Quando se pretende dar cor à liberdade. Ponto


A festa amarela, com tudo a que tem direito – barulho, música, dança, bombos, etc. -, pode continuar desde que não esfalfe demasiado as criancinhas


Se não fosse o mau gosto, o que seria do amarelo? Eis um provérbio popular que hoje pode desagradar a muita gente. No entanto, a onda amarela que no passado domingo se espalhou junto à Assembleia da República não deve ser reduzida à questão cromática. Vejamos: milhares de camisolas, balões, cartazes, flores e outros adereços, tudo amarelo, significam necessariamente umas tantas oportunidades de negócio. Sem falar no emprego direto e indireto que lhes estará associado. Na atual conjuntura, convenhamos, este espevitamento da economia nacional não é despiciendo, c’os diabos! Outra coisa é pretender discutir a liberdade de escolha se o negócio se vê ameaçado – sim, porque o ensino privado é um negócio. Um negócio tão legítimo e respeitável como outro qualquer. E sobre isto já foi tudo dito. O governo, estribado no parecer da Procuradoria-Geral da República que, homologado, vincula a administração pública, já disse o que lhe aprouve. A associação dos colégios já disse ao que vinha. E a menos que um tribunal administrativo, demandado para o efeito, sentencie de forma diferente, assunto encerrado. A festa amarela, com tudo a que tem direito – barulho, música, dança, bombos, etc. -, pode continuar desde que não esfalfe demasiado as criancinhas. Aí temos de invocar a proteção e os direitos dos menores. O que não fica bem a causa nenhuma! Muito menos a uma causa que se pretende a favor deles.

O direito a escolher livremente tem muito que se lhe diga. Até porque, quando menos se espera, a escolha pode ser boicotada. Foi o que aconteceu naquele dia escolhido para percorrer a serra da Arrábida. Sem que tal fosse previsto, amanheceu um céu cinzento, chuvinhado e a enfriar o passeio que um vento irritante conseguiu fazer encurtar. Nada, porém, que impedisse a travessia pela estrada belamente ensanduichada entre o mar e as arribas de recorte trapezoidal, a lembrar mastabas, tão diferente dos picos graníticos das serras no Norte. A Arrábida é de uma beleza requintadamente feminina no arredondado das copas dos pinheiros mansos – e demais espécies autóctones -, exibindo tonalidades de verde vivo derramado na exuberância da manta vegetal de tipo mediterrânico. Barreira natural para os ventos do norte que encapelam as ondas, a serra cai sobre um mar de águas tranquilas a lamber, lânguido, as praias de areia fina. E a páginas tantas, uma placa indicando “Portinho da Arrábida”. Impossível passar adiante. A pequena aldeia avista-se, lá no fundo, por entre as árvores: parece um presépio de brincar! E pouco mais é que isso, um nicho na falésia, meia dúzia de casinhas, a extensa praia e os barquitos ancorados na pequena baía. Se o cinzento do céu acinzenta o azul do mar, é apenas uma questão de cores. No mais, a formosura reina ali.

Está visto: nem sempre a cor que mais nos agrada se afeiçoa à nossa escolha. E o contrário também é verdadeiro: não basta insistirmos numa cor para que a nossa escolha se imponha. A cor da nossa vontade é mais fraca que a dos nossos direitos. A liberdade, essa, não se deixa aprisionar por tão pouco. Só por engano é que os colégios clamam que lhes estão a tolher a liberdade. Ponto.

Gestora


Quando se pretende dar cor à liberdade. Ponto


A festa amarela, com tudo a que tem direito - barulho, música, dança, bombos, etc. -, pode continuar desde que não esfalfe demasiado as criancinhas


Se não fosse o mau gosto, o que seria do amarelo? Eis um provérbio popular que hoje pode desagradar a muita gente. No entanto, a onda amarela que no passado domingo se espalhou junto à Assembleia da República não deve ser reduzida à questão cromática. Vejamos: milhares de camisolas, balões, cartazes, flores e outros adereços, tudo amarelo, significam necessariamente umas tantas oportunidades de negócio. Sem falar no emprego direto e indireto que lhes estará associado. Na atual conjuntura, convenhamos, este espevitamento da economia nacional não é despiciendo, c’os diabos! Outra coisa é pretender discutir a liberdade de escolha se o negócio se vê ameaçado – sim, porque o ensino privado é um negócio. Um negócio tão legítimo e respeitável como outro qualquer. E sobre isto já foi tudo dito. O governo, estribado no parecer da Procuradoria-Geral da República que, homologado, vincula a administração pública, já disse o que lhe aprouve. A associação dos colégios já disse ao que vinha. E a menos que um tribunal administrativo, demandado para o efeito, sentencie de forma diferente, assunto encerrado. A festa amarela, com tudo a que tem direito – barulho, música, dança, bombos, etc. -, pode continuar desde que não esfalfe demasiado as criancinhas. Aí temos de invocar a proteção e os direitos dos menores. O que não fica bem a causa nenhuma! Muito menos a uma causa que se pretende a favor deles.

O direito a escolher livremente tem muito que se lhe diga. Até porque, quando menos se espera, a escolha pode ser boicotada. Foi o que aconteceu naquele dia escolhido para percorrer a serra da Arrábida. Sem que tal fosse previsto, amanheceu um céu cinzento, chuvinhado e a enfriar o passeio que um vento irritante conseguiu fazer encurtar. Nada, porém, que impedisse a travessia pela estrada belamente ensanduichada entre o mar e as arribas de recorte trapezoidal, a lembrar mastabas, tão diferente dos picos graníticos das serras no Norte. A Arrábida é de uma beleza requintadamente feminina no arredondado das copas dos pinheiros mansos – e demais espécies autóctones -, exibindo tonalidades de verde vivo derramado na exuberância da manta vegetal de tipo mediterrânico. Barreira natural para os ventos do norte que encapelam as ondas, a serra cai sobre um mar de águas tranquilas a lamber, lânguido, as praias de areia fina. E a páginas tantas, uma placa indicando “Portinho da Arrábida”. Impossível passar adiante. A pequena aldeia avista-se, lá no fundo, por entre as árvores: parece um presépio de brincar! E pouco mais é que isso, um nicho na falésia, meia dúzia de casinhas, a extensa praia e os barquitos ancorados na pequena baía. Se o cinzento do céu acinzenta o azul do mar, é apenas uma questão de cores. No mais, a formosura reina ali.

Está visto: nem sempre a cor que mais nos agrada se afeiçoa à nossa escolha. E o contrário também é verdadeiro: não basta insistirmos numa cor para que a nossa escolha se imponha. A cor da nossa vontade é mais fraca que a dos nossos direitos. A liberdade, essa, não se deixa aprisionar por tão pouco. Só por engano é que os colégios clamam que lhes estão a tolher a liberdade. Ponto.

Gestora