Rígido no treino, controlador com os jogadores e polémico nas palavras, Van Gaal será substituído pelo seu aprendiz no Barcelona, José Mourinho, segundo a imprensa inglesa
O treinador holandês Louis van Gaal é um incompreendido em Inglaterra (com e sem razão, atenção). Primeiro porque foi o escolhido para substituir David Moyes no comando do Manchester United – que tinha ficado em sétimo lugar em 2013/14 – e agora vai-se embora com poucas conquistas para celebrar e sem acabar o seu contrato de três anos. Depois porque no seu currículo coleciona um número de troféus de fazer inveja (uma Liga dos Campeões e uma Taça UEFA pelo Ajax, dois campeonatos pelo Barcelona, um campeonato e uma taça da Alemanha pelo Bayern de Munique…) e que tinha tudo para convencer os adeptos de Old Trafford, depois de Alex Ferguson se ter retirado do futebol após uns longos e felizes 26 anos à frente dos red devils. O holandês será também substituído, não por um inglês, mas sim por um português, o treinador José Mourinho, que está desempregado depois de ter deixado o Chelsea em dezembro do ano passado, como avançou (e tem avançado insistentemente) a imprensa inglesa.
Mas tal como com Moyes, o também ex-selecionador da Holanda, apesar de ter gasto à volta de 250 milhões de euros em transferências nestes dois anos – só em Ángel Di María, que agora joga no Paris Saint-Germain (PSG) após uma época de má memória em terras de sua majestade, foram perto de 75 milhões de euros –, não aguentou com o peso do legado de Ferguson, só tendo conquistado um título – a Taça de Inglaterra contra o Crystal Palace (2-1) no passado sábado, o primeiro troféu desde 2013 –, com um quarto e quinto lugar no campeonato e uma prestação para esquecer nas competições europeias.
Van Gaal, o polémico O que fica? Uma série de conferências de imprensa polémicas, discussões com jornalistas – chegou a chamar “gordo” a um repórter do jornal britânico “The Sun” – e outros momentos caricatos como as referências sexuais sobre quando devemos agarrar o cabelo de outra pessoa (só no sexo masoquista é que é permitido, segundo o próprio). Ou a vez em que se atirou para o chão durante o jogo contra o Arsenal (3-2 para os gunners), para demonstrar ao árbitro como os jogadores de Arsène Wenger estavam a dar “mergulhos” para o campo. Isso e uma equipa desunida do seu líder, a jogar muito pouco futebol.
A juntar a algumas prestações dramáticas (na primeira mão dos dezasseis-avos-de-final da Liga Europa chegou a perder com os dinamarqueses do FC Midtylland por 2-1), Louis impôs um método de treino que não deixou o seu plantel muito contente. “Uma fonte perto do clube diz que no regime restrito de Van Gaal faziam-se treinos às 8h30, depois os jogadores seguiam para o quarto, para logo fazerem um treino pós-almoço seguido de uma sessão de discussão e de táticas com recurso às novas tecnologias, finalizado com uma ida para cama às 21h30.” Foi assim que decorreu a pré-época de 2014/2015 do United, que não deixou os jogadores satisfeitos, como conta o diário britânico “The Guardian”. Resultado? O pior início de temporada de há 25 anos.
Van Gaal, o controlador Segundo o jornal, as táticas e os métodos escolhidos pelo holandês também não agradaram às suas tropas – em setembro de 2015, Louis disse que os fãs gritavam “o exército de Louis van Gaal” – e até jogadores experientes como Wayne Rooney e Michael Carrick chegaram a demonstrar preocupação ao treinador holandês pela forma como conduzia a equipa. A sua “filosofia” que serviria para trabalhar “os jogadores no cérebro”, como o próprio disse à chegada ao clube inglês, levou-o a crucificar jogadores à frente uns dos outros, a enviar emails a demonstrar as falhas ao seu plantel, a utilizar câmaras ocultas nos treinos e a fazer com que a sua equipa jogasse demasiadas vezes para trás. Ou seja, a lavagem cerebral e o controlo tiveram um resultado indesejado. “A certa altura, o United tinha uma percentagem de passes para trás maior do que qualquer clube da liga inglesa. E desde a temporada de 1989/90 que não eram tão pouco produtivos: 49 golos no campeonato.”
O seu antigo braço direito português noBarcelona entre 1997 e 2000 parece estar na calha para o substituir – ambos polémicos, ambos vencedores noutras épocas e perdedores este ano. De Mourinho, que tem evitado comentar o seu potencial novo emprego, esperava-se que ontem fosse anunciado como o novo técnico do United, mas ainda não foram tomadas decisões finais, depois de Van Gaal ter estado o dia todo em negociações com a administração dos red devils sobre os termos financeiros do seu despedimento, como contou a SkySports. O ex-jogador galês Ryan Giggs (e adjunto do holandês nas últimas duas épocas) também será outro elemento que poderá sair do clube que representa desde os 13 anos.
Poderá ser um reencontro com Pep Guardiola, que vai comandar o Manchester City? Talvez, e Mourinho pode vir a ter a ajuda do avançado sueco Zlatan Ibrahimovic, que saiu do PSG e, segundo o jornal sueco “Aftunbladet”, pode pendurar as botas para assistir o português em Inglaterra.