Arranca esta tarde em Lisboa o xxi congresso do PS. É a primeira reunião magna do partido em que o PS está no governo com uma aliança com os partidos à sua esquerda. António Costa chega a este congresso sem oposição interna organizada. Contam-se pelos dedos os socialistas que vão subir ao palco para contestar o governo que ficou conhecido como a gerigonça.
Debates para vários gostos O encontro deste fim de semana, no Parque das Nações (FIL), em Lisboa, apresenta algumas mudanças em relação àquilo que é a tradição nos congressos do PS. Esta tarde, a partir das 17h30 e durante cerca de três horas, a iniciativa “Portas abertas” vai levar àquela zona da cidade várias figuras do partido para participarem em debates temáticos. Educação, cultura e economia são temas que vão juntar Paulo Pedroso, André Freire, Manuel Vale e outros nomes ligados ao PS.
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O modelo prolonga-se para a manhã de sábado, mas aí já com rostos externos ao próprio PS. Pacheco Pereira e Ana Drago – a dissidente do BE que, nas últimas legislativas, concorreu com Rui Tavares em nome da plataforma LIVRE/Tempo de Avançar. Vão debater com o socrático Pedro Silva Pereira o tema “Socialismo democrático: que futuro?”.
As moções São dez e focam assuntos tão distintos como a legalização do consumo de drogas leves, a eutanásia, a limitação dos salários e a revisão do mapa do poder local.
Só o líder da JS, João Torres, encabeça a apresentação de três temas: drogas, a regulamentação da prostituição e a “limitação proporcional de salários” no setor público e privado. No setor empresarial do Estado, por exemplo, João Torres entende que o salário mais alto não pode ser mais de 20 vezes superior ao mais baixo (na prática, os vencimentos poderiam chegar quase aos 11 mil euros).
A justiça também merece atenção (por exemplo, com a criação de “locais de atendimento” nas freguesias e realização de videoconferências nas câmaras municipais).
As intervenções do líder António Costa vai intervir pela primeira vez ainda hoje, já noite dentro. O secretário-geral socialista apresenta aos militantes o relatório de atividades do secretariado nacional.
Mas o discurso do líder socialista que mais atenções deverá prender está agendado para o final da manhã de domingo. Por essa altura, quando se dirigir aos militantes do PS para o encerramento do congresso, Costa já conhecerá os resultados da eleição dos órgãos nacionais.
É um capítulo sem grande margem para surpresas e que servirá para o secretário-geral reafirmar a liderança conquistada a António José Seguro em setembro de 2014. Ainda assim, a secretária-geral-adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, deixou passar a ideia, esta semana, em entrevista à Antena 1, de que os órgãos de direção do partido poderão ser abertos a figuras independentes, distantes, por exemplo, dos cargos de deputado ou autarca e mais ligados à sociedade civil.
Mas ainda que não se vislumbrem adversários disponíveis para disputar a liderança – Daniel Adrião apresentou a moção “Resgatar a Democracia”, admitindo de imediato que não o fazia com o intuito de destronar o secretário-geral -, António Costa não abafou algumas das vozes dissonantes.
Os críticos da liderança Os protagonistas são conhecidos. Não é agora que surge a discórdia de Francisco Assis, Álvaro Beleza, Sérgio Sousa Pinto, João Proença, Fonseca Ferreira e António Galamba em relação ao modelo que Costa seguiu para garantir que o PS encabeçava a tal maioria histórica de esquerda na Assembleia da República.
Ainda esta semana, em entrevista ao i, o ex-membro do secretariado nacional de Seguro tecia duras críticas sobre o “medo” que se terá instalado nas estruturas do PS e que terá levado militantes do partido a optar por se manterem em silêncio.