“Não sou capaz de reconhecer as minhas próprias mãos. Elas tremem, mas eu não posso parar de pintar.” Chico é um jovem com esclerose múltipla, que conta com a ajuda do irmão António para superar a batalha do dia-a-dia. Esta história com perto de cinco minutos vai estar hoje em exibição em todas as salas de cinema do país. A curta-metragem “É só uma gripe diferente” venceu a terceira edição do Prémio Curtas Esclerose Múltipla, uma iniciativa da Novartis com o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) que visa sensibilizar para a doença e, ao mesmo tempo, motivar os jovens para usar o audiovisual como plataforma de informação.
A curta que conta a história de Chico e António venceu o prémio do júri. O público também pode votar e, entre 20 curtas a concurso, ganhou “Um dia de Cada Vez”, o testemunho real de Ricardo, de 37 anos, e da sua família e amigos. “É amigo do seu amigo. Está sempre pronto a ajudar. É o melhor pai do mundo”, arranca assim a curta-documentário.
À descoberta da doença Os jovens que venceram os prémios admitem que foram atraídos pelo desafio: não conheciam a doença inflamatória crónica, degenerativa, que em Portugal afeta cerca de 5000 pessoas. José Silva, estudante de cinema na Lusófona e porta-voz da equipa que realizou “É só uma gripe diferente”, acredita que antes deste trabalho eram o espelho da população. “Conhecíamos o nome esclerose múltipla e mais nada.” Estudaram a matéria, entrevistaram doentes e surgiu a ideia de retratar a superação das dificuldades na relação de dois irmãos gémeos, em que a frustração e impaciência vai dando aos poucos lugar a uma maior tranquilidade. “Eu com o meu irmão luto para ganhar”, diz Chico no filme. “Percebemos que muitos doentes acabam por usar a arte: pintam, escrevem, são poetas. Quisemos passar essa mensagem”, explica José Silva, que trabalhou com Fábio e Eduardo Godinho (os irmãos no ecrã), Daniel Ferreira, Concha Silveira, Matilde Vieira e Beatriz Brunelli.
O nome da curta “É só uma gripe diferente” também resulta do que descobriram sobre a doença e mais os impressionou: há pessoas que pensam que é contagiosa e que por isso descriminam os doentes.
O apoio da família José Correia e Ana Rita Costa são a dupla por detrás da curta “Um dia de Cada Vez”. Alunos de ciências de comunicação na Universidade do Porto, foi ponto assente desde o início que queriam ter um testemunho real. Ficaram surpreendidos com a quantidade de grupos no Facebook sobre a doença mas durante largas semanas só conseguiram ter voluntários brasileiros para participar no filme. Tentaram ter a participação de alguém do Porto, até por causa dos custos difíceis de suportar quando se está a estudar, mas a grande salvação para o projeto acabou por ser Ricardo, de Estarreja. Ficaram impressionados acima de tudo com a união da família que vive com esta doença há 14 anos. Mas também com a capacidade de todos aceitarem viver o melhor possível uma “vida de sobressalto”, resume José, uma vez que os surtos da doença por vezes são bastante limitadores. Na curta, a mulher de Ricardo partilha isso mesmo: não fazem grandes planos para férias, preferem aproveitar um dia em que Ricardo está bem para passear. Já o sonho do protagonista é, um dia, levar a filha ao altar e diz estar determinado em chegar até lá apesar de hoje sentir que demora muito mais tempo a realizar as tarefas do dia-a-dia. “Temos de viver o dia-a-dia, um dia de cada vez”, testemunha Ricardo. “Foi incansável, mesmo não tendo nada a ganhar com isso. Pediu a todos os colegas da fábrica para votarem em nós”, diz João. Já tinham planos para voltar a estar com a família no verão mas, agora, parte do prémio está reservado para uma surpresa a Ricardo.
No final da curta, um slide sublinha que é uma das duas milhões de pessoas em todo o mundo diagnosticadas com esclerose múltipla, cujo dia mundial é assinalado hoje.