pela pertinência da controvérsia linguística na tradução do texto original, interessante com certeza, mas que aqui seria descontextualizada, uma vez que, melhor ou pior, todos temos a nossa interpretação. 

Vamos então ao que interessa: lembro-me, quando era pequeno, de ver o “Belarmino”(1964) do saudoso Fernando Lopes, no tempo em que entre a “Mary Poppins”, o Chaplin e “O Pátio das Cantigas” ia começando a formatar a minha cultura cinéfila. O “Belarmino” marcou-me talvez mais do que devesse, pela crueza, pelo realismo social, e também pela agressividade de um nobre desporto, ali magistralmente transmitida, com regras estritas, e que suscita paixões, mas que nunca me atraiu, nem nos tempos do Cassius Clay.

Dito isto, sei que o boxe, nos tempos que correm, é quase um chá dançante quando comparado a um dito “desporto” que, pela televisão, está à mercê de qualquer criança e a que os brasileiros chamam de “vale tudo”. Há dois homens que se massacram mutuamente com os golpes mais baixos até que alguém perde por manifesta falência física ou, como recentemente aconteceu com um português, pela morte. Para debater o tema não é preciso ter o 12.o ano nem ser possuído de ignorância atrevida. Ninguém o fez e é estranho, convenhamos. Valha-nos S. Mateus.

Escreve à terça-feira