ArcoLisboa. Com os olhos postos em África

ArcoLisboa. Com os olhos postos em África


E no Brasil, o país com mais galerias representadas logo depois de Portugal e Espanha nesta primeira ArcoLisboa, até domingo na Cordoaria Nacional 


Um soldado fotografado de costas 14 vezes dá 14 imagens diferentes e uma das peças que atraem mais olhares de quem passa no corredor junto ao espaço da galeria de Luciana Brito no dia da inauguração oficial da ArcoLisboa, primeira edição fora de portas da feira de arte contemporânea que nasceu nos anos 80 em Madrid, acolhida pela Fábrica da Cordoaria Nacional até domingo. O autor da obra é Pablo Lobato, artista visual e cineasta brasileiro que é um dos nomes destacados pela galerista de São Paulo que, depois de vários anos a participar na ArcoMadrid, chega agora à ArcoLisboa.

Galeria que em São Paulo representa tanto artistas brasileiros como internacionais, Marina Abramovic é um dos nomes, mas que em Lisboa decidiu apostar em nomes nacionais. “Lisboa é uma cidade que está crescendo muito, tem muitos brasileiros que estão vindo morar aqui, está super em alta, a cidade é incrível e as pessoas também”, diz Júlia Brito, filha de Luciana para acrescentar depois que a aposta para esta feira foi nos artistas nacionais: “É interessante esse movimento de vir aqui mostrar os artistas brasileiros.”

Um dos objetivos da Arco em Lisboa, com esta feira com uma dimensão muito mais reduzida do que aquela que se realiza anualmente em Madrid, é que consiga abrir ao Brasil e à África lusófona as mesmas portas que a ArcoMadrid conseguiu abrir na Europa à arte latino-americana. A prova é as galerias brasileiras fazerem notar-se bem em número, logo a seguir às espanholas e portuguesas, numa edição em que estão presentes 45 galerias de oito países, com centenas de artistas representados e mais de 100 colecionadores convidados. Joaquín Torres Garcia, Mario Merz, Dan Graham, Robert Barry, Lawrence Weiner, Julian Opie, Daniel Steegmann – com as suas cortinas de alumínio na Múrias Centeno a serem talvez a obraque mais se faz notar de toda a feira – são alguns dos artistas internacionais presentes, ao lado de nomes portugueses tão sonantes como Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, Joana Vasconcelos ou João Maria Gusmão + Pedro Paiva.

As jovens promessas Carlos Urroz, diretor da ArcoMadrid, explica que fez sentido fazer uma edição em Lisboa “pelo vínculo que há entre as galerias portuguesas – como Pedro Oliveira, Cristina Guerra, Filomena Soares – e a Arco há muitos anos”, mas acrescenta que a ArcoLisboa é “uma feira de seleção”, à qual concorreram “muitas galerias” para depois ser selecionado um grupo adequado ao espaço. Uma “versão boutique” da ArcoMadrid como tem vindo a ser descrita.

“Focámo-nos sobretudo na qualidade do programa e dos artistas representados, de forma a que fizessem também sentido no contexto da ArcoLisboa”, prossegue Urroz que garante que as semelhanças com a irmã mais velha da capital espanhola  são “quase nenhumas: as galerias são diferentes, algumas repetem mas as obras são todas diferentes. Está mais vinculada aos conteúdos da arte poruguesa, porque há muitos artistas portugueses representados, mas num contexto internacional, com galerias de Los Angeles, de Nova Iorque, da Colômbia”, enumera Urroz, que acredita que “há uma geração de jovens artistas portugueses, em Portugal mas também em Berlim ou Nova Iorque, que têm uma carreira internacional e um grande potencial”.

O mesmo diz Cristina Guerra, cuja galeria tem um dos espaços de maior destaque na ArcoLisboa, a par de outras como Múrias Centeno, Filomena Soares ou a Baginski. “Isto pode ser realmente aquilo que é o filet mignon, mais pequeno e melhor”, sustenta numa conversa que se faz difícil entre as solicitações habituais numa inauguração lotada como se previa que esta fosse. “O que é preciso é que venham colecionadores, que se perceba que aqui estão pessoas importantíssimas.” Cristina Guerra integra, com Nuno Centeno, da Múrias Centeno, o comité organizador da feira que esteve lotada na inauguração e, segundo consta, o cenário repetiu-se ontem, primeiro dia em que a ArcoLisboa esteve aberta ao público, com uma fila que se fazia ver da Av. 24 de Julho.

Mas vamos ao encontro de Juana de Aizpuru, galerista espanhola que pôs em marcha a primeira edição da Arco em Mardid, em 1982, que decidiu dar em Lisboa destaque a vários artistas portugueses, entre eles a dupla João Maria Gusmão e Pedro Paiva. “A ideia aqui foi fazer uma feira especial – que existe cada vez menos porque as feiras são cada vez maiores, com muitas atividades e muito difíceis de visitar – que fosse mais pequena, com poucas galerias e uma oferta mais selecionada”, diz-nos. “Não se tratava de fazer outra ArcoMadrid, que  está demasiado perto, os portugueses vão lá todos os anos. Tratava-se de fazer uma feira que não existisse e pensou-se em Lisboa pelo sítio maravilhoso que é. E porque pode ter um futuro muito bonito porque Portugal sempre esteve muito ligado com África e da mesma maneira que a Arco foi a porta por onde o mercado latino-americano entrou no meio europeu, esta feira pode servir como uma porta para a arte africana. Esta feira tem um sentido e tem um futuro.”

ARCO Lisboa

Fábrica da Cordoaria Nacional,

Sex.-Sáb/ 12h00-20h00, Dom./ 12h00-18h00

Info completa em http://www.arcolisboa.com