E subitamente “o bem amado”, Marcelo dixit, entrou no congresso do PS. António Guterres não aparecia há muitos anos e não se ouvia o famoso trecho de Vangelis, À Conquista do Paraíso, há séculos. Foi uma entrada ao estilo “razão e coração”, o inesquecível slogan de Guterres nas eleições de 1995, quando o PS conseguiu pôr fim a 10 anos de cavaquismo. Coração porque Guterres é de facto bem-amado no PS e como mandam as regras da nostalgia o passado foi sempre perfeito; razão porque um candidato a secretário-geral das Nações Unidas deve ir a todo o lado e também ao congresso do partido que o liderou e o fez primeiro-ministro.
Guterres já “tinha saudades”, confessou. Mas o discurso foi curto, ao contrário dos prolongados beijos e abraços. “Não podem imaginar as saudades que tinha de aqui estar. Só queria manifestar-vos toda a solidariedade neste momento fundamental para a vida do nosso partido e do nosso país”, disse Guterres. O ex-líder começou por justificar que as funções que desempenhou nos últimos anos, enquanto Alto-Comissário para os Refugiados, não lhe permitiram estar em congressos do PS. “E corro o risco, se as coisas correrem bem, de o mesmo vir a suceder no futuro”, disse Guterres, antevendo a vitória na corrida a secretário-geral das Nações Unidas. Foi o momento emocional do congresso e o coração socialista agitou-se.