Turismo. Mais de metade das camas instaladas não são vendidas

Turismo. Mais de metade das camas instaladas não são vendidas


Reduzir a sazonalidade, atingir mercados como China ou Austrália e aproveitar novas medidas do Simplex são alguns dos objetivos da estratégia para 10 anos.


O turismo vai continuar a dar cartas no nosso país. As perspetivas de crescimento são animadoras e, de acordo com as estimativas do governo, em 2020 vamos assistir a 1,4 mil milhões de chegadas internacionais e que deverão aumentar para 1,8 mil milhões em 2020. Estes são alguns dos números avançados pelo executivo em parceria com o Turismo de Portugal, que apresentou ontem a estratégia a levar a cabo para a próxima década – a Estratégia Turismo 2027. O objetivo é avançar agora com um debate público, envolvendo agentes de dentro e fora do setor.

A nova estratégia enquadrará o novo quadro comunitário de apoio 2021-2027, já que este setor representa 15,3% das exportações nacionais e representa 8,2% do emprego em Portugal. Ainda assim, as duas entidades admitem que há muito por fazer e que passa por melhorar as taxas de ocupação. “Apesar do crescimento gradual que se verificou desde 2012, este indicador ainda não atingiu o valor obtido em 2007 (50,3%). Mais de metade das camas instaladas em Portugal ficam por ocupar um ano. Em 2015, a procura correspondeu a 49 milhões de dormidas, mas a capacidade instalada permite uma procura de mais 100 milhões de dormidas”, revela o documento. 

A ideia é apostar num crescimento em valor, ou seja, subir as receitas turísticas e aumentar a rentabilidade das empresas. Mas para melhorar este índice, o governo admite que é necessário combater a sazonalidade que ainda é vista como “acentuada”, principalmente no Algarve. A ideia é simples: reduzir o impacto das variações da procura segundo a época do ano. 

Outro aspeto a melhorar diz respeito ao aumento da permanência média dos visitantes. No ano passado, fixou-se nas 2,8 noites, um valor inferior ao que era verificado em 2010 e que se situava nas 3,1 noites.  De acordo com o documento tem “existido dificuldade em aumentar a permanência média dos visitantes”, salienta.

Novos mercados O relatório chama também atenção para o fato do nível de qualificação das pessoas empregadas neste setor serem insuficientes e dá como exemplo a restauração, em que 50% possui instrução ao nível do ensino básico. Além disso, tem-se verificado um decréscimo da população empregada com especial enfoque para a restauração que continua a ser o mais penalizado nos últimos anos. “Entre 2005 e 2015, o emprego no turismo apresentou um crescimento médio anual de 0,4%, próximo da estagnação”, diz o documento.

No entanto, de acordo com o governo, um dos desafios é “promover o emprego, a estabilidade laboral e o aumento dos rendimentos dos profissionais do turismo” e que, segundo os dados do Turismo de Portugal, estão 37% abaixo da média nacional.

Ao mesmo tempo, defende a necessidade de mitigar as assimetrias regionais, distribuindo a oferta para lá de Lisboa, Algarve e Madeira e contrariar a posição de Portugal como um “país periférico”, procurando atingir novos mercados como China ou Austrália. Em marcha está já um programa de captação de novas linhas aéreas.

Por outro lado, é defendido a necessidade de apostar em novas abordagens para dar respostas às exigências dos atuais turistas, como a digitalização da oferta ou a disponibilização de internet em monumentos nacionais.

Outra das estratégias passa por investir na inovação. De acordo com o relatório, é preciso estimular a inovação e empreendedorismo, sobretudo na área da economia digital. Para dar resposta a esta necessidade está em marcha um fundo de 50 milhões de euros 

Está previsto ainda que o setor vá beneficiar das medidas previstas no Simplex+ rumo à desburocratização e simplificação da linguagem e procedimentos a cumprir por quem procura apostar no setor.

Outra preocupação diz respeito à procura de soluções para a “dramática descapitalização das empresas”, como define o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo. Está em marcha um fundo de 60 milhões de euros rumo à qualificação da oferta no setor. Reduzir os custos de contexto, simplificar e desburocratizar e estimular a economia circular no turismo – fiscalidade verde e práticas ambientais sustentáveis – são outras medidas a implementar.