Anita. Primeiro mudou de nome, agora virou cinquentona

Anita. Primeiro mudou de nome, agora virou cinquentona


Pelo menos em Portugal. É que na Bélgica, o seu país de origem, Anita foi sempre Martine e já vai com 62 anos de idade.


Há um ano, quando foi conhecido que Anita, aquela menina doce e nada traquina, que ensinou – sobretudo o sexo feminino – a ser uma boa dona de casa, a ir às compras e a fazer ballet, passaria a chamar-se Martine, a indignação tornou-se viral (como de resto acontece tão regularmente e em relação a tantos assuntos). A Rádio Comercial, através da rubrica “Mixórdia de Temáticas”, de Ricardo Araújo Pereira, lançou mesmo o movimento “Não Mexam na Anita, Seus Badalhocos!”. Como era, afinal, possível que trocassem o nome a alguém que nos tinha acompanhado durante a infância? Alguém que surgiu em Portugal na década de 1960, uma altura em que poucas eram as publicações dedicadas aos mais novos em Portugal.

Mas a verdade é que esta não era uma mera troca, e antes um regresso à origem. É que a nossa Anita foi sempre Martine no seu país de origem, a Bélgica. Foi aqui que o primeiro livro desta coleção foi publicado, em 1954, com o título original “Martine à la Ferme” (em Portugal viria a ser “Anita na Quinta”), com texto do escritor e poeta francês Gilbert Delahaye e ilustrações do belga Marcel Marlier.

Cerca de 12 anos depois, há precisamente meio século, Martine chegava a Portugal, e de repente ganhava um novo nome: Anita. Em pleno Estado Novo, com Salazar ao comando dos desígnios do país, o primeiro livro da coleção lançado no nosso país foi “Anita Dona de Casa”, muito adequado para um país que procurava criar jovens mulheres recatadas e prestáveis no lar.

Para assinalar os 50 anos da coleção Anita – agora Martine – em Portugal, a editora Zero a Oito acaba de lançar uma nova coleção vintage, que se junta aos já mais de dez títulos que usam o nome Martine, lançados no nosso país. Este “Clássicos da Martine” recupera as versões originais dos livros tal e qual como foram criados por Gilbert Delahaye e Marcel Marlier há mais de 60 anos. No total serão seis livros, dos primeiros a serem lançados na coleção, que agora regressa com um grafismo ligeiramente modernizado, sem no entanto pôr em xeque a memória de todos os que cresceram com Martine. Aliás, com Anita.