FC Porto. Papa Jorge Nuno chama o Espírito Santo para o salvar

FC Porto. Papa Jorge Nuno chama o Espírito Santo para o salvar


Antigo guarda-redes do Porto e ex-treinador do Valência regressa a Portugal para suceder a José Peseiro, ontem despedido. Foi o primeiro jogador a ser transferido pelo “super agente” Jorge Mendes, que está a mediar as negociações  


Nem Marco Silva, nem André Vilas Boas, nem Leonardo Jardim, nem Paulo Sousa, nem Jorge Jesus. Será Nuno Espírito Santo a substituir José Peseiro no comando do FC. Porto na próxima época, segundo avançou ontem o “Jornal de Notícias”, notícia mais tarde confirmada pela TSF e pelo “Expresso”. Peseiro, que chegou para substituir Julen Lopetegui em janeiro deste ano, deixou a equipa no terceiro lugar do campeonato, perdeu a final da Taça de Portugal para o SC Braga e ultrapassou o número de derrotas do espanhol: em março já tinha perdido cinco em doze jogos contra quatro em vinte cinco partidas de Lopetegui. Cessou ontem o contrato com os dragões, como informou o clube em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Foi um “banco mau” por outro “banco mau” que durou menos de seis meses, dirão os adeptos e o próprio presidente Pinto da Costa, que desesperam por alguém que salve o clube do vazio de títulos que já dura há três anos. O escolhido para salvar a nação portista tem nome divino e muitos anos de casa. No entanto, os dragões ainda não fizeram nenhum comunicado oficial nem comunicaram à CMVM o substituto de Peseiro.

O técnico português, de 42 anos, leva no seu currículo duas experiências como treinador: primeiro no Rio Ave, onde chegou a uma final da Taça da Liga e da Taça de Portugal em 2013/2014 e depois no Valência, que deixou no nono lugar da liga espanhola em novembro de 2015, depois de uma primeira temporada em que ficou no quarto lugar e chegou aos play-off da Liga dos Campeões. Chega agora a uma casa que conhece bem e onde sempre foi visto como um líder de balneário, mesmo tendo sido o “eterno suplente”.

É dele a expressão “somos Porto!”, por exemplo. Na época 2009/2010 , a última época de Espírito Santo nos dragões, os antigos jogadores portistas Hulk e Sapunaru foram castigados no famoso “caso do túnel” – onde os dois agrediram alegadamente um segurança na derrota (1-0) contra o Benfica no Estádio da Luz – e o ex-guardião fez uma conferência de imprensa, apoiado por todo o  plantel, para liderar a revolta portista. “Administração, staff, jogadores e toda a gente que gosta do FC Porto continua e continuará a ser FC Porto. Vamos ganhar sempre e cada vez mais. Somos Porto e estamos unidos. Não se esqueçam disso”, disse, impôs, e por lá ficou: hoje em dia é das frases mais ouvidas pelos adeptos azuis e brancos.

Mas a história de Espírito Santo está intimamente ligada ao “super agente” e dono da Gestifute, Jorge Mendes. Não só porque foi ele o primeiro jogador transferido pelo agente português para o Deportivo da Corunha em 1996 ( vindo do Vitória de Guimarães), onde não foi feliz – e dava início à carreira de “eterno suplente” -, mas também porque esteve na transferência do treinador para o Rio Ave e depois para Espanha, e agora está presente no seu regresso a solo português. Antes de Cristiano Ronaldo, Di Maria ou outro tantos craques mundiais do futebol moderno, Mendes, que começou por ser dono de uma discoteca no Minho, conheceu um estranho a quem quis mudar a vida. E mudou.

Não teve a benção em Espanha  Antes de chegar aos dragões, Nuno esteve em Espanha durante seis anos. Primeiro no Corunha, depois no  Mérida, da segunda liga espanhola – onde ganhou o troféu Zamora, para o guardião menos batido da competição -, a seguir pelo Osasuna e novamente pelo Depor. Chegou ao FC Porto pelas mãos de José Mourinho em 2002/03, mas Vítor Baía não dava grande espaço – o técnico português e Baía desentenderam-se entretanto e o guardião natural de São Tomé em Príncipe conseguiu fazer dez jogos que ajudaram na conquista desse campeonato. Na época seguinte foi decisivo na Supertaça Intercontinental ao defender as grandes penalidades contra os colombianos do Once Caldas. Mas em duas épocas jogou apenas 24 partidas.

Partiu para a Rússia ao lado de Maniche e Costinha em 2005 para o Dínamo de Moscovo com um bicampeonato português, uma Taça de Portugal, uma Liga dos Campeões e uma Taça UEFA no bolso por 2.5 milhões de euros, com Mendes a mediar as negociações – porém a experiência voltou a não ser feliz, tendo feito apenas onze jogos. Acabou por regressar a Portugal para jogar no Desportivo das Aves (15 jogos) e meio ano depois estava de novo a vestir a camisola azul e branca pelos mesmos valores monetários da transferência anterior – três épocas com Jesualdo Ferreira a liderar e mais dois campeonatos e duas Taças de Portugal (30 jogos ao todo). Pendurou as botas na final da Taça da Liga diante do Benfica em 2010 (3-0 para o Benfica) e foi com Jesualdo para o Málaga para treinar os guarda-redes e depois para o Panathiniakos.

E há três anos, no Rio Ave, confirmou a longa amizade que sempre teve com Mendes com um simples “adoro-te”, por telefone, antes de começar a conferência de imprensa de rescaldo à vitória dos vilacondenses sobre o SC. Braga nas meias finais da Taça de Portugal – perdeu na final por 1-0 contra o Benfica.

 Em Espanha, novamente ajudado pelo “super agente”, foi dos 8 aos 80 (e depois outra vez aos oito) no Valência entre 2014 e 2015. Saiu “muito honrado”, como disse na altura na sua despedida, teve tempo de criticar o futebol do Barcelona treinado por Pep Guardiola e demonstrou-se eternamente grato a Mendes. “Eu aprendo muito com ele, é um sábio. É mais inteligente do que nós todos juntos”, afirmou em março do ano passado em entrevista ao diário espanhol “Marca”.

Os dois estão a ultimar a sua nova aventura como treinador numa casa bem familiar onde já existe um Papa, leia-se Pinto da Costa, mas onde os tempos de glória – e a seca de títulos desde 2013 –  pedem por um Espírito Santo.