Mesmo perante a ameaça de despedimento coletivo, os estivadores decidiram manter a greve, que pode até vir a ser prolongada para depois de 16 de junho. Mas esta decisão poderá vir a ter consequências graves já na próxima semana. Em resposta ao anúncio feito pelo Sindicato dos Estivadores, as sete empresas que neste momento operam no Porto de Lisboa admitem que o despedimento coletivo de parte dos 272 estivadores efetivos vai mesmo avançar. Ao que tudo indica, os estivadores que forem visados neste processo deverão começar a ser notificados já no início da próxima semana. Quem o garante é o presidente da Associação dos Operadores do Porto de Lisboa (AOPL), que defende que as perdas excessivas verificadas atualmente não comportam os custos da atividade.
De acordo com Joaquim Morais Rocha, o processo de despedimento coletivo está a ser concluído, “com toda a tramitação legal exigida, incluindo elementos integrantes dos respetivos dossiês por cada uma das empresas a que estão vinculados”.
No entanto, ainda se desconhece o número exato de trabalhadores que poderão vir a ser abrangidos por esta decisão.
Acima de tudo, os operadores justificam a medida com o facto de não conseguirem comportar mais as consequências da falta de entendimento e assumem que chegaram a um ponto de rutura. “É uma decisão difícil de tomar, mas representa o limite de todos os limites”, até porque, como sublinha Morais Rocha, é cada vez mais imperativo começar a reorganizar as empresas de operação portuária de forma a impedir o colapso: “Senão caímos no abismo e não teremos outra alternativa senão encerrarmos as empresas”.
Estivadores não recuam Apesar da ameaça de despedimento coletivo, o Sindicato dos Estivadores mostrou-se irredutível e, acima de tudo, tranquilo com a posição que assumiu. Fonte próxima dos estivadores garante mesmo que o despedimento não é legal e que a luta pelos direitos dos trabalhadores vai continuar.
Para os estivadores do Porto de Lisboa ganha agora prioridade o protesto agendado para 16 de junho, que serve de resposta à pressão que tem sido feita para que a greve acabe. “Volto a recordar que o que está a ser feito é contra a lei. O que nos estão a fazer há quatro anos é terrorismo psicológico”, explicou António Mariano, acrescentando que “quando se fala do prejuízo dos dias de greve, esquecem que há um monopólio. Eles controlam também os outros portos, por isso, perdem neste e ganham nos outros”.
Empresários exigem solução Cada vez mais preocupado com a situação do Porto de Lisboa, António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), pediu uma reunião com os operadores, que ainda não tem data marcada, mas que se deverá realizar já na próxima semana.
“Temos de encontrar soluções para este problema. E não é com crispações que se resolve”, explica ao i, acrescentando que o anúncio de um possível prolongamento da greve é um problema sério: “Quanto mais tempo se prolongar, pior para a economia. Em quatro ou cinco anos, o Porto de Lisboa perdeu cerca de 50% da atividade. São os próprios postos de trabalho que começam a estar em causa”.
Para o presidente do CIP é cada vez mais preocupante o facto de as empresas começarem a procurar outras alternativas, até mesmo fora de Portugal: “Se o conflito continuar, as empresas vão procurar alternativas como já aconteceu com empresas que foram para Vigo”.